Morto porque quis!
Felippe Amorim
Este texto tem um
público-alvo bastante selecionado. Não foi escrito para qualquer pessoa. Se
você não se encaixar nas pessoas para as quais esse texto está direcionado, por
favor, pare de ler.
Estas linhas são apenas
para pecadores. Pessoas que carecem da graça perdoadora de Deus. Quem não tem
pecados e, portanto, não precisa de perdão, pode parar de ler agora. Mas se
você pecou alguma vez na vida e precisa do perdão de Deus, não pare de ler.
Aqui há uma mensagem do céu para você.
A condição do Homem
A Bíblia apresenta, em
sua antropologia, qual a condição do homem após a primeira queda. O apóstolo
Paulo nos diz que “todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Rm
3:23) e completa o pensamento dizendo que “o salário do pecado é a morte”(Rm 6:23).
É isso mesmo, a
condição mais íntima do homem é a condição de condenado à morte. Segundo o que
lemos, TODOS são pecadores e necessitam da glória e graça de Deus. É
interessante a expressão usada por Paulo. Ele diz que o “salário” é a morte.
Quando você trabalha o
mês inteiro e no final dele seu salário é depositado, você provavelmente não
fica pensando que seu chefe lhe fez um tremendo favor depositando o salário. E
isso não é pensado porque o salário não é um favor que empresa te concede, você
merece o salário que está ganhando porque trabalhou para isso.
É assim também em
relação aos seres humanos quando se trata da morte. Ela não é nada mais e nada
menos do que o que nós merecemos. Aliás, a única coisa que nós podemos ter no
âmbito espiritual por merecimento é a morte.
O salmista reconheceu que a situação da humanidade é
muito difícil. Ele escreveu: “Se tu,
Senhor, observares as iniquidades, Senhor, quem subsistirá? Mas contigo
está o perdão, para que sejas temido” (Salmo 130: 3 e 4). Se Deus fosse considerar à risca cada um dos
nossos pecados e levá-los em conta para a salvação, então ninguém conseguiria
herdar a vida eterna. Ninguém! Se Deus pedisse conta dos pecados cometidos,
ninguém escaparia da condenação.
O tamanho da dívida que cada ser humano tem com o
céu foi ilustrado na parábola do credor incompassivo. Na história o primeiro
devedor estabelece a relação entre Deus e o ser humano e o segundo entre o ser
humano e seu próximo.
A dívida do primeiro homem, portanto, é uma
ilustração da nossa para com Deus. Lemos que “o reino dos céus é comparado a um
rei que quis tomar contas a seus servos; e, tendo começado a tomá-las, foi-lhe
apresentado um que lhe devia dez mil talentos;” (Mt. 18: 23 e 24).
Considerando os valores
da época, dez mil talentos correspondem a aproximadamente 166.000 anos de
trabalho de um trabalhador comum. Jesus exagerou na numeração exatamente para
demonstrar o quão grande e impagável é a dívida que temos com Deus. A situação
humana é irremediável, a menos que tenha uma intervenção de alguém maior que
este problema.
A disposição de Deus para perdoar
Deus
misericordiosamente intervém na situação humana e se mostra disposto a perdoar.
Mas, para que o perdão seja algo efetivo na vida do cristão são necessários
alguns passos. Deus estabeleceu em Sua palavra qual a parte do cristão no
processo de perdão:
1.
Confiar na graça.
Sempre se faz
necessário lembrar aos seres humanos que nada do que recebemos do céu está
baseado no nosso merecimento. Qualquer bênção recebida é uma expressão da graça
maravilhosa de Deus que é capaz de alcançar pessoas como nós. O perdão,
portanto, é fruto da misericórdia de Deus. Nossa dívida é impagável, como já
vimos, portanto dependemos da graça maravilhosa de Cristo
2.
Confessar
Outro requisito
necessário no processo de perdão é confessar os pecados. Deus não perdoa uma
pessoa que não reconhece sua necessidade de perdão.
Quando Davi passou por um doloroso processo de
perdão, após cometer uma série de pecados ele falou: Confessei-te o meu pecado, e a minha iniquidade não encobri. Disse eu:
Confessarei ao Senhor as minhas transgressões; e tu perdoaste a culpa do meu
pecado (Sl 32:5).
O apóstolo João confirma a
confissão como passo imprescindível para o perdão do pecador. Ele diz: Se
confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados
e nos purificar de toda injustiça (1 Jo. 1:9).
Confessar o pecado deve
ser um ato específico. Muito oram pedindo perdão de forma generalizada. A
oração “perdoa-nos pelos nossos pecados” é bastante adequada quando feita em
público, pois não seria conveniente a exposição perante os outros dos nossos pecados.
Mas quando estamos em nossa oração particular é importante que sejamos
específicos. Nomeie os pecados, isso ajudará até no processo de auto perdão
(também muito importante, já que muitos são perdoados por Deus, mas não se
perdoam).
O texto de João também
nos apresenta o ideal de Deus para nós: não pecar. Isso nos leva a pensar que o
perdão que Deus nos estende está ligado diretamente aos pecados acidentais. É
assim que o pecado deve se apresentar na vida do cristão. Não há nenhum ser
humano que não peque, a diferença do cristão verdadeiro é que ele não programa
o pecado, acontece por acidente. Para este tipo de pecado, há perdão garantido.
3.
Perdoar aquele que nos ofendem
Por alguma razão, Deus deixou seu perdão para
conosco vinculado ao perdão que nós estendemos aos nossos pares. Jesus deixou
isso bem claro quando disse: Porque, se
perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celestial vos perdoará
a vós; se, porém, não perdoardes aos homens, tampouco vosso Pai perdoará
vossas ofensas (Mt. 6: 14 ,15).
Sem dúvida esta afirmação de Cristo é uma tremenda
responsabilidade para nós. Considerando que todas as pessoas carecem de perdão
e se não forem perdoadas estão na situação de perdidos, então perdoar àqueles
que nos ofenderam é uma questão de salvação. Se alguém não perdoa a outro que o
fendeu, então Deus não o perdoa e se Deus não o perdoa, então esta pessoa está
condenada à morte eterna.
4. Abandonar
o pecado.
O perdão de Deus não é uma autorização para pecar.
Pelo contrário, quando Jesus nos perdoa ele recomenda que não pratiquemos mais aquele pecado. Não
podemos nos aproveitar da misericórdia de Deus para viver no erro. Paulo deixou
isso claro quando escreveu: Que
diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para que abunde a graça? De modo nenhum. Nós, que já morremos
para o pecado, como viveremos ainda nele? (Rm 6: 1,2).
5. Um
resumo dos requisitos
Há muitos textos na Bíblia que falam sobre o perdão.
O que está em 2 Crônicas 7:14 faz um bom resumo dos requisitos para o perdão,
está escrito: e se o meu povo, que se
chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e buscar a minha face, e se desviar
dos seus maus caminhos, então eu ouvirei do céu, e perdoarei os seus pecados, e
sararei a sua terra.
Os passos deste texto são: Humilhar,
orar, buscar e converter. Há um elemento aqui que gostaria de destacar: a
oração. Ela antecede o perdão pelos pecados. Quando pecamos temos uma sensação
de que não adianta orar, o inimigo quer nos convencer disso, mas é nesse
momento que devemos orar. Deus está aguardando nossa oração para nos dar mais
uma chance.
Exemplos que confortam o coração
A Bíblia nos apresenta
pessoas que foram perdoadas de pecados terríveis. A seguir veremos três
exemplos de como Deus pode perdoar até o mais cruel dos pecadores se ele se
arrepender do que fez.
O primeiro exemplo é
uma das mais impressionantes histórias de perdão da Bíblia. Algumas pessoas
falam que o Deus do antigo testamento é mais cruel e duro que o do novo
testamento. Essa teoria cai por terra quando lemos a história do rei Manassés e
descobrimos o tamanho da misericórdia de Deus para com ele.
Em 2 crônicas 33 lemos
uma incrível descrição do quão longe este rei foi no caminho do pecado. O
relato nos diz que Manassés levantou altares a baalins e postes-ídolos e os
serviu (v. 3), profanou o templo de Deus (v. 4 e 5), sacrificou os próprios
filhos (v. 6), fez feitiçaria e similares (v.6). Essa sem dúvida é uma
descrição assustadora de um homem completamente afastado do céu. Há um detalhe
a mais que torna a cena ainda pior. O texto bíblico afirma que Manassés fazia
essas coisas para provocar a Deus (v.6). Diante dos olhos humanos não há mais
esperança para alguém assim, mas não diante de Deus.
Logo depois da descrição dos terríveis pecados do
rei, lemos o seguinte: Pelo que o
Senhor trouxe sobre eles os comandantes do exército do rei da Assíria, os quais
prenderam Manassés com ganchos e, amarrando-o com cadeias de bronze, o levaram
para Babilônia. E estando ele angustiado, suplicou ao Senhor seu Deus, e
humilhou-se muito perante o Deus de seus pais; sim, orou a ele; e Deus se
aplacou para com ele, e ouviu-lhe a súplica, e tornou a trazê-lo a Jerusalém,
ao seu reino. Então conheceu Manassés que o Senhor era Deus (2 crônicas 33:
11-13).
Que relato impressionante! Mesmo depois de desafiar
a Deus com pecados tão graves, Manassés foi alcançado pela graça. Podemos
perceber no relato que não houve um prazo grande para que Deus analisasse se
iria ou não perdoar o rei. Deus havia mandado o juízo para que o coração do
pecador fosse tocado e imediatamente depois da confissão e humilhação de
Manassés veio o perdão e a restauração de Deus. Que consolo para nós! Se
Manassés pôde ser perdoado, também há perdão para nós.
A segundo história que quero compartilhar é a de
outro rei de israel. O grande rei Davi. Em 2 Samuel 11 está relatado uma série
de pecados que ele cometeu. Cobiça, adultério, mentira, assassinato e por quase
um ano ele tentou esconder seu pecado. Mas o nosso amoroso Pai celestial não
deixou Davi ficar naquela situação.
Assim como fez com Manassés, enviou um instrumento
através do qual despertou em Davi a sua real situação. O profeta Natã contou
uma história para Davi e o fez cair em si. Então o perdão aconteceu: Então disse Davi a Natã: Pequei contra o
Senhor. Tornou Natã a Davi: Também o Senhor perdoou o teu pecado; não morreras
(2 Sm 12:13). Perceba que o perdão veio imediatamente após a confissão. Deus
está sempre pronto a nos perdoar.
A terceira história que quero compartilhar está no
novo testamento. É o relato da mulher pecadora em João capítulo oito. A Bíblia
diz que ela foi apanhada em flagrante adultério e, portanto, era claramente
culpada. Apesar disso estava arrependida e o único que tinha autoridade para
condená-la disse: Nem eu te condeno;
vai-te, e não peques mais (Jo. 8:11). Perdão imediato novamente e
recomendação para o abandono do pecado.
Não há dúvidas de que nosso pai celestial está
sempre disposto a nos perdoar. Depende mais de nós do que dEle. Se nos
arrependermos e confessarmos sinceramente, o perdão será imediato em nossa
vida.
O preço do perdão
Às vezes temos a
tendência de pensar que todo esse perdão é de graça. Engano! O perdão é de
graça para nós. Mas alguém pagou o preço. Um alto preço.
Deus, ao estabelecer as leis cerimoniais, mostrou
uma representação de qual seria o preço do perdão. “Assim fará com o novilho; como fez ao novilho da oferta pelo pecado,
assim fará a este; e o sacerdote fará expiação por eles, e eles serão perdoados
(Lev. 4:20). O cordeiro deveria morrer para que houvesse perdão. Nos serviços
simbólicos do antigo testamento estava esboçado o preço do perdão. O apóstolo
Paulo afirma que “sem derramamento de
sangue não há remissão”(Hb 9:22). Sangue seria o preço pelo perdão, mas não
qualquer sangue. Um dia na cruz do calvário Jesus bradou “está consumado”(Jo.
19:13), ou seja, está pago! Foi o sangue de Jesus derramado na cruz que nos
possibilitou o perdão.
Paulo ratifica esta ideia: Antes sede bondosos uns para com os outros, compassivos, perdoando-vos
uns aos outros, como também Deus vos perdoou em Cristo (Ef. 4:32). Deus
em Cristo nos perdoou e nos perdoa a cada dia. Não tem como não amar e ser
grato a um Deus assim. O salmista reconhecia isso ao afirmar que deveríamos
louvar ao Senhor porque “é ele quem
perdoa todas as tuas iniquidades, quem sara todas as tuas enfermidades” (Salmo
103:3).
Morto porque quis.
Conta-se uma história
de um condenado à morte no velho oeste dos EUA. Aquele homem havia se envolvido
numa briga de bar e acabou matando um homem. Por causa disso estava no corredor
da morte esperando o dia da execução. A população da cidade resolveu pedir ao
governador do Estado para perdoá-lo.
Depois de analisar o
caso, o governador resolveu conceder o perdão, mas queria conhecê-lo antes.
Colocou a carta de perdão dentro de uma Bíblia, se disfarçou de pastor e foi à
prisão. Quando chegou à cela daquele homem, portando a carta que o livraria da
morte, foi mal recebido e veementemente rejeitado. Mesmo assim insistiu dizendo
para o preso que tinha dentro daquele livro algo muito bom, mas o condenado não
o recebeu. Quando o governador foi embora, o carcereiro falou ao preso o que
ele havia perdido.
No dia da execução, o
condenado pediu para pronunciar suas últimas palavras e então disse: “Não estou
morrendo por matei um homem, estou morrendo porque rejeitei o perdão”. É assim
também em relação ao reino de Deus. Ninguém se perderá porque pecou, mas sim
porque rejeitou o perdão de Deus.
“Quem é comparável a
ti, ó Deus, que perdoas o pecado e esqueces a transgressão do remanescente da
sua herança? Tu, que não permaneces irado para sempre, mas tem prazer em
mostrar amor. De novo terás compaixão de nós; pisarás as nossas iniquidades e
atirarás todos os nossos pecados nas profundezas do mar” (Mq. 7:18-19). O
perdão de Deus é garantido a todos os que O buscam.
Sou muito grato a Deus
por seu amor que me alcança e que pode alcançar a qualquer pessoa deste planeta
com perdão e salvação. Resta-nos aceitar o perdão de Deus e viver uma vida de
gratidão a Ele.
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