quarta-feira, 18 de abril de 2012



Perguntas diante do Sofrimento


Felippe Amorim 


O sofrimento humano é uma das questões mais difíceis para a teologia. É muito complicado entender como um Deus tão amoroso quanto o nosso pode permitir que aconteçam tantas tragédias com Seus filhos.

Durante a semana santa deste ano (2012), por exemplo, quatro jovens, dois estudantes de teologia e suas respectivas esposas, que retornavam de uma semana especial de pregações em Pernambuco, sofreram um acidente automobilístico e faleceram tragicamente. Como entender?

A morte sempre é uma questão difícil de encarar, mas a morte trágica de um servo de Deus se torna mais difícil de lidar.

Diante do sofrimento sempre surgem algumas perguntas: Por que Deus deixou que isso acontecesse? Por que Deus não fez nada para impedir? Por que Deus não soluciona esta situação de forma milagrosa? São perguntas para as quais dificilmente teremos respostas. A Bíblia nos apresenta algumas ideias que podem nos ajudar a lidar melhor com estas perguntas.


Primeira pergunta


De forma geral, a primeira pergunta que surge em nossa cabeça quando nos deparamos com o sofrimento de um filho de Deus é: “Por quê?”. Esta, porém, não é uma boa pergunta, pois não há resposta concreta para ela.

Em Deuteronômio 29:29 lemos o seguinte: “As coisas encobertas pertencem ao Senhor, nosso Deus, porém as reveladas nos pertencem, a nós e a nossos filhos, para sempre, para que cumpramos todas as palavras desta lei”.

 Este verso é a única resposta segura para a primeira pergunta que fazemos diante do sofrimento. As coisas encobertas são de Deus. O “por que” do sofrimento está classificado entre as coisas que nos estão encobertas. Qualquer coisa que tentarmos acrescentar a isso será mera especulação. Um dia Deus poderá nos responder na eternidade, mas até lá ficaremos sem resposta. Nesse momento da história humana a pergunta “Por quê?” não é boa para as ocasiões de sofrimento.



Segunda pergunta



Poderíamos fazer uma pergunta um pouco melhor diante do sofrimento humano: “Para quê?”. Esta indagação é um pouco mais adequada porque para ela podemos encontrar uma resposta parcial.

No capítulo 11 de seu evangelho, o apóstolo João narra a história da ressureição de Lázaro. No início do relato Jesus foi confrontado com a notícia da enfermidade do seu amigo e respondeu: “Esta enfermidade não é para morte, e sim para a glória de Deus, a fim de que o Filho de Deus seja por ela glorificado” (Jo. 11:4).

Podemos entender claramente que, apesar de não ter enviado o sofrimento para aquela família (nunca é Deus quem envia), Jesus permitiu que eles passassem por momentos difíceis porque tinha um propósito especial para aquela situação. 

Entendemos os propósitos daquela doença e morte no final da história: “Muitos, pois, dentre os judeus que tinham vindo visitar Maria, vendo o que fizera Jesus, creram nele” (Jo. 11:45). A conversão de muitos judeus era o motivo pelo qual Jesus permitiu que o sofrimento chegasse àquela família.

Quando Deus permite que o sofrimento chegue aos seus filhos sempre tem um propósito. Mas, como já vimos, nossa resposta para a pergunta “para que?” é parcial, pois dificilmente identificamos os propósitos imediatamente e às vezes nunca os identificaremos. Dessa maneira “Para que?” ainda não é a melhor pergunta.
 

A melhor pergunta.



A melhor pergunta diante das tragédias que chegam à vida dos filhos de Deus é: “Até quando?”. Esta é uma boa questão, pois para esta temos uma resposta definitiva.

Jesus nos deu essa resposta em sua palavra: “Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito; vou preparar-vos lugar. E, se eu for e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos tomarei para mim mesmo, para que onde eu estiver estejais vós também. (Jo. 14:1-3)

Os discípulos estavam com o coração turbulento pela partida de Jesus. Então Jesus anunciou o motivo pelo qual o coração deles deveria se acalmar. A volta de Jesus é a solução final para todo e qualquer sofrimento humano.

No meio de momentos angustiosos temos a tendência de indagar porque Deus não fez nada para impedir a tragédia. Mas a verdade é que Deus já fez algo. Ele enviou seu Filho para morrer por nós e anunciar a esperança de Sua segunda vinda.

O que precisamos entender é que Jesus não veio resolver o problema da primeira morte. Jesus veio à Terra resolver o problema da segunda morte.

Muitos filhos de Deus morreram de forma trágica. Estêvão foi apedrejado, Paulo foi decapitado, Jerônimo foi queimado vivo durante a Idade Média, dentre muitos outros.

Pense um pouco. Se Jesus tivesse evitado a morte trágica deles, mesmo assim eles estariam mortos hoje. Basta pensarmos em Lázaro, ele foi ressuscitado por Jesus, mas onde está agora? Morto. Jesus veio a este planeta resolver o problema da segunda morte.

Entendemos bem isso quando Jesus afirmou: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá” (Jo. 11:25). O que nosso Senhor estava querendo dizer é que o importante não é esta vida passageira, mas sim a vida de verdade, a vida eterna.

            Nossa esperança não está em que Deus vá adiando nossa morte aqui neste planeta, está em que chegue logo aquele dia onde “Ele enxugará de seus olhos toda lágrima; e não haverá mais morte, nem haverá mais pranto, nem lamento, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas” (Ap. 21:4).

Não temos resposta para o “por quê?”, temos uma resposta parcial para o “para que?”, mas a melhor pergunta diante do sofrimento é “até quando?”. A esperança da volta de Jesus é o nosso único consolo diante do sofrimento humano.

            Não podemos terminar esta reflexão sem olharmos para dentro de nós. Porque mais importante do que tentar explicar o motivo do sofrimento e morte dos filhos de Deus é estarmos preparados para o momento em que o nosso destino for selado.

Aqueles que já descansaram estão com o destino selado. Mas nós que continuamos vivos escolhemos nosso destino eterno a cada segundo. Por isso, cabe aqui mais uma pergunta: Se hoje fosse o dia de você encontrar com a morte, como estaria a sua vida? Qual seria a sentença de Deus para você no dia do julgamento final?

Não há garantia alguma de que teremos vida amanhã, ou mesmo daqui à uma hora e por isso não podemos esquecer que precisamos estar preparados a cada momento da vida para a morte ou para a volta de Jesus. Talvez seja mais útil perguntarmos um pouco menos e nos entregarmos mais.


segunda-feira, 2 de abril de 2012

Três motivos para Morrer

Felippe Amorim


A morte sempre foi e sempre será algo estranho para o ser humano. Nenhuma pessoa em sã consciência busca a morte para si. Até quem comete suicídio, geralmente, está em um estado mental em que não avalia bem as suas ações.

Não há dúvida que se pudéssemos evitar a morte o faríamos com todas as nossas forças. A ciência todos os dias busca fórmulas de prolongar o período de vida dos seres humanos e alguns cientistas mais ousados até buscam desenvolver o “elixir da juventude eterna”.

A verdade é que nenhum ser humano tem a capacidade de prolongar um minuto sequer de sua vida.

Há muito tempo atrás passou por este planeta um ser humano muito especial. Ele foi o único humano que tinha a capacidade de evitar a própria morte. Jesus Cristo poderia escolher não morrer, mas ele tinha bons motivos para optar pela morte. A Bíblia nos apresenta três motivos que levaram à morte de Cristo.



Hostilidade dos líderes nacionais judeus



            O primeiro motivo foi a hostilidade dos líderes religiosos de sua época. Eles não admitiam a “concorrência” de Jesus. Em vários momentos percebemos que eles estavam prontos a assassinar o Mestre.

            Em Marcos 3:6 lemos assim: “Retirando-se os fariseus, conspiravam logo com os herodianos, contra ele, em como lhe tirariam a vida (ARA)”.

            Os fariseus observavam Jesus em uma sinagoga, mas não estavam interessados em aprender com Ele. Queriam algum motivo pelo qual poderiam acusa-lo. Jesus curou a mão ressequida de um homem e muitos ficaram impressionados com Seu poder e decidiram segui-lo, mas, ao invés de os fariseus saírem da sinagoga renovados espiritualmente, saíram para planejar um assassinato. O coração duro dos fariseus apenas continha ódio contra Cristo.

            Outro episódio que nos mostra a intenção dos líderes judaicos em relação a Cristo está registrado em Lucas 4:16-30. Novamente Jesus estava na sinagoga, dessa vez o Senhor estava lendo e explicando as escrituras para os presentes. Muitos estavam ali, mas com o coração longe de Deus. Isso nos leva a pensar que estar na igreja não significa estar salvo. É preciso estar na igreja e em harmonia com Cristo.

            Nesse episódio Jesus apresenta-se como cumprimento das profecias messiânicas de Isaías, mas ao invés de alegria, aquela mensagem gerou sentimentos de incredulidade nas pessoas e Jesus as repreendeu com dois exemplos: Elias e a viúva de Sarepta e Naamã o general curado da lepra através de Eliseu. Dois estrangeiros que tiveram mais fé que os nativos do povo escolhido.

            Com o coração endurecido o povo não aceitou a repreensão de Cristo. “E, levantando-se, expulsaram-no da cidade e o levaram até ao cimo do monte sobre o qual estava edificada, para, de lá, o precipitarem abaixo” (ARA) (v. 29).

O ódio dos líderes judaicos era um forte indício de que Jesus morreria em pouco tempo.



Estava de acordo com as escrituras



            A vida de Jesus Cristo é um exemplo de submissão à palavra de Deus. Tudo o que Ele fez e faz está de alguma forma relacionado com as Escrituras Sagradas. Desde criança ele gostava de tratar dos negócios do Pai (Lc. 2:49).

            O segundo motivo que fazia da morte de Jesus um evento certo e próximo eram as evidências textuais. Ele sabia o que as escrituras diziam a respeito de sua morte e o fazia feliz cumprir este propósito.

            Diversas vezes Jesus menciona sua disponibilidade em cumprir a vontade de Deus. Em Marcos 14:21 Jesus disse: “Pois o Filho do Homem vai, como está escrito a seu respeito; mas ai daquele por intermédio de quem o Filho do Homem está sendo traído! Melhor lhe fora não haver nascido!” (ARA).

          Encontramos outra autodeclararão de morte em Lucas 24:25,26: “Então, lhes disse Jesus: Ó néscios e tardos de coração para crer tudo o que os profetas disseram! Porventura, não convinha que o Cristo padecesse e entrasse na sua glória?” (ARA). No mesmo evangelho no capítulo 22:37 há outra declaração: “Pois vos digo que importa que se cumpra em mim o que está escrito: Ele foi contado com os malfeitores” (ARA).

Não poderíamos deixar de fora o capítulo 53 de Isaías, pois, sem dúvida, é o que melhor retrata o sofrimento e o propósito da morte de Cristo.

Portanto, o testemunho das escrituras a respeito do ministério de Cristo era outro motivo para que ele tivesse certeza de Sua morte.



Ele escolheu morrer



Os dois motivos apresentados anteriormente não são tão fortes e determinantes quanto o terceiro: Jesus escolheu morrer. Esta é uma expressão que deveria nos fazer parar para pensar. Jesus tinha a opção de não morrer, mas por amor a cada ser humano, do mais consagrado ao mais profano, ele decidiu sofrer a pior morte. “Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar o perdido” (Lc. 19:10 - ARA).

            Outra linda declaração está em Marcos 10:45: “Pois o próprio Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (ARA).

            Jesus gostava de servir e o maior serviço que Jesus prestou à humanidade foi morrer. Nós estávamos sequestrados, reféns de Satanás, mas Jesus nos resgatou com seu sangue. Sem dúvida, foi o maior serviço já prestado à humanidade.

            Tenho, porém, um batismo com o qual hei de ser batizado; e quanto me angustio até que o mesmo se realize! (Lc. 12:50 - ARA). Este é um importante versículo, pois nos ajuda a perceber que toda esta disponibilidade de Cristo para morrer não era sem sofrimento. Mas mesmo diante do medo da morte (estranha à natureza humana de Cristo), Ele se dispunha a submeter-se a ela.

Jesus “escolheu uma vida de sofrimento, uma ignominiosa morte e, da maneira apontada pelo Pai, tornar-Se-ia o governador legítimo dos reinos da Terra, tendo-os nas mãos como possessão para sempre”. (EGW. Deserto da Tentação, 65).

“O divino Filho de Deus deixou o trono do Céu e por nós deu a Sua vida, tornando-Se pobre por nossa causa. Revestiu Sua divindade com a humanidade. Agora, em retribuição, está você disposto a negar o eu e seguir seu Salvador? Ah, não desperdice os poucos momentos que lhe restam, buscando honras humanas e perdendo assim o precioso privilégio da vida eterna! (EGW. Manuscrito 40, 1886).

“Cristo foi tratado como nós merecíamos, para que pudéssemos receber o tratamento a que Ele tinha direito. Foi condenado pelos nossos pecados, nos quais não tinha participação, para que fôssemos justificados por Sua justiça, na qual não tínhamos parte. Sofreu a morte que nos cabia, para que recebêssemos a vida que a Ele pertencia. "Pelas Suas pisaduras fomos sarados." Isa. 53:5. (EGW. O Desejado de Todas as Nações, 25).



Gratidão por tão grande favor



Depois de analisarmos tudo isso a única atitude diante de tanto amor deve ser uma gratidão irrestrita. Merecíamos a morte, mas recebemos a vida e ainda temos o privilégio de termos uma comunhão plena com Ele. “Pela Sua vida e morte, Cristo operou ainda mais do que a restauração da ruína produzida pelo pecado. Era o intuito de Satanás causar entre o homem e Deus uma eterna separação; em Cristo, porém, chegamos a ficar em mais íntima união com Ele do que se nunca houvéssemos pecado. (EGW. O Desejado de Todas as Nações, 25). Para nós, resta viver uma vida de obediência em resposta ao amor tão grande de Cristo!