Boicotando a si
mesmo
De
vez em quando nos deparamos com campanhas incentivando o boicote a alguma
instituição ou produto. Em uma rápida consulta na internet encontrei campanhas
de boicote aos EUA, a redes de televisão, a refrigerantes, ao uso do petróleo e
muitas outras.
Porém
dificilmente alguém promoveria um boicote contra si mesmo. Pelo menos não
conscientemente.
O ressentimento é uma
das grandes armas do inimigo para tirar cristãos do reino de Deus. Muitas
pessoas estão vivendo pensando que estão caminhando rumo à salvação, mas estão
produzindo um boicote espiritual contra si mesmo. Muitos nem se apercebem
disso.
Jesus
nos deixou na Bíblia um alerta sobre este assunto que é tão importante, pois pode nos tirar do céu e, infelizmente,
muitos cristãos têm incorrido neste erro consciente ou inconscientemente.
O limite do
perdão
Certa
vez o apóstolo Pedro travou o seguinte diálogo com Jesus: Senhor, até quantas vezes pecará meu irmão contra mim,
e eu lhe perdoarei? Até sete? Jesus lhe disse: Não te digo que até sete; mas,
até setenta vezes sete. (Mateus
18:21-22)
O apóstolo Pedro fez uma pergunta
muito importante, considerando que nas relações humanas é quase impossível
conviver sem ofender de alguma forma aqueles que estão próximos a nós. Mas se
observarmos bem a pergunta, Pedro pergunta sobre o perdão a um irmão.
Geralmente as pessoas que mais cometem coisas ofensivas contra nós são aqueles
que estão mais próximos. Cônjuges, irmãos, pais e filhos, enfim, geralmente no
círculo familiar o perdão precisa ser colocado em prática mais frequentemente,
pois as ofensas também acontecem com certa frequência. Mas onde existirem
pessoas convivendo o perdão será necessário.
Os rabinos limitavam o número de perdões em até
três vezes. Portanto, para os líderes judaicos ninguém estaria obrigado a
perdoar a quarta vez e isso não seria incorrer em erro.
Pedro
então, para mostrar sua generosidade dobrou o número de perdões e acresceu mais
um. Quem sabe ele pensou: “Jesus ficará admirado comigo!”, mas a resposta de
Cristo o surpreendeu. O Senhor disse: “Setenta vezes sete”. Jesus não estava
limitando o número de perdões a 490 vezes, estava dizendo que devemos estender
perdão um número ilimitado de vezes.
Esta
é uma mensagem que traz benefícios espirituais para cada cristão, mas não para
por aí. Muitos benefícios emocionais também serão alcançados.
O
ser humano tem muita dificuldade de perdoar, mas o perdão é mais benéfico para
quem o dá do que para quem o recebe. Guardar ressentimento destrói emocionalmente
quem o guarda e aumenta a possibilidade de doenças cardíacas. Ressentimento,
alguém disse, é um veneno que você toma esperando que o outro morra.
Há,
no entanto, um ponto mais importante. Conceder perdão é ponto de salvação.
Jesus ilustrou este ensinamento em uma parábola: “Por isso o reino dos céus pode comparar-se a um certo rei que
quis fazer contas com os seus servos; E, começando a fazer contas, foi-lhe
apresentado um que lhe devia dez mil talentos; E, não tendo ele com que pagar,
o seu senhor mandou que ele, e sua mulher e seus filhos fossem vendidos, com
tudo quanto tinha, para que a dívida se lhe pagasse. Então aquele servo,
prostrando-se, o reverenciava, dizendo: Senhor, sê generoso para comigo, e tudo
te pagarei. Então o senhor daquele servo, movido de íntima compaixão, soltou-o
e perdoou-lhe a dívida. Saindo, porém, aquele servo, encontrou um dos seus
conservos, que lhe devia cem dinheiros, e, lançando mão dele, sufocava-o,
dizendo: Paga-me o que me deves. Então o seu companheiro, prostrando-se a seus
pés, rogava-lhe, dizendo: Sê generoso para comigo, e tudo te pagarei. Ele,
porém, não quis, antes foi encerrá-lo na prisão, até que pagasse a dívida.
Vendo, pois, os seus conservos o que acontecia, contristaram-se muito, e foram
declarar ao seu senhor tudo o que se passara. Então o seu senhor, chamando-o à
sua presença, disse-lhe: Servo malvado, perdoei-te toda aquela dívida, porque
me suplicaste. Não devias tu, igualmente, ter compaixão do teu companheiro,
como eu também tive misericórdia de ti? E, indignado, o seu senhor o entregou
aos atormentadores, até que pagasse tudo o que devia. Assim vos fará, também,
meu Pai celestial, se do coração não perdoardes, cada um a seu irmão, as suas
ofensas (Mateus 18:23-35).
O Primeiro servo
Nesta
ilustração de Jesus o primeiro servo devia dez mil talentos. Um talento
correspondia a 6000 denários, portanto, 10.000 talentos corresponderia a 60.000.000
de denários. Um denário era o que ganhava um trabalhador comum por um dia de
trabalho. Calculando esse valor em dias teríamos 60.000.000 de dias de trabalho,
ou seja, aproximadamente 165.000 anos de trabalho. Ninguém vive tanto.
Resolvi
atualizar estes valores. É lógico que não há correspondência exata entre a
nossa moeda e a dos dias bíblicos, mas nos servirá como ilustração.
Em 165.000 anos estão contidos 1.
980.000 meses. Se considerarmos o salário mensal de um trabalhador comum no
Brasil R$ 622,00, teríamos no final de um período como este o valor de R$ 1.231.560.000.
Este é um valor suficiente pra comprar 34.672 carros populares modelo 2012 que
custam em média R$ 35.000,00 ou daria pra montar uma biblioteca de 17.593.714 livros
de R$ 70,00 cada.
Em valores atuais ou dos tempos
bíblicos a conclusão é a mesma: A dívida era impagável. Mesmo assim o primeiro
servo fez um pedido ao rei: “Sê paciente comigo, e tudo te pagarei”. Essa era
uma promessa impossível de ser cumprida. Sabendo disso o Rei perdoou a dívida.
Nós somos este servo. Temos uma
dívida impagável com Cristo. A dívida que adquirimos com Deus por causa dos
nossos pecados nos faz condenados à morte (Rom. 6:23). Às vezes até pensamos
que poderíamos paga-la se fôssemos “bonzinhos”, obedientes, etc. A verdade é
que se conseguíssemos passar toda a vida sem cometer nem um ato pecaminoso,
nossa dívida ainda estaria do mesmo tamanho. Foi por isso que Jesus nos
ofereceu o perdão desta dívida na cruz do calvário. Graças ao amor de Cristo
por nós podemos ser perdoados de qualquer pecado que cometemos, basta
confessarmos a Jesus (1 Jo. 1:9).
O segundo servo
A
parábola conta que depois de ser perdoado, o primeiro servo saiu da audiência
com o rei e encontrou o segundo servo que o devia 100 denários. Este era o
valor correspondente a três meses de trabalho de um trabalhador comum.
Atualizando com os valores que usamos anteriormente daria R$ 1.680. Perceba o
contraste: o primeiro servo devia R$ 1.231.560.000 e o segundo devia R$ 1.680.
Mesmo
diante de toda esta diferença a Bíblia diz que o primeiro servo sufocava o
segundo dizendo: “paga a dívida”. Então foi feito um pedido: “Sê paciente
comigo, e tudo te pagarei”. O pedido foi igual ao que o primeiro servo fez ao
rei, a diferença é que o segundo servo teria condições de cumprir com a sua
promessa, mesmo assim ele foi lançado na prisão.
Nós
fazemos assim, queremos o perdão de Deus para nossos pecados, mas recusamos
perdoar aqueles que nos ofendem.
A Reação do Senhor
O primeiro servo deveria ser tão compassivo com o segundo quanto o
senhor foi com ele. O rei disse que ele deveria tratar o seu conservo “igualmente”.
Como ele não agiu assim foi preso até pagar toda a dívida, ou seja, ficou preso
para sempre já que sua dívida era impagável.
Se observarmos bem, a dívida que já havia sido perdoada retornou
condenando-o a morrer preso.
Duras lições bíblicas
Esta
parábola de Jesus encerra duras lições para nós. Primeiramente aprendemos que o
perdão de Deus para nós está vinculado ao perdão que oferecemos aos nossos
irmãos. No meio da oração que Jesus ensinou ele disse: “E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos
nossos devedores” (Mateus 6:12).
Jesus ainda acrescentou: “Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas,
também vosso Pai celestial vos perdoará a vós; Se, porém, não perdoardes aos
homens as suas ofensas, também vosso Pai vos não perdoará as vossas ofensas”
(Mateus 6:14-15).
Todos nós precisamos do perdão de Deus, porque todos, sem
exceção, pecamos. E mesmo que conseguíssemos ficar sem cometer atos
pecaminosos, ainda seríamos pecadores por natureza necessitados do perdão de
Deus. Esse deveria ser um motivo mais que suficiente para oferecermos perdão ao
nosso próximo.
Outra lição que podemos aprender com esta parábola é que
quando não
perdoamos aos nossos irmãos, os nossos pecados já perdoados voltam a ficar
ativos nos registros do céu. Esse é outro bom motivo para não guardarmos
ressentimento do nosso próximo.
Perdoar
o meu irmão, portanto, é uma questão de Salvação. No céu só entrarão pecadores
perdoados e restaurados, mas se não perdoamos ao nosso próximo, não poderemos
ser perdoados e, consequentemente, estaremos fora do céu.
Decisão Importante
Esta
doutrina bíblica precisa ser motivo de nossas profundas reflexões. A quem você
tem que perdoar? Talvez a seu pai que o tratou mal na infância, quem sabe a um
parente que te ofendeu profundamente, é possível que seja um colega de trabalho
ou um vizinho que te magoou, um irmão da igreja que te prejudicou. Não importa
quem seja. A Bíblia nos conclama a estender o perdão a todos que nos ofenderam,
mesmo que esta pessoa não queira nosso perdão. Perdoar traz mais benefícios a
quem perdoa do que a quem é perdoado.
Nosso
grande exemplo é Jesus. A dívida que tínhamos com Ele era impagável e fomos
perdoados. Nenhuma ofensa de um ser humano para com outro será tão grande
quanto a que os humanos fizeram para com Deus. Por isso hoje é dia de perdoar
aqueles que lhe ofenderam. Quem sabe procura-los hoje mesmo. Dessa forma
estaremos em paz com Deus e com nosso próximo.
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