domingo, 11 de setembro de 2011

A Grande comissão:

privilégios e responsabilidades

Felippe Amorim

O que você diria se descobrisse agora que só tem mais dez minutos de vida? Quais seriam as suas últimas recomendações, saudações, pedidos? As últimas palavras de uma pessoa geralmente são as mais importantes de sua vida.

Embora todas as palavras de Cristo sejam importantes, as últimas certamente têm algo de mais especial. O que Jesus deixou como última lição para a humanidade antes de sua partida para o santuário celestial?

O evangelista Mateus registrou assim: E, aproximando-se Jesus, falou-lhes, dizendo: Foi-me dada toda a autoridade no céu e na terra. Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a observar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos.(28: 18-20)

Sem dúvida, esta é uma missão desafiadora e vem acompanhada de grandes responsabilidades. Mas foi para isso que Deus nos chamou: “A igreja é o instrumento apontado por Deus para a salvação dos homens. Foi organizada para servir, e sua missão é levar o evangelho ao mundo” (Atos dos apóstolos, 9)

Toda missão envolve pelo menos três elementos: O preparo, a estratégia e o Líder. Encontramos os três na grande comissão de Cristo.

O preparo



O texto começa dizendo que Jesus “aproximou-se” dos discípulos. Nada está na Bíblia por acaso. Existe uma mensagem nesta expressão. O primeiro passo no preparo para cumprir a missão de Cristo envolve aproximação com o Mestre.

Não há fórmula mágica para fazer isso, é através da oração e estudo das escrituras que podemos estar próximo de Cristo.

O Próprio Senhor nos deu o exemplo: “Cristo não fez um serviço limitado. Não mediu o trabalho por horas. Seu tempo, Seu coração, Sua alma e força foram dadas ao trabalho para o bem da humanidade. Passava os dias em trabalho fatigante; transcorria longas noites prostrado em oração, pedindo graça e paciência para poder fazer um trabalho mais amplo. Com fortes gemidos e lágrimas, dirigia Suas petições ao Céu, para que fosse fortalecida a Sua natureza humana, a fim de poder estar preparado a lutar contra o inimigo e fortalecido para cumprir a missão de melhorar a humanidade. Cristo disse aos Seus obreiros: "Eu vos dei o exemplo, para que, como Eu vos fiz, façais vós também." João 13:15” (Ciência do Bom Viver, 500)

Essa aproximação com Cristo tem um propósito. Somente através dela podemos dar o próximo passo. Jesus disse: “Toda autoridade foi-me dada no céu e na terra”(v.8). Jesus foi investido com a autoridade do céu devido à sua vitória no plano da redenção. Certamente Cristo não cita sua autoridade aqui para exaltar-se, ele quer nos dar um recado. Devemos tomar posse desta autoridade. A palavra “portanto” nos indica que o que virá a seguir decorre e depende da autoridade de Cristo.

O medo é superado pela autoridade de Cristo. As barreiras serão derrubadas pela autoridade de Cristo. É por Sua autoridade que enfrentaremos as forças do mal e sairemos vencedores. É bom frisarmos que autoridade é somente dEle e por isso nenhum evangelista tem motivo para orgulhar-se.

Possuindo um preparo como este apresentado por Jesus, podemos partir para a estratégia de trabalho. O grande estrategista, Jesus Cristo, apresenta-a a nós.

A estratégia

O Senhor começa com uma palavra simples e profunda: “Ide”. Esta expressão nos dá ideia de movimento. Ninguém que esteja parado espiritualmente poderá cumprir a missão. É necessário sair da zona de conforto, deixar o banco da igreja “esfriar” um pouco e partir para o campo de trabalho.

“Quando Abraão foi chamado para tornar-se semeador da semente da verdade, foi-lhe ordenado: "Sai-te da tua terra, e da tua parentela, e da casa de teu pai, para a terra que Eu te mostrarei." Gên. 12:1. "E saiu, sem saber para onde ia." Heb. 11:8. Assim também recebeu Paulo a ordem divina, enquanto orava no templo em Jerusalém: "Vai, porque hei de enviar-te aos gentios de longe." Atos 22:21. Assim todos os que são chamados para unir-se a Cristo, precisam deixar tudo para segui-Lo. Velhas relações precisam ser cortadas, planos de vida abandonados, esperanças terreais renunciadas. Com trabalho e lágrimas, na solidão e por sacrifício, deve a semente ser lançada” (parábolas de Jesus, 37).

Há algum tempo escutei uma expressão interessante. “A igreja está obesa”. A pessoa estava se referindo ao fato de muito cristãos viverem apenas de “consumirem” sermões e não fazer nada em prol da obra de Deus. Para não fugir da metáfora, obesidade é causada, dentre outras coisa, por falta de atividade física, ou seja, a igreja está “obesa” porque se alimenta, mas fica parada. O pior é que obesidade pode fazer adoecer e até levar à morte. Precisamos de exercícios espirituais com urgência.

O segundo passo da estratégia é: “Fazei discípulos”. O discípulo é aquele que segue o mestre. Nosso primeiro objetivo em relação àqueles que não conhecem a Cristo é fazê-los seguidores dEle. Devemos motivá-los a isso. O apóstolo Paulo nos indica o caminho para influenciarmos pessoas. “Pois o amor de Cristo nos constrange” ( II Cor. 5:14). Fazer as pessoas entenderem o tamanho do amor de Jesus por elas e o presente da Salvação é o caminho. Quando elas entenderem a dádiva que receberam, elas o seguirão. A primeira lição é a da Justificação pela fé na Graça.

O discípulo não conhece tudo de seu mestre nos primeiros contatos, mas, entende que deve segui-lo irrestritamente e por isso aprenderá cada dia mais no decurso do caminho. Os ensinamentos básicos devem ser passados para o novo converso e o restante ele aprenderá com o tempo, pois, “a vereda dos justos é como a luz da aurora que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito”(Pv 4:18). Sendo assim, poderemos passar para o próximo passo.

“Batizando-os em nome do pai, do Filho e do Espírito Santo”. Segundo o que Cristo nos ensinou, não é necessário que a pessoa tenha todo o conhecimento da Bíblia para dar o passo do batismo. A doutrina da salvação deve ser explicada com riqueza de detalhes, pois do bom entendimento dela deriva uma vitoriosa vida cristã. Quando entendemos o que Deus fez por nós, ficamos tão gratos que queremos retribuir com obediência irrestrita. As evidências do preparo de uma pessoa para o batismo são: conhecimento básico da vontade do Mestre e disposição para segui-Lo onde for. Uma pessoa assim facilmente aceitará as outras doutrinas que ainda não domina.

Sem dúvida é importante que ela conheça as exigências da vida cristã antes do batismo, para que possa avaliar criteriosamente a decisão que tomará. Porém, o texto bíblico nos sugere que depois do batismo é que ela aprenderá a guardar as doutrinas e normas cristãs. Cristãos que têm anos como discípulos ainda não compreendem tudo. Os discípulos de Cristo após três anos de aulas intensivas com o criador da teologia, Jesus, ainda não compreendiam bem a cruz e a natureza do reino de Deus. Por que deveríamos nós exigir um conhecimento perfeito daqueles que são apenas embriões espirituais? A consolidação do conhecimento virá na sequência das palavras inspiradas.

O próximo passo é efetivado logo em seguida: “Ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado”. Após o batismo a pessoa precisa continuar sendo instruída na palavra de Deus. Até que ela aprenda “todas as coisas”. Isso envolve todas as doutrinas bíblicas, reforma de saúde, regras de vestuário, liturgia e, inclusive, o “Ide”.

Esta estratégia é infalível. Mas para podermos cumpri-la, precisamos da companhia do Grande Líder.

O Líder

Em um discurso é apropriado que o melhor sempre fique para o final. Jesus fez isso. Terminou suas instruções dizendo: “Estarei convosco todos os dias até a consumação dos séculos”.

Esta é uma promessa condicional. Somente quem está cumprindo o “Ide” pode reclamá-la. “É fazendo a obra de Cristo que a igreja tem a promessa de Sua presença. Ide, ensinai a todas as nações, disse Ele; "e eis que Eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos" Mat. 28:20. Tomar o Seu jugo é uma das primeiras condições para receber-Lhe o poder. A própria vida da igreja depende de sua fidelidade em cumprir a comissão do Senhor. Certo, negligenciar essa obra é convidar a fraqueza e a decadência espirituais. Onde não há ativo trabalho em benefício de outros, o amor diminui e definha a fé”. (Desejado de Todas as Nações, 825)

Uma igreja ou um cristão parado não pode ter a certeza de que está na constante companhia do divino salvador. Mas aqueles, que usando os seus dons, trabalham na pregação do evangelho, podem ter a segurança de terem como líder em suas empreitadas evangelísticas o Senhor dos exércitos, o qual nunca perdeu uma batalha.

Você já se perguntou o que Deus sente por um cristão que não cumpre o “ide”? Imagine a seguinte situação: Um Pai mandou seu pequeno filho para um acampamento de verão. Por um descuido seu filho foi para uma parte mais funda de um rio e começou a se afogar. Enquanto seu filho se debate na água alguém liga para o pai e o avisa do que está acontecendo. Ele pega seu carro e parte para o local do acampamento. Quando o pai chega, recebe a notícia que seu filho morreu afogado e que a menos de um metro dele havia um adulto que, se estendesse a mão, poderia salvá-lo.

Quais os sentimentos do pai em relação ao adulto que não fez coisa alguma para salvar seu filho? Ira, ódio e muitos outros sentimentos naturais do ser humano.

Se um humano pecador se sentiria assim, como você acha que Deus se sente em ralação a um cristão que poderia ter feito algo para salvar um filho dEle e não o faz? Deus cobrará no dia do juízo final cada omissão em relação à missão que ele deixou para cada um de nós. “Os sofrimentos de cada homem são os sofrimentos de um filho de Deus, e os que não estendem a mão em socorro de seus semelhantes quase a perecer, provocam-Lhe a justa ira. Esta é a ira do Cordeiro. Aos que professam ser companheiros de Cristo, e todavia se têm mostrado indiferentes às necessidades dos semelhantes, declarará Ele no grande dia do Juízo: "Não sei de onde vós sois; apartai-vos de Mim, vós todos os que praticais a iniquidade." Luc. 13:27” (Desejado de Todas as Nações, 826)

Aqueles que estão se empenhando na missão de Deus, não devem se preocupar com o juízo. A perspectiva destes é outra.

Quando chegarmos ao céu o primeiro abraço que procuraremos dar certamente será em Jesus. Vamos querer agradecê-lo pelo sacrifício no calvário, único motivo de estarmos lá. Mas o segundo abraço que vamos dar certamente será naquele que nos ajudou a conhecermos a mensagem da cruz. Você consegue se imaginar recebendo muitos abraços de pessoas emocionadas lhe agradecendo por tê-las apresentado a Jesus? Por que não começar o trabalho agora mesmo e reservar muitos abraços para aquela primeira manhã na Nova Jerusalém? Deus quer nos dá este privilégio. Comece agora.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Transformação possível

Felippe Amorim





Algumas pessoas lutam contra seus defeitos de caráter, mas, frequentemente, perdem a batalha. Há coisas em sua personalidade que prejudicam a elas e às pessoas que estão ao seu redor.

Certamente elas reconhecem que precisam mudar suas atitudes e até tentam, mas em pouco tempo repetem-nas de forma que magoam a si mesmas e ao semelhante. O que acontece com essas pessoas? Por que é tão difícil mudar traços de personalidade defeituosos? Como podemos melhorar nossa personalidade de forma que não machuquemos mais quem está ao nosso redor?

Jesus contou uma parábola que nos ajuda a encontrarmos uma resposta para nossa pergunta. Está registrada em Mateus 13:33: “Outra parábola lhes disse: O reino dos céus é semelhante ao fermento que uma mulher tomou e misturou com três medidas de farinha, até ficar tudo levedado”.

Quando Jesus pronunciou esta parábola estava cercado de pessoas de todas as classes. Ricos, pobres, fariseus, publicanos, ladrões, pessoas precisando de cura física etc. Havia, porém, uma coisa em comum entre todas elas. Cada uma tinha algo em sua personalidade que não estava de acordo com o que Deus planejara e precisavam mudar estes traços.

O Senhor sabendo disso, através da metáfora do fermento, mostrou-lhes como esse processo de mudança se daria. Naquele momento, o fermento não representava o pecado, como era costumeiro entre eles. O fermento representava a palavra de Deus. A massa era a vida de cada um deles.

A primeira coisa que precisamos observar é que o fermento é algo externo à massa e precisa ser colocado lá por outra pessoa, pois a massa não o pode fazer. Outra coisa importante é que o fermento fará a transformação na massa de dentro para fora.

Todas as pessoas que ouviam Jesus necessitavam entender que a palavra do Senhor era o fermento que poderia modificar a vida. Os defeitos de caráter que existiam naquela “massa” só seriam modificados se elas permitissem que Jesus introduzisse nelas os seus ensinamentos.

Cada um de nós precisa aprender esta lição. Nossos defeitos de caráter machucam a nós mesmos e àqueles que convivem conosco e por isso precisam ser abandonados.

“Frequentemente surge a questão: Por que, pois, há tantos pretensos crentes na Palavra de Deus, nos quais não se vê uma reforma na linguagem, no espírito e no caráter? Por que há tantos que não podem sofrer oposição a seus propósitos e planos, que manifestam temperamento não santificado, e cujas palavras são rudes, insultuosas e apaixonadas? Vê-se em sua vida o mesmo amor-próprio, a mesma condescendência egoísta, a mesma índole e linguagem precipitada, vistos na vida do mundano. Há o mesmo orgulho sensitivo, a mesma entrega ao pendor natural, a mesma perversidade de caráter, como se a verdade lhes fosse inteiramente desconhecida. A razão é que não são convertidos. Não esconderam no coração o fermento da verdade. Não teve ele oportunidade de realizar sua obra. Suas tendências naturais e cultivadas para o mal não foram subjugadas a seu poder transformador. A vida dessas pessoas revela a ausência da graça de Cristo, uma descrença em Seu poder de regenerar o caráter”. (Parábolas de Jesus, 100)

Três coisas são essenciais para a mudança: Primeiro é necessário QUERER que o fermento aja, depois precisamos ABRIR o coração para que o fermento seja colocado dentro dele e terceiro é necessário PERMITIR que o fermento nos transforme.

Todos aqueles que precisam modificar um mau traço de caráter tem que entrar em contato diário com a Palavra de Deus, pois, “A fé é pelo ouvir, e o ouvir pela Palavra de Deus."(Rom. 10:17). Cristo orou assim: "Santifica-os na verdade; a Tua Palavra é a verdade." (João 17:17). “Estudada e obedecida, a Palavra de Deus atua no coração, subjugando todo atributo não santificado” (Parábolas de Jesus, 100).

Para sermos mais parecidos com Jesus só há um jeito: “Recebido no coração, o fermento da verdade regulará os desejos, purificará os pensamentos e dulcificará a índole. Vivifica as faculdades do espírito e as energias da alma. Aumenta a capacidade de sentir, de amar” (Parábolas de Jesus, 101)

Todos nós temos traços de caráter que necessitamos mudar. Há coisas em nós que prejudicam outras pessoas. Somente deixando Cristo agir em nós através de Sua palavra é que conseguiremos transformação. “Como purificará o jovem o seu caminho? Observando-o de acordo com a tua palavra [...] Escondi a tua palavra no meu coração, para não pecar contra ti”. (Salmo 119: 9,11)

Deus quer fazer de nós uma massa linda e que abençoe quem está ao nosso redor. A parte mais difícil desse processo Ele faz. Para nós resta apenas uma tarefa. Entrar em contato diário com o fermento que nos transformará, ou seja, estudar mais a Bíblia com oração. O resultado será uma vida cada vez mais parecida com a vida de Cristo.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011


O sono que enfraqueceu um homem

Felippe Amorim




Não sei se com você acontece o mesmo que se passa comigo. Procuro acordar cedo todos os dias para ter alguns momentos de intimidade com Deus. Quando ouço o despertador logo levanto para desligá-lo, mas todos os dias me vem uma tentação de voltar para a cama e dormir um pouco mais. Quando cedo a esta tentação sempre acordo atrasado para sair para o trabalho.

Quando este “fenômeno” acontece minha comunhão naquele dia fica comprometida, porque o dia cheio de atividades dificulta ter um momento a sós com Deus. O Senhor espera que nós o busquemos pela manhã. A vida do salmista é um exemplo para nós: “Pela manhã ouves a minha voz, ó Senhor; pela manhã te apresento a minha oração, e vigio” (Sl 5:3). Nas horas tranquilas da manhã podemos nos alimentar com o sólido alimento vindo dos céus.

Pedro: Fraqueza frente ao pecado


A Bíblia nos apresenta uma história de derrota frente ao pecado que nos ajuda a tirarmos algumas lições importantes. Pedro não conseguiu ter forças quando foi tentado durante o julgamento de Cristo.

Jesus estava sendo humilhado em seus últimos momentos do ministério terrestre. Enquanto isso Pedro o observava de longe (Lc. 22:54). Pedro agiu como alguns cristãos modernos. Não têm coragem de abandonar a fé definitivamente, mas segue Jesus de longe. Na prática são pessoas que frequentam os cultos na igreja toda semana, mas no trabalho, na escola, na faculdade se comportam como se nunca conhecessem a Jesus. Aliás, essas pessoas não precisam falar que não conhecem a Jesus, suas ações “gritam” essa informação para o mundo.

As pessoas que estavam próximas a Pedro rapidamente o identificaram como um daqueles que andavam com Cristo. A convivência com o Senhor, imperceptivelmente, transformou aquele Pedro impetuoso em alguém que falava de forma parecida com Deus. É assim que acontece conosco, quando convivemos com Jesus, através da Bíblia e da oração, nos parecemos cada dia mais com Ele.

Naquele momento, ao ser confrontado pelas pessoas, Pedro fez tudo o que podia para negar que andou com Cristo. Cometeu um tremendo pecado. Negou veementemente três vezes a Jesus. “Virando-se o Senhor, olhou para Pedro; e Pedro lembrou-se da palavra do Senhor, como lhe havia dito: Hoje, antes que o galo cante, três vezes me negarás. E, havendo saído, chorou amargamente” (Lc 22: 61,62).

A causa da fraqueza


Sempre ouvimos que aqueles que vivem com Jesus são fortes contra a tentação. Mas quando olhamos para a experiência do apóstolo Pedro, inevitavelmente vem uma pergunta: como alguém que andava com Jesus, ouvia seus ensinamentos pôde cometer um pecado tão grande? O que houve de errado com Pedro?

Encontramos a resposta em Mateus 26:40: “Voltando para os discípulos, achou-os dormindo; e disse a Pedro: Assim nem uma hora pudestes vigiar comigo?”.

Pedro havia sido convidado por Jesus para ir ao Jardim do Getsêmani. Era um momento de muita angústia para o Senhor e de definição para o destino eterno do planeta. Naquele dia Jesus estava sofrendo a forte tentação de desistir do plano da salvação. Caso isso acontecesse todos nós estaríamos eternamente perdidos. A angústia era tamanha que Jesus suou sangue e, quase esgotado fisicamente, cambaleou em direção ao Seu lugar de oração. Levou alguns dos seus discípulos, dentre eles Pedro.

A união de Cristo com o Pai O deu forças para dar continuidade à nossa redenção: “Então [Jesus] toma a decisão definitiva: salvará o homem a qualquer custo. Ele deixou as cortes celestes onde tudo era pureza, felicidade e glória para salvar a única ovelha que se perdera, o único dentre os mundos criados que caíra em pecado e não abandonaria Seu propósito. Sua prece agora transpira apenas submissão: "Meu Pai, se não é possível passar de Mim este cálice sem que Eu o beba, faça-Se a Tua vontade." Mat. 26:42.” (Vida e Ensinos, 105)

A atitude dos discípulos naquele momento foi bem diferente da atitude de seu Mestre. Quero colocar o foco em Pedro. Jesus o havia advertido para orar, pois enfrentaria momentos difíceis. Mas ao invés de obedecer ao conselho de Cristo ele, vencido pelo cansaço, foi dormir. Enquanto deveria vigiar e orar Pedro estava dormindo, este foi o grande erro de Pedro. É verdade que eles estavam cansados, precisavam dormir. Mas dormir, naquele momento, não era a prioridade. Mesmo assim, Pedro deu prioridade ao sono e deixou a comunhão em segundo plano.

Aquela decisão teve uma consequência imediata: na hora da prova, faltou força. “Fora por dormir quando Jesus lhe recomendara vigiar e orar, que Pedro preparara o caminho para seu grande pecado. Todos os discípulos, dormindo na hora crítica, sofreram grande dano. Cristo sabia a cruel prova por que eles haviam de passar. Sabia como Satanás havia de agir para lhes paralisar os sentidos, a fim de se acharem desapercebidos para a prova. Fora por isso que lhes dera aviso. Houvessem aquelas horas no horto sido passadas em vigília e oração, e Pedro não teria ficado dependente de suas débeis forças. Não teria negado a seu Senhor” (Desejado de Todas as Nações, 714).

Uma hora a menos de sono não teria feito nenhuma diferença na vida física de Pedro. Mas uma hora a menos de oração, fez toda a diferença, para o mal, na vida espiritual dele.

Nossa decisão: força ou fraqueza?

A experiência de Pedro deve nos levar a profundas reflexões. A Bíblia diz “Sede sóbrios, vigiai. O vosso adversário, o Diabo, anda em derredor, rugindo como leão, e procurando a quem possa tragar;” (I Pe. 5:8). Todos os dias o inimigo de Deus, sabendo que seu destino eterno já está definido, tenta nos arrastar para o seu lado. Ele sabe que não pode vencer Jesus, então tenta atingir o Senhor derrotando os Seus amados filhos.

Costumo dizer que Satanás não tem uma fábrica de tentações. Ele tem uma manufatura de tentações, ou seja, elas saem personalizadas. Ele ataca cada um em seu ponto fraco. Por isso, devemos estar alerta a cada momento, do contrário seremos derrotados pelo inimigo.

Não existe outra forma de obtermos forças contra as tentações. Somente a ligação com o céu nos fortalece. A vida devocional de Jesus é um exemplo para nós. Ellen White diz: “Vede o Filho de Deus curvado em adoração a Seu Pai! Conquanto seja o Filho de Deus, robustece Sua fé por meio da prece, e mediante a comunhão com o Céu traz a Si mesmo força para resistir ao mal e ministrar às necessidades dos homens”(Atos dos Apóstolos, 56).

Mesmo diante de um dia muito atarefado, Jesus Cristo não negligenciava a comunhão. “O dia todo labutava Ele, ensinando o ignorante, curando o enfermo, dando vista ao cego, alimentando a multidão; e na vigília da noite, ou cedo de manhã, saía para o santuário das montanhas, em busca de comunhão com Seu Pai. Passava por vezes a noite inteira a orar e meditar, voltando ao raiar do dia ao Seu trabalho entre o povo”. (Desejado de Todas as Nações, 260)

Se Jesus, o próprio Deus, precisava passar momentos em oração para aprofundar sua comunhão com o Pai, quanto mais nós pecadores. Somos convidados a passar tempo com Deus. Ellen White aconselha: Far-nos-ia bem passar diariamente uma hora a refletir sobre a vida de Jesus. Deveremos tomá-la ponto por ponto, e deixar que a imaginação se apodere de cada cena, especialmente as finais. Ao meditar assim em Seu grande sacrifício por nós, nossa confiança nEle será mais constante, nosso amor vivificado, e seremos mais profundamente imbuídos de Seu espírito. Se queremos ser salvos afinal, teremos de aprender ao pé da cruz a lição de arrependimento e humilhação. (Desejado de Todas as Nações, 83)

Alguns cristãos cometem literalmente o mesmo erro de Pedro. Preferem passar uma hora a mais na cama a levantar-se e passar tempo em comunhão com Deus. Isso é um tremendo prejuízo espiritual. Cristo mais uma vez dá o exemplo. “O alvorecer encontrava-O muitas vezes em algum lugar retirado, meditando, examinando as Escrituras, ou em oração. Com cânticos saudava a luz da manhã. Com hinos de gratidão alegrava Suas horas de labor, e levava a alegria celeste ao cansado e ao abatido” (Ciência do Bom Viver, 52)

Algumas pessoas negligenciam a sua comunhão por causa de outras “horas de sono”. Passam horas na frente do aparelho de televisão, mas não dedicam tempo à leitura da Bíblia. Outros passam a noite inteira na internet, mas acham muito tempo passar trinta minutos em oração. Passam horas assistindo partidas desportivas, mas se o culto no sábado passa um pouco do tempo ficam impacientes e reclamando.

Não podemos perder a consciência de que estamos no meio do Grande Conflito. As forças do bem e do mal estão ininterruptamente brigando e o motivo dessa disputa é o domínio da mente humana. No conflito cósmico o vencedor da guerra já está definido, Deus já venceu. Mas em nossa vida a batalha ainda não está definida. Nem Deus nem Satanás têm autoridade de definir isso por nós. Nós decidimos. O tempo que passamos em comunhão com o Criador é que definirá de que lado estamos nesta batalha.
Quanto tempo você passou em oração hoje? Nesta última semana, quantas vezes você acordou um pouco mais cedo para passar uma hora em comunhão com Cristo? Se suas respostas a estas perguntas não são muito satisfatórias, então peça a Deus perdão e forças. Deus é o maior interessado em comungar conosco, mas os mais beneficiados somos nós, pois são nestes momentos que adquirimos forças para vencermos as batalhas do cotidiano. Reserve a primeira hora da próxima manhã para sua comunhão pessoal e nunca mais abandone este hábito.