Pedir, Buscar e
Bater
Felippe Amorim
Existem muitos textos na Bíblia que falam a respeito da oração. Um dos mais lembrados é o que se encontra no final do sermão da montanha. São palavras de Jesus: Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e encontrareis; batei, e abrir-se-vos-á. Porque, todo o que pede, recebe; e, o que busca, encontra; e, ao que bate, abrir-se-lhe-á. E qual de entre vós é o homem que, pedindo-lhe pão o seu filho, lhe dará uma pedra? E, pedindo-lhe peixe, lhe dará uma serpente? Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará bens aos que lhe pedirem? (Mateus 7:7-11).
Eu gosto deste texto, dentre outras coisas, porque ele
foi escolhido para terminar o mais longo sermão do Mestre. Dentre tantos temas
que poderiam ser tratados por Cristo, ele escolheu a oração. Esse é um tema
importante. Aliás, dizer que a oração é importante é diminuir o seu valor, ela
é essencial. Quando Deus quis comparar a oração com algo conhecido por nós ele
a comparou à respiração[i],
nada mais essencial para a vida.
Além de essencial, a oração é um tema muitas vezes
difícil, há alguns pontos que ainda são obscuros. “Quando
um aluno de doutorado de Princeton perguntou: “O que ainda resta no mundo para
ser tema de uma tese original?”, Albert Einstein respondeu: “Investiguem a
oração. Alguém precisa investigar a oração[ii]”.
Acredito que para algumas perguntas sobre a oração só obteremos respostas no
céu.
Jesus
vivia numa comunidade que valorizava muito a oração. Algumas frases Judias
sobre oração nos ajudam a avaliar esse fato. “Deus está tão perto de suas
criaturas quanto a orelha está perto da boca[iii]”.
Sobre a capacidade de Deus ouvir, eles afirmavam: “Os seres humanos
dificilmente podem ouvir a duas pessoas que falam ao mesmo tempo, mas Deus é
capaz de nos ouvir a cada um de nós, mesmo que todo mundo clame a Ele em um
mesmo momento[iv]”, e sobre a solicitude de
Deus era dito: “O homem se incomoda quando o chateiam os pedidos dos seus
amigos, mas no caso de Deus, cada vez que alguém eleva a Ele suas necessidades,
mais o ama[v]”.
Quando Jesus falou as palavras do texto bíblico citado acima, as pessoas tinham
muita familiaridade com o assunto.
O texto
está dividido em três seções. A primeira é a promessa, a segunda a repetição da
promessa e a terceira a ilustração da promessa. As palavras de Cristo falam de
uma oração atendida sempre com um SIM. Esta não é uma oração muito comum. Basta
avaliar uma coisa: Quantos pedidos você fez a Deus na última semana? Quantas
dessas orações foram respondidas com SIM? Fiz essas perguntas na igreja onde
sou pastor e a diferença entre a quantidade de pessoas que fizeram pedidos e as
que receberam um SIM para todos eles foi gritante. Então, temos que perguntar: Que
oração é essa que recebe um SIM sempre?
A Promessa
Pedi, e dar-se-vos-á;
buscai, e encontrareis; batei, e abrir-se-vos-á. (V. 7)
O texto inicia-se com três ordens: Pedir, buscar e bater.
Estas palavras são uma tradução de um tempo verbal grego chamado “imperativo
presente” que nos passa uma ideia de continuidade. O texto poderia ser escrito
assim “Peçam sempre e sigam pedindo; procurem sempre e sigam procurando; batam
sempre e sigam batendo[vi]”.
Encontramos aqui uma clara progressão. As palavras estão numa espécie de ordem
crescente que indica uma frequência muito grande do ato de orar.
Outra coisa que aprendemos com o tempo verbal é a perseverança.
Conheço pessoas que oram pelo mesmo motivo há vinte anos. Mas desconfio que não
são muitas as pessoas que são perseverantes. Quanto tempo você persevera em
oração por uma causa que lhe é importante?
Não insistimos em oração para mudar a Deus, mas para mudar
a nós mesmos. Como diz o filósofo Soren Kierkgaard: “Na oração, a verdadeira
relação não acontece quando Deus ouve aquilo pelo que se ora, mas quando a
pessoa que ora continua orando até ser ela quem ouve, quem ouve o que Deus quer[vii]”.
Muitas vezes Deus permite que haja uma
demora nas respostas às nossas orações para que tenhamos tempo de ter nosso
coração mais assemelhado ao dEle e compreendamos que muitas vezes o que estamos
pedindo não seria o melhor para nós. A perseverança na oração nos ajuda a mudar
nosso coração.
A
primeira ordem que encontramos no texto é “pedir”. Esta é uma atitude
de quem necessita, mas, além de necessitar, reconhece a sua necessidade. Há
algumas pessoas, no entanto, que necessitam e sabem disso, mas não são humildes
o suficiente para pedirem. O pedido ao qual o texto se refere é o pedido de
alguém que está necessitando muito de algo essencial como o alimento. Isso fica
mais claro quando olhamos para a ilustração que
Jesus fez na área alimentar. Devemos orar pedindo como um faminto pede comida.
O pedido que será atendido é aquele referente a uma necessidade vital.
A
segunda ordem é “buscai”. Esta ordem envolve atitude. Quando queremos muito
alguma coisa, devemos orar, mas também fazer o que está ao nosso alcance. Orar
e agir. Quando alguém ora pedindo um emprego, deve depois da oração vestir sua
melhor roupa e sair à procura dele. Quando alguém ora pedindo uma solução para
seu casamento em crise, deve avaliar qual a sua parte para que o casamento saia
da crise. É importante que alguém que ora por saúde faça a sua parte cuidando
da alimentação, fazendo atividade física etc. Assim deve acontecer com todas as
outras áreas da vida. “Há condições para o cumprimento das promessas de Deus, e
a oração nunca pode substituir o dever[viii]”.
Deus não fará por nós o que nós mesmos podemos fazer. Cada um deve cumprir sua
parte.
A
terceira ordem é “batei”. Ela completa a ideia de não desistir do que se quer.
Jesus nos deu o exemplo. Ele bate quando quer muito algo. Em apocalipse disse:
“Eis que estou à porta e bato” (Ap. 3:20).
Ele quer muito nos salvar, por isso insiste em bater. Assim deve ser
também todos aqueles que querem uma bênção de Deus. Devem persistir com vigor.
A repetição da promessa
Porque, todo o que
pede, recebe; e, o que busca, encontra; e, ao que bate, abrir-se-lhe-á. (V. 8)
Na
repetição da promessa encontramos novamente os três verbos, mas há um elemento
novo. O texto diz que “todo” o que pede recebe. A oração é um instrumento democrático, todos
podem usar. Não importa se é rico ou pobre, feio ou bonito, alto ou baixo,
culto ou ignorante. Qualquer um pode ter acesso a Deus. Esse acesso foi aberto
para nós, como diz Paulo: “tendo, pois, irmãos, ousadia para entrar no santuário,
pelo sangue de Jesus” (Hebreus 10:19). O acesso é livre para todos os que
aceitam o sacrifício de Cristo.
No
início deste ano trabalhamos para conseguir uma escola pública da cidade para o
clube de desbravadores se reunir aos domingos. A diretora da escola foi muito
simpática, mas nos falou que só poderia liberar a escola com a autorização da
secretária de educação do município. Começamos a tentar contato com a
secretária, mas não conseguíamos falar. Falamos com quase uma dezena de
pessoas, mas não conseguimos a secretária. Finalmente conseguimos a
autorização, mas através de terceiros. Não conseguimos falar com a secretária
de educação. Geralmente, falar com as autoridades políticas do país é algo
difícil, mas falar com a maior autoridade do universo é muito fácil. O caminho
foi aberto pelo sangue de Cristo.
A Ilustração da Promessa
E qual de entre vós é o
homem que, pedindo-lhe pão o seu filho, lhe dará uma pedra? E, pedindo-lhe
peixe, lhe dará uma serpente? Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas
aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará bens aos que
lhe pedirem? (V. 9-11)
Para
ilustrar seu ensinamento Jesus usou a figura do pai. Essa figura nos remete a
amor, cuidado e proteção. Perguntei a um pai: se seu filho adoecesse às três da
manhã e o remédio que o curaria só fosse vendido em uma cidade a 300 km de
distância, o que você faria? A resposta foi: “sairia de casa às três da manhã e
iria buscar o remédio aonde fosse”. Essa, sem dúvida, é uma resposta esperada.
Qualquer pai amoroso faria isso. Deus é nosso Pai em muito maior grau e por
isso cuida de nós e quer nos ver feliz muito mais que nossos pais terrestres.
Ao ilustrar
sua lição, Jesus disse que Deus daria boas coisas aos seus filhos. Isso quer
dizer que se pedirmos coisas que não nos serão uma bênção, Deus terá o prazer
de dizer não para nós. Quem decide o que é bom ou não para nós é Ele e nós
podemos confiar totalmente em sua onisciência. Um pastor disse certa vez: "Nada está fora do alcance da oração, exceto aquilo que
está fora da vontade de Deus". Precisamos confiar.
Mas pode surgir uma pergunta nesse momento: Por que pedir
se Deus já sabe o que eu quero e preciso? A resposta é que Deus deseja que
exercitemos nossa fé. Diz Ellen White: “Faz parte do plano de Deus
conceder-nos, em resposta à oração da fé, aquilo que Ele não outorgaria se o
não pedíssemos assim[ix]”. Não há uma explicação definitiva para esta
pergunta, mas esta resposta já atende àquilo que necessitamos para acalmar
nosso coração.
A oração que sempre recebe SIM
Diante de tudo o que vimos até agora já conseguimos
entender muitos aspectos importantes da oração. Mas uma coisa ainda não foi
respondida: A qual oração o texto de Mateus 7:7 se refere? Que oração é esse
que sempre recebe um SIM como resposta?
O texto
paralelo nos ajuda a entender melhor: “Pois se vós, sendo maus, sabeis dar boas
dádivas aos vossos filhos, quanto mais dará o Pai celestial o Espírito Santo
àqueles que lho pedirem?” (Lucas 11:13).
No
lugar de boas coisas, o evangelista Lucas escreveu o Espírito Santo. Aqui está
a chave para entender o verso. São as orações pedindo bênçãos espirituais que
são sempre respondidas com um SIM. Lucas nos apresenta a maior bênção
espiritual e a fonte de todas as outras: o Espírito Santo.
Não podemos esquecer o contexto em que Mateus 7 foi
escrito. Jesus havia estabelecido um alto padrão espiritual para a vida cristã
ao longo do sermão da Montanha. Certamente as pessoas que o ouviram estavam
sentindo o peso daquele desafio, então o Senhor diz: vocês precisam de forças para
alcançar o alto padrão do sermão do monte? Peçam e receberão, busquem e
acharão, batam e lhes será aberto.
No sermão da montanha encontramos diversos desafios
espirituais. A seguir preparei uma amostra deles:
i.
Humildade (5:3)
ii.
Mansidão (5:5)
iii.
Fome e sede de Deus
(5:6)
iv.
Ser misericordioso
(5:7)
v.
Limpeza de coração
(5:8)
vi.
Amar a paz (5:9)
vii.
Ser um missionário (5:
13-16)
viii.
Ser obediente (5:
17-20)
ix.
Amar ao próximo (5:21 –
26)
x.
Fidelidade conjugal (5:
27-32)
xi.
Falar a verdade (5:
33-37)
xii.
Perdão (5: 38 – 42)
xiii.
Generosidade (6: 1-4)
xiv.
Orar mais (6: 5-15)
xv.
Não amar as riquezas (
6:24)
xvi.
Confiar em Deus (6:
25-34)
Somente
conseguiremos alcançar este padrão com a ajuda de Deus. É por isso que Deus
disse que se pedíssemos as bênçãos espirituais sempre seríamos respondidos com
um sonoro SIM. De qual benção espiritual você mais precisa? Você precisa
perdoar alguém? Você precisa de mais comunhão com Deus? Você precisa orar mais?
Não importa qual a bênção espiritual que você precisa, Deus sempre responderá com
SIM quando você pedir.
Pode
ser que Deus diga não para o pedido de um carro novo ou mais dinheiro, mas para
necessidades espirituais nunca ouviremos um não, então peça, busque e bata por
bênçãos espirituais.
Um comentário:
Graças a Deus por nos passar tanta segurança num momento em que necessitamos tanto de renovação espiritual, reforma e a Chuva do Espírito de Deus.
ORAR MAIS E MAIS! Necessidade urgente.
Obrigado Pr. Felippe pela mensagem inspiradora.
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