segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Jesus e a Páscoa


Felippe Amorim





Vivemos em uma época na qual tudo se torna mercadoria. Hoje as pessoas vendem de tudo, conhecimento, autoimagem, marcas, ideias etc.

A intenção deste mundo capitalista é transformar tudo em um produto que possa ser comercializado. Isso aconteceu inclusive com as festas de cunho religioso. Uma delas que, para a maioria das pessoas, praticamente perdeu seu sentido original é a páscoa.

Quando esta festa vai se aproximando, ouvimos mais a respeito de ovos de chocolate, coelhinhos e presentes do que do verdadeiro sentido da páscoa, o sacrifício de Jesus.

A páscoa é uma festa que precede à era cristã. Ela era a principal festa judaica dos tempos do Antigo testamento. Era celebrado no 14º dia de nisã, primeiro mês do ano religioso hebraico (meio de março e início de abril do nosso calendário).

Nesta data todos os judeus deveriam ir à Jerusalém para as celebrações. Milhares de pessoas ocupavam as ruas de Jerusalém. Jesus também frequentava esta festividade porque era um judeu e também porque a páscoa era uma sombra do que Ele próprio representaria para o mundo.

A Bíblia registra claramente três momentos nos quais Jesus esteve presente nas celebrações da páscoa. Cada uma dessas ocasiões tem uma mensagem importante para cada cristão do século XXI.

O surgimento da páscoa



A celebração da páscoa foi instituída no final do período de cativeiro dos judeus no Egito. Durante quatrocentos anos os judeus estiveram no Egito. Destes, os últimos trezentos foram de opressão, pois, “levantou-se um novo rei sobre o Egito, que não conhecia a José” (Êxodo 1:8). Deus estava no processo de libertação do povo, mas a Bíblia diz que o coração do faraó estava endurecido (Exodo 7:14). Foram enviadas, então, dez pragas como forma de avisos do poder e desejo de Deus, mas cada vez mais o coração de Faraó se endurecia.

O Senhor então planejou enviar a décima praga. Mas, antes de enviá-la, tomou providências para proteger Seu povo.

A última praga seria a morte de todos os primogênitos. Moisés foi avisado e transmitiu o recado: “Disse mais Moisés: Assim o SENHOR tem dito: Å meia noite eu sairei pelo meio do Egito; E todo o primogênito na terra do Egito morrerá, desde o primogênito de Faraó, que haveria de assentar-se sobre o seu trono, até ao primogênito da serva que está detrás da mó, e todo o primogênito dos animais” (Êxodo 11:4-5).

A praga era destinada apenas para aqueles que não se submetessem às condições de salvação de Deus. Em Sua misericórdia, o Senhor providenciou o livramento para os seus fiéis.

Por ser soberano, Deus estabeleceu o início do calendário do Seu povo: “Este mesmo mês vos será o princípio dos meses; este vos será o primeiro dos meses do ano” (Ex.12:2). Além disso, também explicou como os Israelitas deveriam proceder para não serem atingidos pela décima praga.

“Falai a toda a congregação de Israel, dizendo: Aos dez deste mês tome cada um para si um cordeiro, segundo as casas dos pais, um cordeiro para cada família. Mas se a família for pequena para um cordeiro, então tome um só com seu vizinho perto de sua casa, conforme o número das almas; cada um conforme ao seu comer, fareis a conta conforme ao cordeiro. O cordeiro, ou cabrito, será sem mácula, um macho de um ano, o qual tomareis das ovelhas ou das cabras” (Êxodo 12:3-5).

Para que a simbologia fosse perfeita, todas as recomendações deveriam ser obedecidas à risca. Porém apenas a morte do cordeiro não era suficiente. Havia mais uma instrução: “e tomarão do sangue, e pô-lo-ão em ambas as ombreiras, e na verga da porta, nas casas em que o comerem” (Êxodo 12:7). Somente a casa que estivesse com o sangue do cordeiro na porta estaria salva da praga.

Dessa forma se estabeleceu a páscoa: “Assim, pois, o comereis: Os vossos lombos cingidos, os vossos sapatos nos pés, e o vosso cajado na mão; e o comereis apressadamente; esta é a páscoa do SENHOR” (Êxodo 12:11). Ela seria um símbolo de libertação por isso deveriam comê-la como se estivessem prontos para viajar.

Nunca mais o povo deveria esquecer que naquela noite Deus os livrou do cativeiro e da morte por causa do sangue do cordeiro.

A primeira páscoa de Cristo.



A primeira vez que a Bíblia registra Jesus Cristo participando das celebrações da páscoa em Jerusalém, nosso Senhor tinha doze anos ”Ora, seus pais iam todos os anos a Jerusalém, à festa da páscoa. Quando Jesus completou doze anos, subiram eles segundo o costume da festa; e, terminados aqueles dias, ao regressarem, ficou o menino Jesus em Jerusalém sem o saberem seus pais” (Lucas 2: 41-43).

Provavelmente aquela foi a primeira páscoa de Jesus em Jerusalém. Era costume dos judeus levar as crianças do sexo masculino para Jerusalém pela primeira vez aos doze anos, um ano antes do menino se tornar ritualmente adulto.

O relato diz que quando as festividades terminaram, Jose e Maria retornaram para Nazaré, mas Jesus ficou para trás.

Provavelmente aconteceu um grande mal entendido que acabou gerando toda a situação descrita. Muita gente ia para Jerusalém na semana da páscoa, as estradas e hospedarias ficavam superlotadas. Certamente havia saído uma caravana de Nazaré em direção a Jerusalém e Jesus ia nela com sua família. Possivelmente, cem ou mais pessoas estavam juntas naquela caravana.

Segundo o costume da época, homens e mulheres viajavam em grupos separados. No final da festa, quando a caravana começou a trilhar o caminho de volta, Maria e José pensaram que Jesus estava ou com um ou com o outro. Por isso passaram um dia inteiro sem dar falta do menino.

Quando sentiram falta de Jesus, começaram a procurar em todos os lugares, “procuravam-no entre os parentes e conhecidos” (Lucas 2:44). Estavam procurando Jesus nos lugares errados.

Muitas pessoas procuram a Jesus com real desejo de encontra-lo. Mas não O encontram porque O procuram em lugares errados. Foi assim com José e Maria. ”Grande honra lhes conferira Deus em confiar-lhes Seu Filho. Santos anjos tinham dirigido a José, a fim de proteger a vida de Jesus. Mas, por um dia inteiro haviam perdido de vista Aquele a quem não deviam ter esquecido nem por um momento” (Desejado de todas as Nações, 81).

O texto bíblico no indica que eles voltaram para Jerusalém e procuraram em todos os lugares e, aparentemente, foram por último ao Templo. Três dias depois encontraram Jesus no Templo conversando sobre a palavra de Deus.

Quem quer encontrar Jesus o procura no lugar certo, na igreja. Mas não em qualquer uma, tem que ser naquela que, como Jesus, estuda e obedece a palavra de Deus. Se José e Maria tivessem usado estes critérios teriam encontrado rapidamente a Jesus.

Por causa de um descuido, os pais de Cristo tiveram que sofrer muito para reencontra-lo. O mesmo pode acontecer conosco, “por conversas ociosas, por maledicência ou negligência da oração, podemos perder num dia a presença do Salvador, e talvez leve muitos dias de dolorosa busca o tornar a achá-Lo, e reconquistar a paz que perdemos” (Desejado de Todas as Nações, 83).

Naquela páscoa as cerimônias foram tão envolventes que José e Maria se esqueceram de ficar perto daquele que era a razão de existir de toda aquela celebração. Não podemos deixar as formalidades tomarem o lugar de Cristo em nossos cultos e em nossa vida.


A páscoa da purificação do Templo



A segunda páscoa registrada de Cristo foi turbulenta. O apóstolo João descreveu assim: “estava próxima a páscoa dos judeus, e Jesus subiu a Jerusalém. E achou no templo os que vendiam bois, e ovelhas, e pombos, e os cambistas assentados. E tendo feito um azorrague de cordéis, lançou todos fora do templo, também os bois e ovelhas; e espalhou o dinheiro dos cambiadores, e derribou as mesas; E disse aos que vendiam pombos: Tirai daqui estes, e não façais da casa de meu Pai casa de venda (João 2:13-16).

Jesus ao entrar no Templo, mais especificamente no pátio externo, onde todos poderiam estar, achou vendedores de animais e cambistas. A presença destes personagens é compreensível quando alguns aspectos são analisados. Os animais que deveriam ser oferecidos no sacrifício pascal deveriam ser sem defeitos. “Nenhuma coisa em que haja defeito oferecereis, porque não seria aceita em vosso favor” (Levítico 22:20).

Muitas pessoas viajavam dias até chegarem a Jerusalém e seria muito arriscado levar um animal de casa que poderia não ser aceito como sacrifício, por isso, muitos preferiam comprar um animal “pré-aprovado” ao chegar ao templo. O problema não estava exatamente na venda, mas na exploração que a liderança do templo fazia ao cobrar o preço dos animais. Os líderes do templo vendiam-nos superfaturados.

A presença dos cambistas também era uma necessidade circunstancial. Somente a moeda local era aceita com oferta no templo, mas muito judeus que moravam em outras localidades não as possuíam, por isso precisavam fazer o câmbio. Deveriam trocar as moedas estrangeiras por moedas nacionais de meio ciclo, as únicas aceitas como oferta. Mais uma vez o coração do problema era a cobrança de altas taxas de câmbio. As atividades (venda e câmbio) eram legítimas, porém os homens abusavam delas e por isso profanavam o templo. Não é demais lembrar que elas aconteciam fora da parte sagrada do templo, no pátio exterior.

Ao contemplar aquela cena corrupta a Bíblia diz que Jesus confeccionou um chicote, provavelmente feito com cordas pequenas usadas para prender os animais, e começou seu trabalho de purificação.

Jesus não atacou às pessoas, mas os pecados delas. O texto bíblico não indica que o chicote foi feito para ser usado nos humanos. O chicote foi usado para assustar os animais, como era costume na época, e os donos saíram atrás deles. As mesas dos cambistas foram viradas para desmontar o esquema de exploração, mas o Senhor não atacou as pessoas. Todas as ações de Cristo foram diretamente contra o pecado e não contra os pecadores.

Nesta festa da páscoa Jesus nos mostrou que devemos respeitar a Deus, ao Seu culto e às coisas que Ele considera santas. Não podemos dessacralizar algo que Deus sacralizou. Aprendemos também que Ele está disposto a qualquer coisa para nos ajudar a abandonar o pecado. Se for necessário virar a mesa de nossa vida, Ele o fará.

A páscoa da paixão



A mais importante páscoa de Cristo foi a da paixão. “Bem sabeis que daqui a dois dias é a páscoa; e o Filho do homem será entregue para ser crucificado” (Mateus 26:2). Por vários anos os Judeus celebraram a páscoa, mas aquela seria única. O próprio Jesus ministrou a ceia aos seus discípulos de uma forma especial. “E, tomando o cálice, e dando graças, deu-lho, dizendo: Bebei dele todos; Porque isto é o meu sangue; o sangue do novo testamento, que é derramado por muitos, para remissão dos pecados. E digo-vos que, desde agora, não beberei deste fruto da vide, até aquele dia em que o beba novo convosco no reino de meu Pai. E, tendo cantado o hino, saíram para o Monte das Oliveiras” (Mateus 26:27-30). Naquele dia Jesus Instituiu a Santa Ceia como lembrança do seu plano de salvação.

O maior sacrifício pascal estava para acontecer. Finalmente o tipo encontraria o antítipo. O cordeiro de Deus que tiraria o pecado do mundo (Jo. 1:29) seria sacrificado por toda a humanidade.

A sexta-feira chegou, aquela era uma páscoa especial. Às três da tarde aconteceu algo impressionante: “E Jesus, clamando outra vez com grande voz, rendeu o espírito. E eis que o véu do templo se rasgou em dois, de alto a baixo; e tremeu a terra, e fenderam-se as pedras; (Mateus 27:50-51)

Depois da morte de Cristo não mais seria necessário sacrificar inocentes cordeirinhos. O véu do santuário se rasgou indicando que os sacrifícios cessaram. As leis cerimoniais foram cravadas na cruz (Colossenses 2:14). Estava pago o preço pelo nosso resgate. O acesso a Deus estava livre através do sangue de Cristo.

Este sacrifício pascal do cordeiro maior é o motivo pelo qual somos livres e poderemos acessar a eternidade. Hoje ao comemorarmos a páscoa lembramos que um dia fomos cativos do pecado, mas hoje somos livres por causa de Cristo.

Jesus nos deixou uma promessa a respeito da ceia pascal: “E digo-vos que, desde agora, não beberei deste fruto da vide, até aquele dia em que o beba novo convosco no reino de meu Pai” (Mateus 26:29). O Senhor prometeu mais uma ceia para relembrar a páscoa. Essa ceia será servida pelos anjos e nós estaremos sentados à mesa com Cristo. Será o grande banquete dos salvos (Mateus 8:11). Nele comemoraremos o sacrifício de Cristo, única razão de estarmos lá. Naquele dia Jesus não será mais o cordeiro pascal, mas o Rei Glorioso e nós reinaremos com Ele para sempre.

Renove o significado da páscoa todos os dias em seu coração e prepare-se para participar da grande ceia que será servida para os salvos no céu.