domingo, 27 de maio de 2012


Paz na Tempestade
Felippe Amorim


            Às vezes nos deparamos com histórias de pessoas que estão ameaçadas de morte por terem sido testemunhas de algum crime ou coisa parecida e por isso entram no programa da polícia de proteção às testemunhas.

Mesmo sob a proteção policial, pessoas ameaçadas de morte não vivem tranquilas. Certamente é muito incômoda a sensação de estar com a vida em risco. Se a ameaça vem de alguém próximo como um parente, a situação é pior ainda, pois além de tudo ainda envolve laços familiares quebrados e muita mágoa.

O grande rei Davi sofreu ameaças de morte e perseguição de algumas pessoas. Possivelmente as mais dolorosas foram as ameaças vindas do seu próprio filho.

Foi nesse contexto de perseguição da parte de Absalão que Davi escreveu o Salmo três. Este Salmo é uma súplica individual, inspirada num profundo sentimento de dependência de Deus. Há uma preciosa mensagem de fé contida neste trecho da Bíblia.


A Tempestade



                 O Salmo começa assim: “Senhor, como tem crescido o número dos meus adversários! São numerosos os que se levantam contra mim” (v. 1). A situação enfrentada por Davi era bastante complicada. Não era apenas Absalão que o perseguia, mas muitos dos seus antigos súditos.

                 Podemos perceber isso claramente do relato Bíblico: “Então, veio um mensageiro a Davi, dizendo: Todo o povo de Israel segue decididamente a Absalão” (2Sm 15:13). Aquelas eram pessoas a quem Davi havia protegido e cuidado, mas agora queriam mata-lo. Seu próprio filho, a quem ele deu o sustento e a proteção quando criança queria tirar sua vida. Sem dúvida foi uma situação muito ruim.

                 Com o coração pesaroso, o rei-salmista continua: “São muitos os que dizem de mim: Não há em Deus salvação para ele” (v. 2). Muitos dos que viam a situação de Davi diziam que ele não tinha como escapar. Nem em Deus haveria salvação para o ele.

Muitas vezes nos encontramos em situações semelhantes. Enfrentamos problemas difíceis, somos perseguidos por pessoas próximas a nós, temos a vida por um fio. São situações para as quais as pessoas dizem que não há solução.

Mas não é com esse tom pessimista que termina o salmo. Na verdade, esses são apenas os dois primeiros versos de uma série de oito. Davi gastou apenas dois versículos apresentando o problema e em seis versículos apresenta Deus como solução e proteção. Até nesta disposição do salmo certamente podemos aprender algo. Nosso foco não deve ser no problema, assim como não foi o de Davi, nosso foco deve ser em Deus que é capaz de resolver qualquer tipo de dificuldade.


A fonte da Paz



                 No verso três já podemos perceber uma significativa mudança de tom. “Porém tu, Senhor, és o meu escudo, és a minha glória e o que exaltas a minha cabeça”(v. 3). A primeira palavra já demonstra que a situação mudou. A palavra “PORÉM” indica que vai começar uma parte que se opõe ao que vinha sendo dito.

                 Sempre há um “porém” nos sofrimentos pelos quais os filhos de Deus passam. Na vida dos fiéis, o sofrimento não é uma situação definitiva. Para todos os que confiam nEle, Deus coloca um PORÉM no meio do problema.

                 Davi começa a fazer uma descrição do que Deus representa para ele naquele momento. Ele diz que Deus é “meu Escudo”, ou seja, há defesa contra as setas do inimigo. O Senhor também é a “minha glória”, portanto não há fracasso definitivo. Davi diz ainda que Deus exalta a sua cabeça. Quem confia em Cristo não anda de cabeça baixa.            Quando David fugiu, estava dobrado pela humilhação (2 Sam. 15: 30), mas Deus o permitiu que levantasse de novo a cabeça ( Sal. 27: 6).

Após exaltar as características de Deus, o rei expõe as atitudes daqueles que sofrem, mas sem sair de perto do Pai. “Com a minha voz clamo ao Senhor, e ele do seu santo monte me responde” (v. 4).

Clamar é mais que orar, clamar é se derramar diante de Deus. É abrir todos os compartimentos do ser para que Deus interfira da maneira que Ele quiser. Quem faz assim pode ter a certeza de que Deus responde, assim como o salmista tinha.


Os efeitos da Paz



“Deito-me e pego no sono; acordo, porque o Senhor me sustenta” (v.5). Isso é sensacional! Somente com a confiança totalmente colocada em Deus é que alguém pode ter um sono tranquilo enquanto é ameaçado de morte. Seu sono não era produzido por um mero cansaço, nem por indolência, nem por presunção; era um ato de fé. Era certeza de proteção. Quem confia em Deus, não perde sono mesmo que esteja correndo risco de morte.

Não tenho medo de milhares do povo que tomam posição contra mim de todos os lados” (v. 6). A ausência de medo é outra característica nítida naqueles que esperam no Senhor. Satanás nos ataca por todos os lados e usa todas as coisas e pessoas possíveis, mas não teremos medo se confiramos em Deus.

Levanta-te, Senhor! Salva-me, Deus meu, pois feres nos queixos a todos os meus inimigos e aos ímpios quebras os dentes” (v. 7). Se observarmos com atenção, perceberemos que Davi fala com certeza da bênção que ainda viria, ele fala como se Deus já tivesse ferido seus inimigos. Isso é fé!

“Do Senhor é a salvação, e sobre o teu povo, a tua bênção” (v. 8). Este é o final do salmo. Aqui, Davi está tão tranquilo que começa a pensar em abençoar o povo. Sua situação pessoal já não o preocupa mais, ele pode pensar em ajudar outros a alcançar a confiança que ele adquiriu. “Na hora de sua mais negra prova, o coração de Davi estava firme em Deus” (Patriarcas e Profetas, 741).
 

Desfrutando a Paz na tempestade



Muitas vezes sofremos como Davi. Somos ameaçados por Satanás, somos perseguidos por pessoas próximas a nós, sofremos muita oposição. Se pusermos, no entanto, nossa confiança inteiramente em Deus, poderemos dormir tranquilos, viver sem medo e até ajudar a outros a enfrentarem suas tempestades.

O que precisamos é manter nosso foco em Deus e em suas promessas. O Senhor que protegeu e amparou Davi quer fazer o mesmo conosco. Ele só precisa que nos entreguemos completamente a Ele.

Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não vêem (Hb 11:1). É dessa fé que nós precisamos! “A prosperidade espiritual continua apenas enquanto o homem confia inteiramente em Deus quanto a obter sabedoria e perfeição de caráter” (Cons. Sobre Mordomia,  147).  “Deus declara que ainda que uma mãe possa esquecer-se de seu filho, "Eu, todavia, Me não esquecerei de ti" ... Deus pensa em Seus filhos com a mais terna solicitude e mantém um memorial escrito diante dEle, para que jamais possa esquecer-Se dos filhos dos quais cuida” (Fé pela qual eu vivo. MM – 1959, 280).

Diante de tão preciosas promessas, o que nos resta é confiar completamente em Deus e desfrutar de paz em meio à tempestade. Se entregue a Ele agora!


segunda-feira, 21 de maio de 2012

Paulo e Marcos:

modelos para as escolhas ministeriais

(Título na Revista Ministério (Mai-jun/2012): Escolhas Pastorais)

Felippe Amorim



            Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo (João 16:33). Estas palavras de Cristo são reais para todos os cristãos, mas para os ministros do evangelho elas se tornam especialmente verdadeiras.

            A vida ministerial é recheada de aflições por diversas razões. O ministro é um ser humano e por isso sofre as aflições e desafios espirituais como consequências naturais do pecado. Porém na vida de um pastor há um agravante. O inimigo sabe que se fizer um pastor vacilar na fé levará junto muitas de suas ovelhas, e por isso envia aflições e desafios adicionais para a vida dos ministros.

            Nesse caso, a preocupação do pastor não deve ser se as dificuldades chegarão ou não. É certo que elas virão. O foco do pensamento deve estar em como o pastor reagirá perante as dificuldades.

            No livro de Atos encontramos um episódio que nos ajuda a meditar mais profundamente neste assunto. Está escrito: E, partindo de Pafos, Paulo e os que estavam com ele chegaram a Perge, da Panfília. Porém João, apartando-se deles, voltou para Jerusalém. (Atos 13:13)

            Uma leitura atenta desse verso nos ajuda a perceber que está estabelecida uma oposição entre dois personagens: Paulo e João Marcos. A palavra “porém” deixa isso bem claro. Percebemos Paulo indo e Marcos voltando. Esse dois personagens tiveram atitudes contrárias diante do mesmo desafio que era continuar a pregar o evangelho. Analisemos cada um deles.


Paulo

            O apóstolo Paulo é um grande exemplo de diligência no trabalho do Senhor. Esta é uma característica que Paulo já tinha mesmo antes de sua conversão. Era um diligente perseguidor. Quando ele se tornou um mensageiro de Deus essa característica se maximizou.

            O caminho que aquele grupo de missionários estava tomando rumo a Perge era um prenúncio de dificuldades. Perseguições, privações financeiras, pouco conforto. Para Paulo, no entanto, estas dificuldades não eram motivos de desmotivação para o trabalho.

            Para as dificuldades financeiras o apóstolo dos gentios apresentava a sua diligência no trabalho. Em Atos 18:1-3 lemos: “E depois disto partiu Paulo de Atenas, e chegou a Corinto. E, achando um certo judeu por nome Áqüila, natural do Ponto, que havia pouco tinha vindo da Itália, e Priscila, sua mulher (pois Cláudio tinha mandado que todos os judeus saíssem de Roma), ajuntou-se com eles, E, como era do mesmo ofício, ficou com eles, e trabalhava; pois tinham por ofício fazer tendas”. 

            Paulo não tinha dificuldades em trabalhar fazendo suas tendas para não onerar a igreja, embora ele tivesse plena consciência de que Deus autorizava a igreja a sustentar seus ministros: “Assim ordenou também o Senhor aos que anunciam o evangelho, que vivam do evangelho (1 Coríntios 9:14). O apóstolo não tinha medo de trabalho e também não visava lucro ao pregar o evangelho. As dificuldades financeiras não o assustavam.

            Além das dificuldades financeiras Paulo também sabia que corria risco de vida. Por várias vezes ele correu riscos por causa do ministério. Foi apedrejado, insultado, várias vezes tentaram assassiná-lo, mas diante de tudo isso ele dizia: Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é lucro (Filipenses 1:21).

            O apóstolo dos gentios foi um exemplo de entrega total e irrestrita ao trabalho de Deus: “Quando os ministros, hoje, acham que estão sofrendo grandes agruras e privações da causa de Cristo. Visitem em imaginação, a oficina do apóstolo Paulo, tendo em mente que, enquanto esse escolhido homem de Deus está moldando as tendas, está ganhando o pão para o seu sustento, por seus próprios labores. No cumprimento do dever, enfrentava ele os mais violentos opositores, silenciando-lhes a orgulhosa jactância, e então reassumia seu humilde emprego de fazedor de tendas. Seu zelo e diligência deveriam ser uma reprovação à indolência e comodidade egoísta dos ministros de Cristo. Qualquer trabalho que beneficie a humanidade ou promova o avanço da causa de Deus deve ser considerado honroso”  (Ellen White. Paulo: o apóstolo da fé e da coragem, 106). Eis um paradigma para as escolhas ministeriais!


João Marcos


            A outra figura com a qual nos deparamos em Atos 13:13 é João Marcos. A atitude dele é apresentada em oposição à de Paulo. Não temos muitas informações sobre ele. Lucas ao escrever o livro de Atos não mencionou o porquê do retrocesso de Marcos, provavelmente por respeitá-lo, pois ao Lucas escrever seus livros inspirados, Marcos já havia se convertido e se tornado um escritor bíblico.

            Ellen White nos ajuda a entender porque Marcos voltou para Jerusalém: “Marcos não apostatou da fé, mas, semelhante a muitos jovens ministros, esquivou-se das dificuldades, e preferiu o conforto e a segurança do lar às viagens , labores e perigos do campo missionário . (EGW. Paulo: o apóstolo da fé e da coragem, 50)

Ao vislumbrar a possibilidade de enfrentar dificuldades, Marcos preferiu abandonar a carreira. Ele não deixou de amar o evangelho, muito menos deixou de amar a Jesus, mas não queria arriscar perder seu conforto por trabalhar na pregação do evangelho. Em outras palavras, naquele momento, Marcos preferia pregar o evangelho onde tivesse as melhores condições de vida e os menores riscos.


Qual modelo seguir diante das dificuldades?


No Brasil existem lugares onde o trabalho pastoral é premiado com muito conforto e segurança, mas também existem lugares onde o trabalho se torna penoso, menos confortável e até perigoso. Quando nos deparamos com esta possibilidade de chamado de Deus qual modelo seguiremos: o de Paulo ou o de Marcos?

Todos os ministros se defrontarão com dificuldades em algum momento do ministério. Essas dificuldades podem ser no âmbito espiritual, se configurando em lutas internas e externas, tentações etc. Podem ser dificuldades financeiras, dinheiro escasso e vida com menos conforto do que se sonhava. Poderão aparecer dificuldades familiares. Conduzir a família de forma que eles amem o ministério tanto quando o ministro às vezes se torna um tremendo desafio. Poderíamos ainda listar as lutas sociais como distância da família, separação dos amigos ou mesmo dificuldades administrativas em lidar com pessoas difíceis, tomar decisões complicadas etc.

            Quem decidir seguir o modelo de Paulo dirá como ele: “Porque, se anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, pois me é imposta essa obrigação; e ai de mim, se não anunciar o evangelho!” (1 Coríntios 9:16) e ainda completará “Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho” (Filipenses  1:21). Podemos escolher como Paulo e enfrentar as dificuldades que virão confiados em Jesus Cristo.

            Alguns, porém, podem escolher o modelo de Marcos: “Prefiro o conforto de casa às lutas do campo de batalha”. “Outros poderão servir à igreja neste lugar, eu prefiro ficar aqui, pois tenho mais vantagens financeiras”. “Prefiro ser pastor em determinada região porque morarei melhor”, enfim, os que escolhem como Marcos, pensam mais em si mesmos na hora de encarar os chamados de Deus do que na missão a qual se propuseram a cumprir.

Estas são duas possibilidades de escolhas (Paulo ou Marcos) com as quais todos os ministros se deparam em seu ministério.


Esperança para os desertores


            Graças a Deus a história de João Marcos não termina em Atos 13. Ele se arrependeu de sua postura e voltou a olhar mais para Cristo do que para as vantagens terrenas. Em Colossenses 4: 10-16  Paulo escreve a respeito de Marcos: Aristarco, que está preso comigo, vos saúda, e Marcos, o sobrinho de Barnabé, acerca do qual já recebestes mandamentos; se ele for ter convosco, recebei-o; E Jesus, chamado Justo; os quais são da circuncisão; são estes unicamente os meus cooperadores no reino de Deus; e para mim têm sido consolação.” Ele não era mais um desertor, agora era chamado de cooperador. Lemos ainda em II Timóteo. 4:11: “Só Lucas está comigo. Toma Marcos, e traze-o contigo, porque me é muito útil para o ministério”.

            O arrependimento de Marcos traz esperança para todos aqueles que necessitam mudar o seu foco ministerial de si mesmos para a pessoa de Jesus Cristo. O seu arrependimento foi tão profundo que Deus deu a ele a oportunidade de se tornar o primeiro dos evangelistas.

            Aqueles que, em algum momento da vida, ou mesmo agora, estão tomando a decisão de Marcos antes da conversão, podem como ele se arrepender e se tornarem muito úteis à obra de Deus.

Que Deus ajude a todos os seus ministros a sempre fazerem escolhas baseados no que Deus quer e não no que eles querem.

quinta-feira, 10 de maio de 2012


Crescer sem parar
Felippe Amorim



Imagine a seguinte situação: uma criança de três anos de idade é abordada na escola por seu professor que a faz o seguinte pedido: por favor, me explique todo o processo de digestão que acontece em seu corpo depois que você almoça.

Agora continue imaginando outra situação: O mesmo professor encontra-se com outro aluno. Dessa vez é um adulto que já está cursando a faculdade e faz o seguinte pedido: indique-me onde em seu corpo fica o estômago. O mais interessante é que esse aluno adulto não sabe responder a esta questão.

São duas situações extremas, mas nos ajudam a entender um conceito importante. As pessoas passam por graus de maturidade ao longo de sua vida. Da mesma forma que seria muito estranho se a criança desse a explicação pedida pelo professor, seria estranho que um adulto na universidade não saiba onde se localiza o estômago em seu corpo. Espera-se que em cada estágio da vida as pessoas estejam minimamente correspondendo ao grau de maturidade adequado.

           Na vida espiritual não é diferente, cada pessoa está em um grau de maturidade diferente e deve ser cobrada de acordo com este fato.

           A Bíblia tem um verso que fala a esse respeito: “Mas a vereda dos justos é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito” (Pv. 4:18).


A vereda dos Justos



           O versículo começa falando da vereda dos justos, portanto, precisamos atentar para o que faz de alguém justo. Nossa mente pecaminosa pode tentar nos levar para uma justificação por nossas próprias obras. Na concepção bíblica ser justo não tem ligação direta com os méritos humanos, mas sim com os méritos divinos.

           O apóstolo Paulo nos ajuda a entender a questão da justiça. “Mas, ao que não trabalha, porém crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é atribuída como justiça” (Rm. 4:5). A justificação é uma obra que acontece fora de nós e que nos transforma internamente.

           Lemos ainda em Romanos: “Se, pela ofensa de um e por meio de um só, reinou a morte, muito mais os que recebem a abundância da graça e o dom da justiça reinarão em vida por meio de um só, a saber, Jesus Cristo” (Rm. 5:17). A justiça é um dom de Deus para o ser humano, ou seja, na Bíblia o homem justo é aquele que recebeu a justiça de Cristo, não aquele que a alcançou sozinho. A luz de Deus é enviada para aqueles que aceitam a morte de Cristo como justificadora, ou seja, para quem compreende a Justificação pela fé na graça de Jesus.



Paciência com os novos na fé



           A aplicação mais comum do nosso verso inicial relaciona-se com a paciência para com os recém-conversos. Esta é uma boa aplicação, realmente não podemos cobrar muito de quem é criança na fé. Alguns querem fazer um verdadeiro vestibular bíblico para aceitar novos membros.

           Existe, é verdade, um conhecimento mínimo para que uma pessoa ingresse na igreja através do batismo, mas não podemos exigir um conhecimento bíblico profundo. O que a pessoa deve ter é um profundo interesse de se entregar a Jesus e seguir as orientações de Deus para sua vida. Os novos na fé tem que ter se entregado irrestritamente a Jesus e estarem dispostos a segui-lO. O conhecimento profundo da Bíblia será adquirido com o tempo.

O cuidado com os novos da fé é necessário. “Tenham em vista os membros mais velhos da família que essa parte da vinha do Senhor necessita ser fielmente cultivada, e decidam aplicar suas melhores capacidades no sentido de tornar atraente o lar, e tratar com paciência e sabedoria os filhos mais novos (EGW. CPPE, 160).

“Paulo tinha uma aguda intuição do conflito que cada alma há de sustentar com as agências do mal que continuamente estão procurando enlaçá-las e enganá-las; e incansavelmente havia ele trabalhado para fortalecer e confirmar os novos na fé” (EGW. AA, 299).


Crescer sem parar


           Existe outra possibilidade de aplicação para o nosso texto original que não é muito comum de ouvirmos.

O texto apresenta uma luz que não para de ficar mais forte. Essa é uma observação que nos faz pensar a respeito da nossa condição individual.

Alguns cristãos tem usado este texto para justificarem sua falta de aplicação no estudo da Bíblia. Não tiram tempo para estudar, têm poucos momentos dedicados ao crescimento no conhecimento das Escrituras e quando são questionados por causa de sua falta de conhecimento recitam o texto como escudo.

Paulo escreveu sobre cristãos que estão atrasados em seu crescimento espiritual:

“quando devíeis ser mestres, atendendo ao tempo decorrido, tendes, novamente, necessidade de alguém que vos ensine, de novo, quais são os princípios elementares dos oráculos de Deus; assim, vos tornastes como necessitados de leite e não de alimento sólido (Hb 5:12). Esta é a situação de muitos cristãos que estão na igreja há anos, mas ainda estão com o conhecimento de crianças na fé.

           As ilustrações são úteis, embora, muitas vezes não perfeitas. Vamos propor uma então. Um curso normal de graduação dura em média quatro anos. Um mestrado dura em média dois anos e um doutorado dura quatro anos em média. Portanto, em dez anos alguém pode crescer em conhecimento do nível da graduação até o de doutorado.

           Se a vida cristã seguisse essa lógica, você deveria estar em qual estágio? Em qual estágio você está agora? A comparação não pode ser aplicada ao pé da letra, mas, figurativamente, há alguns que deveriam ser doutores no conhecimento bíblico, mas ainda estão nas “séries primárias”. Paulo escreveu: “Ora, todo aquele que se alimenta de leite é inexperiente na palavra da justiça, porque é criança.(Hb 5:13). Não há problema em ser criança, o problema é não sair da infância espiritual.

           O apóstolo continua: “Mas o alimento sólido é para os adultos, para aqueles que, pela prática, têm as suas faculdades exercitadas para discernir não somente o bem, mas também o mal (Hb 5:14). Infelizmente, muitos cristãos que deveriam ser professores de Bíblia não conhecem o suficiente para sustentar a sua própria convicção.

O verdadeiro cristão, o justo, deve crescer todos os dias até que um dia, na volta de Jesus, seja luz perfeita.

"Portanto, irmãos, procurai fazer cada vez mais firme a vossa vocação e eleição." II Ped. 1:10. Não precisamos ter uma suposta esperança, mas certeza. Tornar firmes nossa vocação e eleição é seguir o plano bíblico de examinar-nos atentamente a nós mesmos, pesquisar estritamente se estamos realmente convertidos, se nossa mente é atraída para Deus e as coisas celestiais, renovada nossa vontade, toda a nossa alma transformada. Fazer nossa vocação e eleição firmes requer incomparavelmente mais diligência do que alguns estão pondo nesse importante assunto. "Porque fazendo isto" - viver segundo o plano de adição, crescer na graça e no conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo - subireis, degrau por degrau, a escada vista por Jacó, e "nunca jamais tropeçareis". II Ped. 1:10. Porque assim vos será amplamente concedida a entrada no reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (EGW. Manuscrito 13, 1884).

Todos os cristãos deveriam orar a Deus para receber ajuda para organizar um horário diário e um local de estudo da Bíblia. É somente assim que cresceremos sem parar.




quinta-feira, 3 de maio de 2012


Boicotando a si mesmo

Felippe Amorim 



            De vez em quando nos deparamos com campanhas incentivando o boicote a alguma instituição ou produto. Em uma rápida consulta na internet encontrei campanhas de boicote aos EUA, a redes de televisão, a refrigerantes, ao uso do petróleo e muitas outras.

            Porém dificilmente alguém promoveria um boicote contra si mesmo. Pelo menos não conscientemente.

O ressentimento é uma das grandes armas do inimigo para tirar cristãos do reino de Deus. Muitas pessoas estão vivendo pensando que estão caminhando rumo à salvação, mas estão produzindo um boicote espiritual contra si mesmo. Muitos nem se apercebem disso.

            Jesus nos deixou na Bíblia um alerta sobre este assunto que é tão importante,  pois pode nos tirar do céu e, infelizmente, muitos cristãos têm incorrido neste erro consciente ou inconscientemente.


O limite do perdão



            Certa vez o apóstolo Pedro travou o seguinte diálogo com Jesus: Senhor, até quantas vezes pecará meu irmão contra mim, e eu lhe perdoarei? Até sete? Jesus lhe disse: Não te digo que até sete; mas, até setenta vezes sete. (Mateus 18:21-22)

O apóstolo Pedro fez uma pergunta muito importante, considerando que nas relações humanas é quase impossível conviver sem ofender de alguma forma aqueles que estão próximos a nós. Mas se observarmos bem a pergunta, Pedro pergunta sobre o perdão a um irmão. Geralmente as pessoas que mais cometem coisas ofensivas contra nós são aqueles que estão mais próximos. Cônjuges, irmãos, pais e filhos, enfim, geralmente no círculo familiar o perdão precisa ser colocado em prática mais frequentemente, pois as ofensas também acontecem com certa frequência. Mas onde existirem pessoas convivendo o perdão será necessário.

            Os rabinos limitavam o número de perdões em até três vezes. Portanto, para os líderes judaicos ninguém estaria obrigado a perdoar a quarta vez e isso não seria incorrer em erro.

            Pedro então, para mostrar sua generosidade dobrou o número de perdões e acresceu mais um. Quem sabe ele pensou: “Jesus ficará admirado comigo!”, mas a resposta de Cristo o surpreendeu. O Senhor disse: “Setenta vezes sete”. Jesus não estava limitando o número de perdões a 490 vezes, estava dizendo que devemos estender perdão um número ilimitado de vezes.

            Esta é uma mensagem que traz benefícios espirituais para cada cristão, mas não para por aí. Muitos benefícios emocionais também serão alcançados.

            O ser humano tem muita dificuldade de perdoar, mas o perdão é mais benéfico para quem o dá do que para quem o recebe. Guardar ressentimento destrói emocionalmente quem o guarda e aumenta a possibilidade de doenças cardíacas. Ressentimento, alguém disse, é um veneno que você toma esperando que o outro morra.

            Há, no entanto, um ponto mais importante. Conceder perdão é ponto de salvação. Jesus ilustrou este ensinamento em uma parábola: “Por isso o reino dos céus pode comparar-se a um certo rei que quis fazer contas com os seus servos; E, começando a fazer contas, foi-lhe apresentado um que lhe devia dez mil talentos; E, não tendo ele com que pagar, o seu senhor mandou que ele, e sua mulher e seus filhos fossem vendidos, com tudo quanto tinha, para que a dívida se lhe pagasse. Então aquele servo, prostrando-se, o reverenciava, dizendo: Senhor, sê generoso para comigo, e tudo te pagarei. Então o senhor daquele servo, movido de íntima compaixão, soltou-o e perdoou-lhe a dívida. Saindo, porém, aquele servo, encontrou um dos seus conservos, que lhe devia cem dinheiros, e, lançando mão dele, sufocava-o, dizendo: Paga-me o que me deves. Então o seu companheiro, prostrando-se a seus pés, rogava-lhe, dizendo: Sê generoso para comigo, e tudo te pagarei. Ele, porém, não quis, antes foi encerrá-lo na prisão, até que pagasse a dívida. Vendo, pois, os seus conservos o que acontecia, contristaram-se muito, e foram declarar ao seu senhor tudo o que se passara. Então o seu senhor, chamando-o à sua presença, disse-lhe: Servo malvado, perdoei-te toda aquela dívida, porque me suplicaste. Não devias tu, igualmente, ter compaixão do teu companheiro, como eu também tive misericórdia de ti? E, indignado, o seu senhor o entregou aos atormentadores, até que pagasse tudo o que devia. Assim vos fará, também, meu Pai celestial, se do coração não perdoardes, cada um a seu irmão, as suas ofensas (Mateus 18:23-35).


O Primeiro servo



            Nesta ilustração de Jesus o primeiro servo devia dez mil talentos. Um talento correspondia a 6000 denários, portanto, 10.000 talentos corresponderia a 60.000.000 de denários. Um denário era o que ganhava um trabalhador comum por um dia de trabalho. Calculando esse valor em dias teríamos 60.000.000 de dias de trabalho, ou seja, aproximadamente 165.000 anos de trabalho. Ninguém vive tanto.

            Resolvi atualizar estes valores. É lógico que não há correspondência exata entre a nossa moeda e a dos dias bíblicos, mas nos servirá como ilustração.

Em 165.000 anos estão contidos 1. 980.000 meses. Se considerarmos o salário mensal de um trabalhador comum no Brasil R$ 622,00, teríamos no final de um período como este o valor de R$ 1.231.560.000. Este é um valor suficiente pra comprar 34.672 carros populares modelo 2012 que custam em média R$ 35.000,00 ou daria pra montar uma biblioteca de 17.593.714 livros de R$ 70,00 cada.

Em valores atuais ou dos tempos bíblicos a conclusão é a mesma: A dívida era impagável. Mesmo assim o primeiro servo fez um pedido ao rei: “Sê paciente comigo, e tudo te pagarei”. Essa era uma promessa impossível de ser cumprida. Sabendo disso o Rei perdoou a dívida.

Nós somos este servo. Temos uma dívida impagável com Cristo. A dívida que adquirimos com Deus por causa dos nossos pecados nos faz condenados à morte (Rom. 6:23). Às vezes até pensamos que poderíamos paga-la se fôssemos “bonzinhos”, obedientes, etc. A verdade é que se conseguíssemos passar toda a vida sem cometer nem um ato pecaminoso, nossa dívida ainda estaria do mesmo tamanho. Foi por isso que Jesus nos ofereceu o perdão desta dívida na cruz do calvário. Graças ao amor de Cristo por nós podemos ser perdoados de qualquer pecado que cometemos, basta confessarmos a Jesus (1 Jo. 1:9).


O segundo servo



            A parábola conta que depois de ser perdoado, o primeiro servo saiu da audiência com o rei e encontrou o segundo servo que o devia 100 denários. Este era o valor correspondente a três meses de trabalho de um trabalhador comum. Atualizando com os valores que usamos anteriormente daria R$ 1.680. Perceba o contraste: o primeiro servo devia R$ 1.231.560.000 e o segundo devia R$ 1.680.

            Mesmo diante de toda esta diferença a Bíblia diz que o primeiro servo sufocava o segundo dizendo: “paga a dívida”. Então foi feito um pedido: “Sê paciente comigo, e tudo te pagarei”. O pedido foi igual ao que o primeiro servo fez ao rei, a diferença é que o segundo servo teria condições de cumprir com a sua promessa, mesmo assim ele foi lançado na prisão.

            Nós fazemos assim, queremos o perdão de Deus para nossos pecados, mas recusamos perdoar aqueles que nos ofendem.


A Reação do Senhor



O primeiro servo deveria ser tão compassivo com o segundo quanto o senhor foi com ele. O rei disse que ele deveria tratar o seu conservo “igualmente”. Como ele não agiu assim foi preso até pagar toda a dívida, ou seja, ficou preso para sempre já que sua dívida era impagável.

Se observarmos bem, a dívida que já havia sido perdoada retornou condenando-o a morrer preso.


Duras lições bíblicas



            Esta parábola de Jesus encerra duras lições para nós. Primeiramente aprendemos que o perdão de Deus para nós está vinculado ao perdão que oferecemos aos nossos irmãos. No meio da oração que Jesus ensinou ele disse: “E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores” (Mateus 6:12). Jesus ainda acrescentou: “Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celestial vos perdoará a vós; Se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai vos não perdoará as vossas ofensas” (Mateus 6:14-15).

            Todos nós precisamos do perdão de Deus, porque todos, sem exceção, pecamos. E mesmo que conseguíssemos ficar sem cometer atos pecaminosos, ainda seríamos pecadores por natureza necessitados do perdão de Deus. Esse deveria ser um motivo mais que suficiente para oferecermos perdão ao nosso próximo.

            Outra lição que podemos aprender com esta parábola é que quando não perdoamos aos nossos irmãos, os nossos pecados já perdoados voltam a ficar ativos nos registros do céu. Esse é outro bom motivo para não guardarmos ressentimento do nosso próximo.

            Perdoar o meu irmão, portanto, é uma questão de Salvação. No céu só entrarão pecadores perdoados e restaurados, mas se não perdoamos ao nosso próximo, não poderemos ser perdoados e, consequentemente, estaremos fora do céu.


Decisão Importante



            Esta doutrina bíblica precisa ser motivo de nossas profundas reflexões. A quem você tem que perdoar? Talvez a seu pai que o tratou mal na infância, quem sabe a um parente que te ofendeu profundamente, é possível que seja um colega de trabalho ou um vizinho que te magoou, um irmão da igreja que te prejudicou. Não importa quem seja. A Bíblia nos conclama a estender o perdão a todos que nos ofenderam, mesmo que esta pessoa não queira nosso perdão. Perdoar traz mais benefícios a quem perdoa do que a quem é perdoado.

            Nosso grande exemplo é Jesus. A dívida que tínhamos com Ele era impagável e fomos perdoados. Nenhuma ofensa de um ser humano para com outro será tão grande quanto a que os humanos fizeram para com Deus. Por isso hoje é dia de perdoar aqueles que lhe ofenderam. Quem sabe procura-los hoje mesmo. Dessa forma estaremos em paz com Deus e com nosso próximo.