A Família de Jó
Estabelecendo
Prioridades
Um
filósofo, dando aulas para seus discípulos, resolveu ensiná-los uma grande
lição. Ele elaborou o seguinte raciocínio: pegou quatro vasos pequenos
contendo, respectivamente pedras grandes, pedregulho, areia e água. Depois foi
despejando, na mesma sequência acima, todos os elementos em um vaso grande. Os
alunos logo entenderam que a sequência tinha que ser partindo da pedra grande,
passando pela pedra pequena, areia e, finalmente a água. Se começasse pela
água, sobraria material para encher o vaso grande.
O que
o filósofo queria ensinar era que seus alunos deveriam colocar o mais
importante em primeiro lugar; o resto serviria para preenchimento.
Esta é
uma lição que todos nós devemos aprender. Infelizmente, alguns estabelecem as
prioridades erradas e vão deixando o essencial para depois e depois e, quando
percebem, já não tem mais tempo para o que deveria estar em primeiro lugar.
Quando
falamos sobre a vida familiar, a preocupação com as prioridades certas deve ser
mais acentuada ainda. A seguir vamos pensar um pouco mais sobre as verdadeiras
prioridades e como elas devem ser aplicadas em nossa vida. Vamos retirar esses
ensinamentos da vida e família de Jó.
Na
introdução do livro de Jó encontramos as seguintes palavras: “Havia um homem na
terra de Uz, cujo nome era Jó; e era este homem íntegro, reto e temente a Deus
e desviava-se do mal” (Jó 1:1).
O livro de Jó
Jó se tornou muito
famoso devido à sua resistência ao sofrimento e sua fé diante de problemas
gigantescos. Mas estas não são as primeiras mensagens do livro. Embora deva
admitir que a maior parte do livro refere-se ao sofrimento, existe outra
mensagem no livro que é anterior a esta.
Possivelmente, Jó foi
contemporâneo de Moisés[1].
Aliás, algumas pessoas não sabem, mas o livro de Jó foi escrito por Moisés durante
os 40 anos que ele viveu no deserto de Midiã, naquele período em que Deus
estava fazendo Moisés perder a autossuficiência adquirida no Egito e ganhar a
dependência de Deus tão necessária para a sua missão.
O livro de Jó,
portanto, foi o primeiro livro da Bíblia a ser escrito. A Bíblia diz que a
história se passa na Terra de Uz. O primeiro livro da Bíblia não tem seu
cenário num contexto israelita. Possivelmente, Uz ficava perto do rio Eufrates.
Um ambiente cercado de paganismo e com muita propensão ao esquecimento do Deus
verdadeiro.
Neste ambiente se
desenvolve a história de um dos homens mais fiéis que a terra já conheceu. Isso
nos ensina que não importa o ambiente em que nos encontramos, o que importa é a
decisão de servir verdadeiramente a Deus. É nesse ambiente hostil à religião
verdadeira que nasce uma família fiel a Deus.
O primeiro livro
escrito da Bíblia tem um contexto familiar. Acho lindo pensar que a primeira
mensagem escrita de Deus à humanidade foi a de uma família fiel e feliz. Antes
mesmo de apresentar o Grande Conflito ou a fidelidade de Jó, Deus resolveu nos
mostrar uma família que O honrava. Deus tem como prioridade a família e isso
ficou bem claro com o tema que Ele escolheu para começar seus escritos
sagrados.
O Retrato da Família de Jó
Jó, o
patriarca.
Gostaria
de apresentar a você os membros da primeira família descrita da Bíblia. Vamos
começar pelo patriarca, Jó. A Bíblia o descreve com alguém íntegro, reto,
temente a Deus e que se desviava do mal. Estas características são bastante
significativas e vale a pena pararmos um pouco nelas.
Ser integro do ponto de
vista bíblico não indica ausência de pecados. A palavra “Íntegro” é a tradução
da palavra hebraica “Tam” e da palavra Grega “Teleios”. Outras traduções possíveis e
até mais esclarecedoras são: Maduro ou plenamente desenvolvido. Então, quando a
Bíblia diz que Jó era íntegro, não estava falando de impecabilidade, mas estava
descrevendo alguém que não parava de crescer espiritualmente. Alguém que estava
espiritualmente maduro dentro de sua fase.
A integridade bíblica
se dá de maneiras diferentes entre as crianças, jovens e adultos e entre os
cristãos de berço e os cristãos mais recentes na fé. É por isso que não podemos
ficar comparando as pessoas na igreja, porque cada uma está num estágio da
carreira cristã e seu objetivo deve ser estar plenamente desenvolvido para
aquele estágio.
O problema é que muitos
cristãos estão atrofiados espiritualmente. Estagnados na vida cristã. Há muito
tempo não progridem no conhecimento da palavra de Deus, no relacionamento com
Cristo e, por isso, estão atrofiados espiritualmente. Para Deus o íntegro é
aquele que não para de crescer.
Outra característica de
Jó é a sua retidão. Essa é uma faceta daqueles que seguem fielmente a Jesus,
caminham sempre pelo caminho de Deus que é reto em direção ao céu. “Reto” é uma
descrição moral dele, ele era coreto em seus negócios, honesto com seus
funcionários.
Jó também era temente a
Deus. Esta é uma expressão que denota alguém leal e devoto, que ama a Deus
profundamente.
Finalmente Jó é
descrito como alguém que se desvia do mal. Perceba que essa é uma
característica que indica que Jó estava decidido a se afastar de tudo que era
ruim. As outras três características se referem a coisas abstratas, mas esta
última é bem concreta. Jó, conhecendo suas inclinações, estava decidido a
passar bem longe do mal. Esse é um exemplo a ser seguido. Alguns cristãos
gostam de viver perigosamente e arriscam-se ficando perto de suas tentações.
Muitas vezes são jovens que arriscam sua pureza namorando em lugares isolados,
outras vezes são pessoas casadas que entram em conversas muito íntimas com
alguém que não é seu cônjuge ou homens de negócio que arriscam sua integridade
moral em negócios duvidosos. O conselho bíblico é: ande o mais distante
possível do mal.
As Riquezas
Jó
1:3 nos diz assim: “E o seu gado era de sete mil
ovelhas, três mil camelos, quinhentas juntas de bois e quinhentas jumentas;
eram também muitíssimos os servos a seu serviço, de maneira que este homem era
maior do que todos os do oriente” (Jó 1:3).
Ele era um homem muito rico. Tinha os bens mais
valorizados de sua época. Ovelhas, Camelos, Jumentas e servos. Os
camelos de forma especial nos indicam que ele fazia transações comerciais à
longa distância. Era para isso que os camelos eram usados. Jó era como um dono
de uma multinacional. A Bíblia chega a dizer que ele era o mais rico do oriente.
Também podemos inferir que ele era um pai de família trabalhador, pois, sem
dúvida, foi com trabalho honesto e diligente que ele construiu tudo o que tinha.
Precisamos
observar, no entanto, que toda a prosperidade e todo o trabalho não impediam que
ele fosse um homem consagrado e que cuidava bem de sua família. Infelizmente,
hoje vemos muitos pais que têm carros do ano, que possuem as melhores roupas,
que dão para os filhos os presentes mais caros, porém, pecam em cuidar da
família. Pensam que dando dinheiro para os filhos poderão substituir a presença
deles, mas a vida tem mostrado que um dia esses pais colherão consequências
assustadoras na vida dos seus filhos.
Há
alguns anos fui pregar durante uma semana em uma igreja de uma capital do
Nordeste brasileiro. Fiquei hospedado na casa de uma família que me acolheu
muito carinhosamente. Naquela semana pude ver o exemplo de uma família que
desfrutava de uma excelente condição financeira, mas não deixava com que isso
afetasse a educação dos filhos e o relacionamento entre o casal.
Poucas
vezes encontrei crianças tão educadas e tão cristãs quanto o casal de filhos
daqueles irmãos. O carinho entre os pais também era algo notório. Ali vi um bom
exemplo de uma família que não deixava com que o dinheiro e o trabalho se
sobrepusessem às coisas essenciais da família: Deus e o amor mútuo.
A esposa de Jó
Temos
poucas informações sobre a esposa de Jó. No livro inteiro só encontramos um
versículo que fala de forma mais direta dela: “Então
sua mulher lhe disse: Ainda reténs a tua sinceridade? Amaldiçoa a Deus, e
morre” (Jó 2:9). Se lermos apenas estas palavras e não pararmos para refletir,
corremos o risco de condenar a esposa de Jó de maneira injusta.
O Targum, livro de tradições judaicas, diz
que o nome dela era Diná e que seria uma das filhas de Jacó. Nesse caso, Jó
seria genro de Jacó. Mas tudo isso é o que fala a tradição, não temos como
comprovar.
A LXX apresenta um
suposto discurso ampliado da esposa de Jó: “E depois de ter passado muito
tempo, sua mulher lhe disse: Quanto tempo ainda irás aguardar, dizendo: ´Eis
que esperarei um pouco mais, aguardando a esperança do meu livramento?´ Pois
eis que foi abolido da Terra o teu memorial: os teus filhos e filhas, as
angústias e dores do meu ventre, que, com sofrimento, dei à luz em vão; e tu
mesmo te assentas para passares as
noites ao relento, em meio à corrupção dos vermes, e eu sou uma
peregrina e uma serva que vai de lugar em lugar e de casa em casa, esperando o
sol se pôr para eu possa descansar de meus
labores e das dores que agora me perseguem: mas diz alguma palavra
contra o Senhor e morre[2]”. Este é um trecho que carece de mais fontes
para ser confirmado como verdadeiro, mas ele nos ajuda a imaginar o que a
esposa de Jó passou.
Trabalho em Escolas há
dez anos e já me deparei com histórias de algumas mães que perderam seus
filhos. Uma dessas aconteceu numa escola no sul do Brasil. Um jovem do Ensino
Médio que não apresentava doença alguma morreu subitamente logo depois de ter
retornado da escola. Os exames póstumos não conseguiram apresentar as causas da
morte. Foi uma tristeza para a escola e uma tragédia para a família. A mãe
daquele menino ficou de tal forma abalada que precisou ser medicada e depois de
muitos dias da morte ainda sofria muito. Uma mãe nunca deixa de sofrer pela
morte de um filho, mesmo que passem muitos anos.
A morte de um filho já
destrói uma mãe, agora avalie o que significa perder dez filhos de uma vez.
Certamente a esposa de Jó estava em um estado de sofrimento fora do imaginável.
Assim conseguimos dar um desconto para as palavras que ela falou ao seu marido.
Não podemos esquecer que uma família bem estruturada certamente tem a
participação da mãe e a família de Jó era assim. Podemos ter certeza que ela
era uma boa mãe.
Os Filhos
Outra evidência de que
a família da Jó era um exemplo de uma família feliz são os seus filhos. A
Bíblia os descreve assim: “E nasceram-lhe sete
filhos e três filhas. (...)
E iam seus filhos à casa uns dos outros e faziam
banquetes cada um por sua vez; e mandavam convidar as suas três irmãs a comerem
e beberem com eles” (Jó 1: 2,4).
Observe que os banquetes
nas casas uns dos outros eram frequentes e a expressão “cada um por sua vez”
nos indica, possivelmente, o aniversário da cada um, quando se reuniam para
festejar. Sem dúvida eram filhos unidos e que gostavam de estar juntos.
O segredo da família de Jó
Temos
na família de Jó um exemplo a ser seguido e eu creio que foi por isso que Deus
começou a produção das escrituras sagradas com este exemplo. Para que as
famílias do Seu povo pudessem imitar esta família.
Vale
a pena, então, nos aprofundarmos um pouco mais na família de Jó e descobrirmos
qual o segredo para tanta felicidade, fidelidade e união.
As
Escrituras Sagradas nos indicam esse segredo: “Sucedia,
pois, que, decorrido o turno de dias de seus banquetes, chamava Jó, e os
santificava, e se levantava de madrugada, e oferecia holocaustos segundo o
número de todos eles; porque dizia Jó: Talvez pecaram meus filhos, e
amaldiçoaram a Deus no seu coração. Assim fazia Jó continuamente” (Jó 1:5).
Jó chamava seus filhos e os santificava.
Esse era o trabalho de um pai que entendia que era o sacerdote da família. Ele
compreendia que a responsabilidade espiritual de todos passava por ele. É
verdade que depois que os filhos crescem cada um tem liberdade de decidir o que
fará de sua vida e os pais não podem ser responsabilizados por isso. Mesmo
assim os pais precisam continuar intercedendo pelos filhos. Era isso que Jó
fazia. Ele chamava os filhos em casa periodicamente e os filhos iam. Ainda
existia respeito dos filhos para com os pais mesmo depois de crescidos.
É possível que Jó
intercedia pelos filhos para que eles
não fossem tentados pelo conforto no qual viviam. Essa oração deveria ser feita
por cada pai do mundo atual. Deveriam ensinar seus filhos a darem mais valor ao
que é divino e pedir a Deus que os conserve assim.
Tudo o que o patriarca
fazia em relação aos seus filhos era um reflexo de sua própria vida espiritual.
A Bíblia diz que ele se levantava de madrugada para orar por sua família. Jó
tinha muita gente por quem orar e por isso precisava de bastante tempo
tranquilo.
Hoje vivemos em um
período de muita correria. As pessoas acordam cedo e dormem tarde correndo
atrás de acumular bens. Mas o hábito de acordar mais cedo para orar deve ser
algo cultivado. Não é algo fácil e natural. Precisamos nos condicionar a isso,
mas tenha certeza de que uma hora a menos de sono não vai te matar, mas uma
hora a mais de consagração pode te manter vivo espiritualmente.
Era assim a vida de Jó.
Ele intercedia pelos filhos e o fazia continuamente. Que impressionante! Embora
rico, influente e cheio de reponsabilidades não deixava de buscar a Deus. Nada
o impedia de cuidar dos filhos física e espiritualmente. Certamente ele não era
menos ocupado que muitos pais de hoje, mas tinha bem fixo diante de seus olhos
qual era a prioridade de sua família.
Espiritualidade: base de uma família feliz
Cada casa deveria ser
uma pequena igreja. Falo isso no sentido de que cada casa deveria ter a
presença constante de Deus e ter um clima constante de felicidade no Senhor.
Mas isso só é possível quando Deus é colocado como prioridade. Não há problema
em trabalhar, acumular bens, ter uma vida confortável. O problema começa quando
essas coisas são as nossas prioridades em detrimento da vida espiritual.
É preciso investir
tempo na espiritualização do lar: “Em muitos lares a oração é negligenciada. Os
pais entendem que não possuem tempo para o culto da manhã e da noite. Não podem
economizar alguns momentos para serem dispendidos em ações de graças a Deus
pelas Suas abundantes misericórdias - pela bendita luz do Sol e pela chuva, as
quais fazem com que a vegetação floresça, e pela guarda dos santos anjos. Não
têm tempo para fazerem oração pedindo auxílio e guia divinos, e rogando a
contínua presença de Jesus na casa. Saem para o trabalho como o boi ou o
cavalo, sem um pensamento de Deus ou do Céu. Têm almas tão preciosas que, em
vez de consentir o Filho do homem ficassem elas perdidas, deu Ele a vida para
resgatá-las; eles, porém, têm pouco mais apreciação de Sua grande bondade do
que a têm os animais que perecem[3]”.
O salmista Davi já
falava há muito tempo sobre a única forma de manter uma vida feliz e,
consequentemente, um lar feliz. “Com que
purificará o jovem o seu caminho? Observando-o conforme a tua palavra. Com todo
o meu coração te busquei; não me deixes desviar dos teus mandamentos. Escondi a
tua palavra no meu coração, para eu não pecar contra ti” (Salmos 119:9-11). Sem religião
todos ficarão sem rumo.
Deus se sente feliz em
estar numa casa onde Ele é prioridade. “Semelhantes aos patriarcas da
antiguidade, os que professam amar a Deus devem construir um altar ao Senhor
onde quer que armem sua tenda. Se houve um tempo em que cada casa deve ser uma
casa de oração, é hoje. Pais e mães devem muitas vezes erguer o coração a Deus
em humilde súplica por si e por seus filhos. Que o pai, como o sacerdote da
casa, deponha sobre o altar de Deus o sacrifício da manhã e da tarde, enquanto
a esposa e filhos se unem em oração e louvor. Em uma casa tal, Jesus gostará de
demorar-Se[4]”.
Imagine o privilégio de
morar numa casa onde o próprio Cristo tem prazer em ficar. Hoje Deus te convida
a seguir o exemplo de Jó, dando prioridade à religião em seu lar, não
permitindo que o trabalho atrapalhe a comunhão da família. Entregue sua família
nas mãos de Deus e permita que ele faça dela uma família feliz.
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