Daniel: Resultado da comunhão
Por: Felippe Amorim
INTRODUÇÃO
Quando analisamos a vida de alguns personagens bíblicos, ficamos impressionados com a quantidade de vitórias espirituais que encontramos ao longo da sua jornada. Coisas sobrenaturais foram realizadas por homens iguais a qualquer outro ser humano.
Um desses homens cuja vida impressiona a qualquer leitor da bíblia é Daniel. A palavra de Deus não indica nenhum pecado em relação a Daniel, o que certamente não indica que ele era perfeito, afinal, “como está escrito: Não há justo, nem sequer um”(Romanos 3:10). Porém o fato da Bíblia não relatar pecados de Daniel nos mostra que ele era alguém fiel a Deus e que se desviava do mal.
A Irmã White faz uma declaração a respeito de Daniel, sobre a qual nós deveríamos pensar:
“O profeta Daniel tinha um caráter notável. Ele foi brilhante exemplo daquilo que os homens podem chegar a ser quando unidos com o Deus da sabedoria.” (Santificação. 19)
Existe neste citação uma bênção e uma responsabilidade para os cristãos do século XXI. A bênção é que Deus nos oferece a oportunidade de desfrutarmos de uma vida santa como a de Daniel, mesmo possuindo uma natureza que tenta nos arrastar para o pecado. A responsabilidade que este texto nos impõe é a de nos esforçarmos para nos mantermos unidos a Cristo de onde receberemos poder para resistir ao mal.
Considerando que as palavras inspiradas por Deus nos falam que podemos ser como Daniel, vale a pena analisarmos quais são os resultados da comunhão na vida de Daniel e consequentemente em nossa própria vida.
A VIDA DE DANIEL
Daniel capítulo 1:3-5 fala o seguinte:
Então disse o rei a Aspenaz, chefe dos seus eunucos que trouxesse alguns dos filhos de Israel, dentre a linhagem real e dos nobres, jovens em quem não houvesse defeito algum, de bela aparência, dotados de sabedoria, inteligência e instrução, e que tivessem capacidade para assistirem no palácio do rei; e que lhes ensinasse as letras e a língua dos caldeus. E o rei lhes determinou a porção diária das iguarias do rei, e do vinho que ele bebia, e que assim fossem alimentados por três anos; para que no fim destes pudessem estar diante do rei.
No ano 606 a.C, após vencer a batalha de Carquemis o então príncipe Nabucodonosor, filho do velho rei Nabopolassar, estabeleceu domínio sobre a Síria e Palestina . Dentre os povos conquistados, o povo de Deus foi levado cativo para a Babilônia, onde deveria servir o império babilônico.
Dentre as características da Babilônia, podemos destacar uma que afetou diretamente o povo Judeu. Não havia anti-semitismo na Babilônia, o povo vivia confortável e próspero e foi rápida a adaptação e assimilação. O povo Judeu se adaptou muito fácilmente “...não apenas permanecendo na terra, mas permitindo a terra penetrar-lhe.” ( Merrill ).
Neste contexto, Nabucodonosor pediu aos seus oficiais que separassem dentre os filhos de Israel jovens com características especiais. Estes jovens deveriam estudar na Universidade da Babilônia a Língua e Literatura Caldéia que envolvia magia, astrologia, adivinhação dentre outras coisas.
Daniel e seus três amigos, que tinham aproximadamente 18 anos, estavam dentro da instituição de ensino mais secularizada da sua época, onde eles sofreriam as mais fortes e malignas influências , mas a Bíblia relata que eles se mantiveram incontaminados. Esta é uma grande lição para os jovens do século XXI. A influência do mundo não pode invadir e corromper nossos princípios. A identidade do cristão deve ser mantida com a ajuda de Deus.
CONHECIMENTO DO PLANO DE DEUS
A primeira consequencia da comunhão na vida de Daniel que gostaríamos de listar é que ele sabia exatamente qual o plano de Deus para sua vida. No capítulo 1:7 lemos o seguinte:
Mas o chefe dos eunucos lhes pôs outros nomes, a saber: a Daniel, o de Beltessazar; a Hananias, o de Sadraque; a Misael, o de Mesaque; e a Azarias, o de Abednego.
O Nome tinha um valor muito grande nos tempos de Daniel e ao mudar os nomes dos hebreus, o rei Nabucodonosor estava tentando aos poucos mudar a identidade deles. Mas Daniel e seus amigos sabiam muito bem qual o plano de Deus para suas vidas e a mudança de nome não representou muito para Daniel pois logo em seguida a este episódio a Bíblia relata a firme decisão do jovem Daniel.
Daniel, porém, propôs firmemente no seu coração não se contaminar com a porção das iguarias do rei, nem com o vinho que ele bebia; portanto pediu ao chefe dos eunucos que lhe concedesse não se contaminar (Daniel 1:8)
Quando analisamos este verso podemos perceber como Daniel tinha foco no plano de Deus para sua vida. No verso 5 do mesmo capítulo a Bíblia diz que “o rei lhes determinou a porção diária das iguarias do rei, e do vinho que ele bebia”. Daniel, portanto, estava diante da ordem do monarca terreno e dos princípios instituidos pelo Deus criador. Foi nessa ocasião de pressão que o resultado da comunhão com Deus aflorou, mesmo com o perigo de perder privilégios na corte, Daniel foi firme em permanecer ao lado de Cristo.
“Hoje há entre os professos cristãos muitos que haveriam de julgar que Daniel era por demais esquisito, e o considerariam mesquinho e fanático. Eles consideram a questão do comer e beber como de muito pequena importância para exigir tão decidida resistência - tal que poderia envolver o sacrifício de todas as vantagens terrenas. Mas aqueles que assim raciocinam, notarão no dia do juízo que se desviaram dos expressos conselhos de Deus e se apoiaram em sua própria opinião como norma para o certo e para o errado.” Santificaçao. 20, 21
Que lição para os cristãos da atualidade! Daniel sabia qual era a vontade de Deus para sua alimentação naquela ocasião e ele seguiu sem se preocupar com as consequencias. Desde 1863 a Igreja Adventista do 7º Dia recebeu orientações divinas a respeito da forma correta como os fiéis cristãos deveriam se alimentar. Há claras recomendações do que comer e beber e do que não comer e não beber, mas como falou a citação acima, muitos consideram esse assunto de pouca importância, ao contrário do que Deus considera.
É importante, contudo, destacarmos o porque desta tão vigorosa decisão pelos princípios feita por Daniel. O verso 9 do capítulo 1 nos fala: “Ora, Deus concedeu a Daniel misericórdia e compreensão da parte do chefe dos eunucos”.
Somente com a misericórdia de Deus em nossa vida poderemos ser firmes na vida religiosa. Não existe força em nós para lutarmos contra o pecado. Somente com a força de Deus em nós é que poderemos seguir o Seu plano para a nossa vida nesta terra.
DEPENDÊNCIA DE DEUS
Outra característica que podemos destacar na vida do profeta Daniel é que ele tinha completa dependência de Deus. Podemos evidenciar isso quando analisamos a história do capítulo 2 de seu livro.
Daniel estava diante de um grande desafio. O rei nabucodonosor havia sonhado algo que ele não lembrava, então convocou todos os sábios e advinhadores do reino e pediu que eles lhes contasse o que ele tinha sonhado e qual a interpretação daquele sonho.
Era um pedido muito difícil para qualquer ser humano, e consequentemente nenhum dos sábios conseguiu responder ao rei a respeito de seu sonho. Irritado o rei emitiu uma ordem para que todos os sábios do reino fossem mortos.
Ao que Daniel se apresentou ao rei e pediu que lhe designasse o prazo, para que desse ao rei a interpretação. Então Daniel foi para casa, e fez saber o caso a Hananias, Misael e Azarias, seus companheiros, para que pedissem misericórdia ao Deus do céu sobre este mistério, a fim de que Daniel e seus companheiros não perecessem, juntamente com o resto dos sábios de Babilônia.(Daniel 2: 16-18)
A atitude do profeta ao se deparar com uma situação de risco de morte é um grande exemplo da dependência que o cristão deve ter de Deus. Daniel reuniu os seus amigos e buscou o maior recurso que o cristão tem nas horas difíceis: a oração.
O costume de orar três vezes ao dia dava a Daniel o poder necessário para vencer nas horas mais difíceis, como diz a irmã White:
“Daniel foi submetido às mais severas tentações que podem assaltar os jovens de hoje; contudo, foi leal para com a instrução religiosa recebida na infância. Ele estava cercado por influências que subverteriam aqueles que vacilassem entre o princípio e a inclinação; todavia, a Palavra de Deus o apresenta como um caráter irrepreensível. Daniel não ousava confiar em seu próprio poder moral. A oração era para ele uma necessidade. Ele fazia de Deus a sua força e o temor do Senhor estava continuamente diante dele em todos os acontecimentos de sua vida.” (Santificação. 20)
A dependência de Deus que se manifestava na vida de Daniel era um claro sinal de alguém que mantinha uma íntima comunhão com o Criador. Cada jovem Adventista que deseja resistir às tentações impostas pelo inimigo, deve ter uma vida de oração tal qual Daniel, pois é deste costume que brota poder para o cristão e “Satanás não pode vencer aquele cujo coração deste modo se firma em Deus”(Caminho a Cristo. 100)
BOM TESTEMUNHO
Quando estamos ligados a Videira Verdadeira damos os verdadeiros frutos do Espírito, pois recebemos a seiva que vem de Jesus. Isso era uma realidade na vida do profeta Daniel. Um bom testemunho foi uma consequencia inevitável em sua vida.
Podemos perceber o quanto o testemunho de Daniel falava bem a respeito do evangelho quando visualizamos a história do capítulo 5 de seu livro. Lá está relatado o banquete que o rei Belsazar promoveu.
Dentre os diversos pecados que estavam sendo cometidos alí destacamos um que a Bíblia deixou evidente. Os objetos sagrados que haviam sido retirados do templo de Jerusalém estavam sendo usados para fins profanos em uma festa com orgias.
Em uma altura da festa Deus interveio. Uma mão apareceu e escreveu uma mensagem na parede. O rei Belsazar ficou completamente transtornado, a Bíblia descreve assim seu estado emocional:
Mudou-se, então, o semblante do rei, e os seus pensamentos o perturbaram; as juntas dos seus lombos se relaxaram, e os seus joelhos batiam um no outro(Daniel 5:6)
Logo foram convocados todos os que teoricamente poderiam decifrar aquela inscrição, mas não responderam satisfatoriamente aos anseios do rei.
E ordenou o rei em alta voz, que se introduzissem os encantadores, os caldeus e os adivinhadores; e falou o rei, e disse aos sábios de Babilônia: Qualquer que ler esta escritura, e me declarar a sua interpretação, será vestido de púrpura, e trará uma cadeia de ouro ao pescoço, e no reino será o terceiro governante. Então entraram todos os sábios do rei; mas não puderam ler o escrito, nem fazer saber ao rei a sua interpretação.(Daniel 5:7)
Novamente o reino da Babilônia estava diante de um enigma aparentemente indecifrável. Porém a reputação de um homem de Deus foi lambrada na hora mais escura da vida de Belsazar:
Ora a rainha, por causa das palavras do rei e dos seus grandes, entrou na casa do banquete; e a rainha disse: Ó rei, vive para sempre; não te perturbem os teus pensamentos, nem se mude o teu semblante. Há no teu reino um homem que tem o espírito dos deuses santos; e nos dias de teu pai se achou nele luz, e inteligência, e sabedoria, como a sabedoria dos deuses; e teu pai, o rei Nabucodonozor, sim, teu pai, ó rei, o constituiu chefe dos magos, dos encantadores, dos caldeus, e dos adivinhadores;porquanto se achou neste Daniel um espírito excelente, e conhecimento e entendimento para interpretar sonhos, explicar enigmas e resolver dúvidas, ao qual o rei pôs o nome de Beltessazar. Chame-se, pois, agora Daniel, e ele dará a interpretação.(Daniel 5:10-12)
Quando o império Babilônico precisou de alguém que tinha comunhão com Deus, apenas um homem foi lembrado, Daniel. O bom testemunho era uma evidência da comuhão que ele mantinha com Deus. Assim também será na vida daqueles que fizerem de Jesus seu companheiro de todas as horas.
INTEGRIDADE
Ainda podemos encontrar outra característica em Daniel de uma vida consagrada ao Rei dos reis: A integridade.
O capítulo 6 de Daniel relata uma linda e inspiradora história a respeito deste profeta. O império Babilônico havia passado, os Medo-Persas já assumiam o governo e Daniel foi nomeado por Dario, rei Persa, como um dos presidentes do reino. Logo Daniel se destaca como o mais competente dos presidentes e seus colegas de função logo criam inveja em seus corações. A palavra de Deus conta que eles então começam a procurar uma situação na qual pudessem acusar Daniel. A Bíblia registra então uma passagem que deveria nos levar a meditar em nossa vida:
Nisso os presidentes e os sátrapas procuravam achar ocasião contra Daniel a respeito do reino mas não podiam achar ocasião ou falta alguma; porque ele era fiel, e não se achava nele nenhum erro nem falta. Pelo que estes homens disseram: Nunca acharemos ocasião alguma contra este Daniel, a menos que a procuremos no que diz respeito a lei do seu Deus.(Daniel 6: 4-5)
Aqueles homens procuraram em todos os aspectos da vida de Daniel algo que estivesse errado para que o acusassem. Mas os inimigos de Daniel tiveram que admitir que nada existia na vida dele do qual eles o pudessem acusar.
Os cristãos do século XXI precisam se demorar pensando sobre este episódio da vida de Daniel. Se hoje os inimigos do povo de Deus começassem a fazer uma busca na vida financeira, no namoro, nos negócios, nas relações sociais dos cristãos adventistas do 7º dia, será que eles poderiam fazer a mesma afirmação que os inimigos de Daniel fizeram?
Reafirmamos, porém, que nenhuma dessas qualidades eram provenientes da natureza carnal de Daniel, todas elas eram consequencia da comunhão que ele mantinha com o Deus do céu.
VIDA ETERNA
Se a nossa esperança se limitasse apenas a uma existência de algumas décadas nesta terra, seria inútil tanta luta contra o pecado e tanto esforço para se aproximar de Deus. Mas o grande objetivo da vida do cristão é um dia deixar este mundo e morar com Jesus no céu e, após o milênio, na nova terra.
A vida devota de Daniel fez com que no final da sua vida ele ouvisse a mais linda promessa que um ser humano poderia escutar: “Tu, porém, segue o teu caminho até ao fim; pois descansarás e, ao fim dos dias, te levantarás para receber a tua herança”. (Daniel 12:13).
A vida eterna. Este é o supremo resultado de uma vida ao lado de Jesus. Não sabemos quando Jesus voltará para nos resgatar, mas se chegar o nosso momento de descansar o sono da morte, dormiremos com a certeza com a qual Daniel descançou.
“Deus deu aos homens faculdades e aptidões. Deus trabalha e coopera com os dons que Ele comunicou ao homem, e este, sendo participante da natureza divina e fazendo a obra de Cristo, pode ser um vencedor e obter a vida eterna. O Senhor não tenciona realizar a obra que Ele concedeu ao homem poderes para efetuar. A parte do homem precisa ser realizada. Ele deve ser cooperador de Deus, unindo-se a Cristo, e aprendendo de Sua mansidão e de Sua humildade.”(Fé e obras. 26)
Existe uma parte que compete ao homem no que diz respeito a sua salvação. É necessário que o ser humano esteja sempre perto do Salvador, desta forma estermos com a salvação garantida através do sangue de Cristo Jesus.
Todos os cristãos podem ter em sua vida as vitórias que o profeta Daniel alcançou. Apenas precisamos ter uma vida de comunhão com Jesus tal como Daniel teve. É necessário abandonar as coisas que atrapalham a comunhão. A televisão, a internet, relacionamentos errados ou qualquer outra coisa que nos afastem de Deus precisam ser abandonadas e a Bíblia e a oração devem se tornar as nossas companheiras inseparáveis. Que o Senhor Jesus nos abençõe.
BIBLIOGRAFIA
MERRILL. Eugene H.– História de Israel no Antigo Testamento. Ed. CPAD
Ellen White. Santificação. Casa Publicadora Brasileira
Ellen White. Fé e Obras. Casa Publicadora Brasileira
Ellen White. Caminho a Cristo. Casa Publicadora Brasileira
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