quinta-feira, 25 de abril de 2013


Quatro homens, quatro semelhanças e uma certeza.

Pr. Felippe Amorim

Os números são bastante representativos nas religiões mundiais. Alguns religiosos inclusive trabalham especificamente com numerologia, imaginando que os números podem prever o futuro e indicar caminhos melhores. Os números são importantes, mas não tanto assim.
Alguns números são importantes na Bíblia. Por exemplo, o número seis é essencial para entendermos algumas profecias de Daniel e Apocalipse. Esse é um número que aponta para as obras dos homens, um exemplo disso é o misterioso número 666.
O número sete é um número central nas escrituras sagradas. É o número bíblico da perfeição. É o número do dia de guarda pedido por Deus, é o número de dias que passaremos viajando em direção ao céu após a volta de Jesus. É um número especial.
O número doze também tem sua importância na Bíblia. É o número das tribos de Israel, das portas da cidade santa e tem uma íntima relação com o número simbólico dos salvos no apocalipse (144.000).
Neste texto quero trabalhar outro número, o quatro. Ele não tem nenhuma significação especial em si mesmo. Mas vou utilizá-lo para destacar quatro personagens bíblicos que nos ensinarão a nos portarmos corretamente diante dos problemas.

Quatro personagens

Os personagens a respeito dos quais quero refletir são Jó, Hananias, Misael e Azarias, estes últimos, mais conhecidos como Sadraque, Mesaque e Abednego.
O primeiro deles é o grande patriarca do passado. A história de Jó provavelmente foi a primeira história bíblica escrita por Moisés. Jó ficou famoso por sua paciência diante do problema. Antes, porém, de apresentar um problema, o primeiro livro escrito da Bíblia mostra um homem fiel e uma família feliz. Esta é a primeira mensagem de Deus para a humanidade.
            Os outros três personagens sobre os quais queremos colocar nosso olhar nesse texto são Hananias, Mizael e Azarias. Os três amigos de Daniel ficaram famosos por suas histórias de fidelidade a Deus e de competência no trabalho.
            Os quatro personagens tem muitas coisas em comum e delas podemos tirar muitas lições para nossa vida. A seguir quero apresentar quatro semelhanças entre eles.

Quatro Semelhanças

A primeira semelhança é que nas descrições que a Bíblia faz deles nenhum pecado é apresentado. Não têm pecados registrados na Bíblia para estes quatro homens. Isso não indica que eles não são pecadores, pois, “todos pecaram e carecem da glória de Deus” (Rm. 3:23).
A ausência de registros de pecados na vida deles indica que eles tinham uma vida santa. Uma vida bem próxima de Deus foi a marca da existência deles. Isso nos mostra que, se eles conseguiram, nós também podemos, pois eles eram tão humanos quanto nós.
A segunda semelhança entre eles é que todos tinham uma vida consagrada a Deus. A primeira descrição que temos de Jó está no primeiro verso do livro que leva seu nome: “Havia um homem na terra de Uz, cujo nome era Jó; e era este homem íntegro, reto e temente a Deus e desviava-se do mal” (Jó 1:1). Nessa linda poesia hebraica o autor coloca em paralelo quatro características de Jó. Integro está em paralelo com temente a Deus e reto em paralelo com desviar-se do mal. O reto para Deus é aquele que se desvia. Que lindo!
Os três amigos de Daniel também são descritos como consagrados a Deus. No caso do sonho do rei Nabucodonosor, quando todos os sábios foram condenados à morte encontramos a seguinte passagem: “Então Daniel foi para a sua casa, e fez saber o caso a Hananias, Misael e Azarias, seus companheiros; Para que pedissem misericórdia ao Deus do céu, sobre este mistério, a fim de que Daniel e seus companheiros não perecessem, juntamente com o restante dos sábios de babilônia” (Daniel 2:17-18). Quando os problemas apareceram eles recorreram à oração. Atitude típica de quem tem uma vida consagrada a Deus.
A terceira característica em comum entre nossos quatro personagens é que todos passaram por problemas muito difíceis. Jó perdeu todos os seus bens em um só dia, assim como seus dez filhos em uma só tragédia (perder um filho já causa uma dor indescritível, imagine dez) e além de tudo isso, perdeu também a sua saúde. Tente imaginar-se sofrendo tudo isso sem ter a mínima ideia do motivo, seria de revoltar qualquer pessoa, mas Jó reagiu de forma diferente. “Então Jó se levantou, e rasgou o seu manto, e rapou a sua cabeça, e se lançou em terra, e adorou. E disse: Nu saí do ventre de minha mãe e nu tornarei para lá; o SENHOR o deu, e o SENHOR o tomou: bendito seja o nome do SENHOR” (Jó 1:20-21). Só alguém muito próximo de Deus poderia dizer isso em uma hora tão difícil.
Sadraque, Mesaque e Abednego também passaram por problemas sérios ao longo da vida. Uma vez foram condenados à morte por causa da fidelidade a Deus. Eles até poderiam ter evitado aquela dificuldade, mas estavam dispostos a sofrer por causa da fé. Eles falaram: “Não necessitamos de te responder sobre este negócio. Eis que o nosso Deus, a quem nós servimos, é que nos pode livrar; ele nos livrará da fornalha de fogo ardente, e da tua mão, ó rei. E, se não, fica sabendo ó rei, que não serviremos a teus deuses nem adoraremos a estátua de ouro que levantaste” (Daniel 3:16-18).
Esses quatro personagens nos ajudam a aprender algumas preciosas lições sobre o sofrimento. Uma delas é que o sofrimento nem sempre é culpa nossa. Na vida dos quatro, o sofrimento era fruto do pecado que habita este planeta e na nossa vida isso pode se repetir. Às vezes sofremos não porque estamos sendo castigados ou porque fizemos algo ruim, mas simplesmente como consequência de vivermos em um mundo de pecado.
O grande autor cristão C.S Lewis encarou o problema do sofrimento logo que se converteu. Em decorrência de suas reflexões, escreveu um livro cujo título é “o problema do sofrimento”. Ele escreveu assim sobre o assunto: “o que é positivo para o sofredor em qualquer experiência penosa é a sua submissão à vontade de Deus e, para os espectadores, a compaixão despertada e os atos de bondade a que esta os leva”. O sofrimento deve nos levar para mais perto de Deus.
Essa é a quarta semelhança entre nossos personagens. A maior intimidade com Deus veio dentro do problema. O patriarca Jó depois de enfrentar dias de muita angústia falou para Deus: “antes eu te conhecia só de ouvir falar, mas agora os meus olhos te veem” (Jó 42:5). Mesmo com toda a intimidade que ele já tinha no primeiro capítulo, ainda era possível mais consagração, porém, ele só a conseguiu dentro do problema.
Os três amigos de Daniel também passaram por algo semelhante. Eles eram jovens muito consagrados, mas na hora da pior prova deles lemos o seguinte: “Então o rei Nabucodonosor se espantou, e se levantou depressa; falou, dizendo aos seus conselheiros: Não lançamos nós, dentro do fogo, três homens atados? Responderam e disseram ao rei: É verdade, ó rei. Respondeu, dizendo: Eu, porém, vejo quatro homens soltos, que andam passeando dentro do fogo, sem sofrer nenhum dano; e o aspecto do quarto é semelhante ao Filho de Deus” (Daniel 3:24-25). O lugar onde estiveram mais próximos de Deus foi dentro da fornalha. Ainda era possível mais proximidade com Deus.
Sofrer nunca será bom, mas podemos aproveitar os problemas para aumentar nossa intimidade com o Criador. A Bíblia nos apresenta textos que nos consolam, por exemplo: “Porque para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada” (Romanos 8:18). Há algo melhor guardado para aqueles que perseverarem na fé.

Quatro atitudes diante dos problemas

            Os seres humanos podem ter quatro atitudes diante dos problemas. A primeira delas é reclamar. Há algum tempo em uma viagem para o nordeste para pregar em um acampamento jovem sentei ao lado de um homem no avião. Puxei assunto: “O senhor está viajando a trabalho”? , perguntei. Esta foi a única frase que consegui falar naquela conversa. Na próxima hora escutei uma enxurrada de reclamação da vida. Já estava me sentindo mal de tanta amargura e reclamação que aquele homem despejou. Muitos podem escolher reagir aos problemas reclamando.
Outra atitude que podemos tomar diante de situações difíceis é fugir. Alguns fogem para o álcool, outros para outras drogas, alguns para o sexo ilícito. Tentando esquecer-se dos problemas acabam gerando outros.
Podemos ainda nos revoltar contra Deus. Alguns se tornam ateus por não saberem reagir às dificuldades da vida. O autor já citado C.S. Lewis enfrentou este problema antes de sua conversão. Esta não é uma boa reação aos problemas. Deus não tem culpa das nossas dificuldades e se nos afastarmos dEle, perderemos a única chance de termos paz no meio da tempestade.
A quarta atitude que podemos ter diante dos problemas é a única que agrada a Deus. Podemos aproveitar para ter mais intimidade com Ele. Jó, Sadraque, Mesaque e Abednego caminharam por esta via. Dentro das dificuldades eles tiveram a maior intimidade de suas vidas com o Pai do céu. É assim que conseguiremos viver em paz ao longo da nossa existência.

Uma certeza

            Independente dos problemas pelos quais passemos, Deus quer estar mais junto de nós nos confortando e nos guiando no meio do problema e em direção à solução.
            A dificuldade é uma oportunidade de aprofundarmos nossa intimidade com o Pai celestial. “Mediante provas e perseguições, a glória - o caráter - de Deus se revela em Seus escolhidos. Os crentes em Cristo, odiados e perseguidos pelo mundo, são educados e disciplinados na escola de Cristo. Na Terra andam em caminhos estreitos; são purificados na fornalha da aflição. (Isa. 48:10.) Seguem a Cristo através de penosos conflitos; suportam a abnegação e passam por amargos desapontamentos; mas deste modo aprendem o que significam a culpa e os ais do pecado, e olham para ele com repulsa. Tendo sido participantes das aflições de Cristo, podem contemplar a glória além da obscuridade, dizendo: "Tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada." Rom. 8:18” (Atos dos Apóstolos, 577).
Deus te convida hoje a confiar e se entregar totalmente a Ele e desfrutar de paz mesmo que a vida esteja sendo uma tormenta. Quem sabe, no meio da prova você tenha o encontro mais íntimo da sua vida com Deus.

terça-feira, 9 de abril de 2013


Leitura Obrigatória
Felippe Amorim

De vez em quando os pastores mudam de lugar. Isso é algo comum no ministério. Minha última mudança foi do nordeste para o sul do Brasil. Vendi os móveis e viajei 3700 km de carro em direção ao meu novo lar. As únicas coisas que tinha como mudança eram dezesseis caixas de livros que foram por transportadora. Senti muito a falta deles até que chegaram para mim quase três meses depois.
Tive um professor no seminário que é um apaixonado por livros e por leitura. A sua esposa me contou que ele tinha livros até no banheiro. Ele é um leitor voraz.
A leitura deve fazer parte da rotina de todo cristão, mas principalmente dos pastores. Para este grupo, ler não é uma opção é uma obrigação. Os homens que devem falar à congregação a cada semana precisam se encher de conhecimento para poder compartilhar.
Há um texto bíblico bastante interessante e que nos ensina muito sobre a importância da leitura. O encontramos em II Timóteo 4:13: “Quando vieres, traze a capa que deixei em trôade, em casa de Carpo, e os livros, principalmente os pergaminhos”,

Paulo: corpo preso, mente solta.

Paulo escreve a Timóteo de dentro da prisão em Roma. O apóstolo já estava idoso, cansado e, naquele momento, condenado à morte. Muitas pessoas nessa situação se acomodariam por ter cumprido sua parte neste planeta. Mas este não foi o caso de Paulo.
Ele sentia falta de duas coisas. A primeira era a capa. Ela o ajudaria a manter o frio longe do corpo. Esse era um objeto necessário na fria e úmida prisão do apóstolo. Essa capa era um pano rústico com uma abertura no meio para a cabeça. Quando vestido cobria o corpo como um poncho.
            A outra coisa da qual Paulo sentiu falta foram os seus livros.  Eles o ajudariam a manter a ferrugem longe da mente. O corpo de Paulo estava preso, mas a mente viajava pela leitura.   
“Algumas vezes a história tem a estranha circunstância de repetir-se. Mil e quinhentos anos mais tarde, William Tyndale estava na prisão do Vilvorde, detido, esperando a morte, porque tinha tido a coragem de dar às pessoas a Bíblia em seu próprio idioma. Era um inverno frio e úmido, e escreve a um amigo: “pela graça de Cristo, me mande uma capa mais abrigada, algo para abrigar minhas extremidades, uma camisa de lã, e acima de tudo, minha Bíblia Hebraica” (Barcley. Comentário do Novo testamento, 106). A leitura sempre está presente na vida dos grandes homens da história.

Leitura: pré-requisito ministerial

O exemplo de Paulo nos mostra o quanto a leitura é importante em todos os momentos da vida de um ministro do evangelho. Infelizmente, há pessoas que confiam que Deus sussurrará em seus ouvidos tudo o que falarão no púlpito e, por isso, não se dedicam ao estudo diligente. Mas não é assim que Deus trabalha normalmente.
O grande pregador Charles Spurgeon fez uma esclarecedora observação sobre a atitude de Paulo: “Até mesmo um apóstolo precisa ler. Ele é inspirado e, ainda assim, quer livros. Ele viu o Senhor e, ainda assim, quer livros. [...] Ele foi arrebatado ao terceiro céu, e ouviu coisas ilícitas ao homem proferir, porém, ele quer livros. Ele escreveu uma das principais partes do Novo testamento e, ainda assim, quer livros”.
Paulo poderia se preocupar em aproveitar os últimos momentos da vida de outra forma. Mas até em meio dessas circunstâncias tão adversas, o erudito Pablo continuava investigando as verdades de Deus e praticando a leitura.
No texto percebemos o cuidado que Paulo teve em guardar seus livros antes da viagem e a perceptível falta que eles faziam. Os livros sobre os quais Paulo se referia podem ser manuscritos do Antigo Testamento ou outros livros de assuntos diversos. O mais importante de observar é a valorização que o apóstolo dava ao ato de ler.

Dedicação necessária

Os pastores (e todos os profissionais) deveriam fazer um plano de leitura diário para que se aprofundem no conhecimento da sua área e tenham uma visão da cultura geral.
Vamos fazer alguns cálculos. Se eu me disciplinar para ter uma hora de leitura diária cinco dias por semana, então, terei vinte horas de leitura por mês.  Em média consigo ler 20 páginas por hora, o que dariam 400 páginas por mês. Se eu conseguir manter esta constância lerei 4800 páginas por ano e em dez anos terei lido 48000 páginas. O que equivale a 192 livros de 250 páginas. Bem selecionados, esses livros terão me dado um ótimo conhecimento.
            Deus espera que seus pastores se dediquem ao crescimento intelectual. Ele nos deixou alguns recados importantes através de sua mensageira.
“Os pastores devem dedicar tempo à leitura, ao estudo, a meditar e orar. Devem enriquecer o espírito com conhecimentos úteis, aprendendo de cor porções das Escrituras, traçando o cumprimento das profecias, e aprendendo as lições que Cristo deu a Seus discípulos. Levai um livro convosco para ler enquanto viajais de ônibus, ou esperais na estação da estrada de ferro. Empregai todo momento vago em fazer alguma coisa. Assim fechar-se-á, a milhares de tentações, uma porta eficaz”. (Obreiros Evangélicos, 279). Ela acrescenta: “Todos devem sentir que sobre si repousa a obrigação de atingir as alturas da grandeza intelectual” (Obreiros Evangélicos, 279).
Muitas vezes poderíamos ganhar tempo de leitura em pequenos momentos de espera ou no deslocamento do dia a dia, como diz Ellen White: “do justo emprego do tempo depende nosso êxito no conhecimento e cultura mental. A cultura do intelecto não precisa ser tolhida por pobreza, origem humilde ou circunstâncias desfavoráveis, contanto que se aproveitem os momentos. Alguns momentos aqui e outros ali, que poderiam ser dissipados em conversas inúteis; as horas matutinas tantas vezes desperdiçadas no leito; o tempo gasto em viagens de bonde ou trem; ou em espera na estação; os minutos de espera pelas refeições, de espera pelos que são impontuais - se se tivesse um livro à mão, e estes retalhos de tempo fossem empregados estudando, lendo ou meditando, que não poderia ser conseguido! O propósito resoluto, a aplicação persistente e cautelosa economia de tempo, habilitarão os homens para adquirirem conhecimento e disciplina mental que os qualificarão para quase qualquer posição de influência e utilidade” (Parábolas de Jesus, 344).
            Uma vez escutei uma frase de um professor do SALT que me marcou. Ele disse o seguinte: “o pastor é um homem de olhos cansados”. Ele se referia à rotina de leitura que um pastor deve ter.
Não há dúvidas de que a leitura da Bíblia deve ser a prioridade na vida do ministro, porém, a leitura de bons livros também ajudará o pastor a ter mais conteúdo para guiar suas ovelhas no caminho certo e de maneira mais segura. Deus nos convida a uma maior dedicação à leitura.