O Evangelho do Auxílio
Sempre
(ou quase sempre) que fazemos algo importante por outra pessoa percebemos que
ganhamos a confiança dela. É muito comum recebermos um presente, um abraço ou
palavras de carinho de alguém por quem fizemos uma boa ação.
Deus,
enquanto nosso criador, tem a plena consciência de como as pessoas criam
vínculos entre si a partir da ajuda mútua e instituiu o método da ajuda como
uma das melhores formas de conquistar pessoas para o evangelho.
“Na
pregação do evangelho está incluído muito mais que meramente fazer sermões.
Deve esclarecer-se o ignorante, erguer-se o desanimado, os enfermos devem ser
curados. A voz humana deve desempenhar sua parte na obra de Deus. Palavras de
bondade, simpatia e amor devem dar testemunho da verdade. Ferventes e sinceras
orações devem trazer para perto os anjos. ... O Senhor vos dará sucesso nesta
obra. ... Ela está entretecida com a vida prática quando é vivida e praticada.
A união de obra cristã para o corpo e obra cristã para a alma é a verdadeira
interpretação do evangelho” (Review and Herald, 4 de março de 1902).
Na
Bíblia podemos encontrar diversos exemplos de pregadores que usaram a
beneficência para atrair as pessoas para Cristo. Um deles é Eliseu.
A Viúva Pobre
Um dia o sucessor de Elias encontrou-se com
uma viúva pobre. A Bíblia registrou assim: Ora uma dentre as mulheres dos filhos dos profetas clamou a Eliseu,
dizendo: Meu marido, teu servo, morreu; e tu sabes que o teu servo temia ao
Senhor. Agora acaba de chegar o credor para levar-me os meus dois filhos para
serem escravos (II Reis 4:1).
Um
dos servos de Eliseu havia morrido e a sua viúva estava precisando de ajuda
financeira. É interessante analisarmos a atitude do profeta. Primeiro Eliseu
sondou o que a viúva ainda tinha em casa e como ele poderia utilizar aquilo
para resolver seu problema.
Eliseu
não foi simplesmente assistencialista, ele não supriu a necessidade da mulher
sem que ela fizesse algo. O profeta deu uma tarefa para a família: Vai, pede emprestadas vasilhas a todos os teus
vizinhos, vasilhas vazias, não poucas. Depois entra, e fecha a porta sobre ti e
sobre teus filhos; deita azeite em todas essas vasilhas, e põe à parte a que
estiver cheia (II Reis 4:3-4).
Deus
multiplicou o azeite nas vasilhas daquela mulher e então o profeta deu outra
ordem: “Veio ela, pois, e o fez saber ao homem de Deus.
Disse-lhe ele: Vai, vende o azeite, e paga a tua dívida; e tu e teus filhos
vivei do resto” (II Reis 4:7).
Em todos os lugares encontraremos problemas relacionados
à fome e ao desemprego. Era isso que Eliseu enfrentava naquele momento, isso é
algo real dentro e fora das igrejas. A exemplo do que a Bíblia apresenta, não
podemos ser simplesmente assistencialistas ao ajudarmos as pessoas com
problemas de desemprego, por exemplo. Devemos aproveitar as habilidades delas e
ajudá-las a caminhar sozinhas. O profeta Eliseu poderia ter pedido a Deus a
quantia necessária para a viúva pagar suas dívidas. Mas ele mandou que fossem
procurar vender o azeite multiplicado e então viver do valor arrecadado.
As igrejas poderiam acrescentar ao seu planejamento
cursos profissionalizantes simples como culinária vegetariana, artesanato, dentre
outros. É certo que a igreja nunca deve perder o foco espiritual do seu
trabalho, mas o trabalho social faz parte da sua vivência na atividade
missionária. No caso da viúva pobre, através da ajuda dada a ela o nome de Deus
foi exaltado e, certamente, aquela família se aproximou mais de Deus. Assim
também acontecerá quando chegarmos às pessoas suprindo as suas necessidades. O
evangelho alcançará seu objetivo mais facilmente.
Eliseu e a Mulher Rica
É interessante que logo após o relato do encontro de
Eliseu com a viúva pobre, a Bíblia registrou o encontro do profeta com uma
mulher rica. É possível aprendermos uma lição aqui, pois, assim como o profeta,
também encontraremos na atividade missionária os dois extremos da condição
social, o rico e o pobre e precisamos atingir ambas as classes.
A Bíblia diz assim: “Sucedeu também certo dia que
Eliseu foi a Suném, onde havia uma mulher rica que o reteve para comer; e todas
as vezes que ele passava por ali, lá se dirigia para comer” (II Reis 4:8).
Deparamo-nos
agora com outra cidade e outra situação. A cidade de Suném pertencia à tribo de
Issacar (Jer. 19:18). Situada no vale de Jezreel ou Esdrelon, próximo ao monte
Gilboa.
Nesta
cidade Eliseu ganhou a simpatia da família desta mulher rica e, segundo o
relato bíblico, todas as vezes que o profeta passava por aquela cidade ele se
hospedava na casa dela. A Bíblia deixa claro o motivo que levou esta família a
admirar tanto este homem: “E ela disse a seu marido: Tenho observado que este
que passa sempre por nós é um santo homem de Deus. Façamos-lhe, pois, um
pequeno quarto sobre o muro; e ponhamos-lhe ali uma cama, uma mesa, uma cadeira
e um candeeiro; e há de ser que, quando ele vier a nós se recolherá ali” (II
Reis 4:9,10).
“Um
santo homem de Deus”. Esta foi a característica que mais impressionou a mulher rica.
Não foi a eloquência de Eliseu ou seus títulos acadêmicos, embora essas coisas
sejam importantes, não foram elas que atrairam os ricos a Eliseu.
A
Bíblia não registra nenhum método especial de contato entre Eliseu e a família
rica, embora tenhamos recomendações do Espírito de Profecia para que tenhamos
métodos e estratégias especiais para lidar com os ricos, no caso do sucessor de
Elias, a sua intimidade com Deus e o seu viver refletindo o caráter de Deus foi
o suficiente para ganhar a confiança da mulher rica e sua ajuda financeira.
Isso
traz uma lição para os missionários do século XXI que lidarão com a classe
social mais rica das cidades. O refinamento é importante, saber expressar-se também,
ter títulos acadêmicos ajuda, mas nada é mais importante e impactante do que a
vida consagrada de um cristão. Não é necessário esconder placas de igreja ou
omitir assuntos bíblicos, muito menos rebaixar as normas e princípios para
ganhar os mais ricos. Uma vida de firmeza nos princípios e de amor pelos irmãos
(independente da classe social) pode abrir quaisquer portas necessárias para o
ministério cristão.
Quando
olhamos mais a fundo esta história de Eliseu percebemos que embora a família
fosse rica, eles precisavam mais do profeta do que o profeta deles. Observamos
isso quando lemos: Sucedeu que um dia ele chegou ali, recolheu-se àquele quarto
e se deitou. Então disse ao seu moço Geazi: Chama esta sunamita. Ele a chamou,
e ela se apresentou perante ele. Pois Eliseu havia dito a Geazi: Dize-lhe: Eis
que tu nos tens tratado com todo o desvelo; que se há de fazer por ti? Haverá
alguma coisa de que se fale por ti ao rei, ou ao chefe do exército? Ao que ela
respondera: Eu habito no meio do meu povo. Então dissera ele: Que se há de
fazer, pois por ela? E Geazi dissera: Ora, ela não tem filho, e seu marido é
velho. Pelo que disse ele: Chama-a. E ele a chamou, e ela se pôs à porta. E
Eliseu disse: Por este tempo, no ano próximo, abraçarás um filho. Respondeu
ela: Não, meu senhor, homem de Deus, não mintas à tua serva. Mas a mulher
concebeu, e deu à luz um filho, no tempo determinado, no ano seguinte como
Eliseu lhe dissera (II Reis 4:11-17).
Eliseu
não só deu um filho ao casal, realizando seu sonho, como tempos depois ressuscitou
a criança e a devolveu a seus pais. Não importa a classe social, todas as
pessoas têm necessidades e se as suprirmos conseguiremos facilitar o acesso do
evangelho para elas.
Deus
deseja capacitar a sua igreja para o trabalho com as classes mais ricas. Sobre
este assunto Ellen White comenta: “Em cada esforço para alcançar as mais altas
classes, o obreiro de Deus necessita de forte fé. As aparências podem parecer
desoladoras, mas na hora mais escura há luz do alto. A força dos que amam a
Deus e a Ele servem será renovada cada dia. A mente do infinito está posta a
seu serviço, para que ao executarem Seu propósito não cometam erro (Atos dos
Apóstolos, 242).
Felizes
os cristãos que quando passam perante as pessoas da sua comunidade (ricos ou
pobres) podem receber as palavras: “este é um homem de Deus”. A história do
profeta Eliseu nos ensina que mesmo em uma cidade onde encontramos diferenças
sociais tão grandes, é possível desenvolver um ministério que atinge a todos os
setores econômicos e sociais.
Fome em Gilgal
Posteriormente
Eliseu foi para Gilgal. Lá se deparou com o outro extremo, tinha acabado de
sair de uma situação de fartura e se depara com uma terra onde a fome
prevalecia. Foi dada a ordem para preparar um cozinhado para os seus ajudantes,
“então um deles saiu ao campo a fim de apanhar ervas, e achando uma parra
brava, colheu dela a sua capa cheia de colocíntidas e, voltando, cortou-as na
panela do caldo, não sabendo o que era. Assim tiraram de comer para os homens.
E havendo eles provado o caldo, clamaram, dizendo: Ó homem de Deus, há morte na
panela! E não puderam comer (II Reis 4:39,40).
Novamente
Deus prova a sua atenção para com os necessitados. Através do profeta e de uma
porção de farinha, Ele transformou a comida não adequada para alimentar-se em
uma saborosa refeição. Mais uma vez a atenção das pessoas foi atraída para Deus
através do ato de suprir as necessidades do outro.
Calamidade em Samaria
Podemos
ainda encontrar outros episódios do ministério urbano de Eliseu no qual uma
necessidade suprida leva os olhos das pessoas a Deus. A cidade de Samaria
encontrava-se em uma situação de calamindade. Sitiada pelos sírios e com
extrema escasses de alimentos. A fome era tamanha que as pessoas chegaram a
atitudes extremas: “E houve grande fome em Samária, porque mantiveram o cerco
até que se vendeu uma cabeça de jumento por oitenta siclos de prata, e a quarta
parte dum cabo de esterco de pombas por cinco siclos de prata. E
sucedeu que, passando o rei de Israel pelo muro, uma mulher lhe gritou,
dizendo: Acode-me, ó rei meu Senhor. Mas ele lhe disse: Se o Senhor não te
acode, donde te acudirei eu? da eira ou do lagar? Contudo o rei lhe perguntou:
Que tens? E disse ela: Esta mulher me disse: Dá cá o teu filho, para que hoje o
comamos, e amanhã comeremos o meu filho.Cozemos, pois, o meu filho e o comemos;
e ao outro dia lhe disse eu: Dá cá o teu filho para que o comamos; e ela
escondeu o seu filho. Ouvindo o rei as palavras desta mulher, rasgou as suas
vestes (ora, ele ia passando pelo muro); e o povo olhou e viu que o rei trazia
saco por dentro, sobre a sua carne” (II Reis 6:25-30).
O
rei culpou o profeta, injustamente, pela fome da cidade e expediu uma ordem de
execução com o homem de Deus. O mesmo profeta que há pouco tempo havia exaltado
o Deus de Isreal e, consequentemente, o seu povo perante os sírios, agora era
acusado pela calamidade da cidade.
A
despeito da ingratidão do rei, o profeta deu a mensagem que Deus havia mandado:
“Então disse Eliseu: Ouvi a palavra do Senhor; assim diz o Senhor: Amanhã, por
estas horas, haverá uma medida de farinha por um siclo, e duas medidas de cevada
por um siclo, à porta de Samaria” (II Reis 7:1).
Mesmo
injustiçado pelo governante da sua cidade, Eliseu não desanimou da sua
atividade profética e Deus honrou a profecia por ele proferida: “Então saiu o povo,
e saqueou o arraial dos sírios. Assim houve uma medida de farinha por um siclo
e duas medidas de cevada por um siclo, conforme a palavra do Senhor”(II Reis
7:16). Deus restaurou a normalidade
em Samaria e mostrou aos israelitas e aos sírios quem era o Deus de Israel.
Em
todos estes episódios da vida de Eliseu, podemos perceber como o ato de ajudar
a quem precisa pode ser um excelente meio de fazê-los conhecer o evangelho.
Qualquer esforço nesse sentido é válido. Como diz Ellen White: “Uma alma arrancada
do poder de Satanás; uma alma que haveis beneficiado; uma alma encorajada! Isto
paga mil vezes todos os vossos esforços. A vós Jesus dirá: "Quando o
fizestes a um destes Meus pequeninos irmãos, a Mim o fizestes." Mat. 25:40”
(Beneficência Social, 97).
Auxiliar
àqueles que necessitam, seja de comida ou de atenção, abrirá para a igreja um
caminho através do qual poderemos acelerar a pregação do evangelho e finalmente
vermos face a face o nosso grande benfeitor Jesus Cristo.
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