Paz na
Tempestade
Felippe Amorim
Às
vezes nos deparamos com histórias de pessoas que estão ameaçadas de morte por
terem sido testemunhas de algum crime ou coisa parecida e por isso entram no
programa da polícia de proteção às testemunhas.
Mesmo sob a proteção
policial, pessoas ameaçadas de morte não vivem tranquilas. Certamente é muito
incômoda a sensação de estar com a vida em risco. Se a ameaça vem de alguém
próximo como um parente, a situação é pior ainda, pois além de tudo ainda
envolve laços familiares quebrados e muita mágoa.
O grande rei Davi
sofreu ameaças de morte e perseguição de algumas pessoas. Possivelmente as mais
dolorosas foram as ameaças vindas do seu próprio filho.
Foi nesse contexto de
perseguição da parte de Absalão que Davi escreveu o Salmo três. Este Salmo é
uma súplica individual, inspirada num profundo sentimento
de dependência de Deus. Há uma preciosa mensagem de fé contida neste trecho da
Bíblia.
A Tempestade
O Salmo começa assim: “Senhor, como tem
crescido o número dos meus adversários! São numerosos os que se levantam
contra mim” (v. 1). A situação enfrentada por Davi era
bastante complicada. Não era apenas Absalão que o perseguia, mas muitos dos
seus antigos súditos.
Podemos perceber isso claramente do relato Bíblico:
“Então, veio um mensageiro a Davi, dizendo: Todo
o povo de Israel segue decididamente a Absalão” (2Sm
15:13). Aquelas eram pessoas a quem Davi havia protegido e cuidado, mas agora
queriam mata-lo. Seu próprio filho, a quem ele deu o sustento e a proteção
quando criança queria tirar sua vida. Sem dúvida foi uma situação muito ruim.
Com o coração pesaroso, o rei-salmista continua: “São muitos os que dizem de mim: Não há em Deus salvação para ele”
(v. 2). Muitos dos que viam a situação de Davi diziam que ele não tinha como
escapar. Nem em Deus haveria salvação para o ele.
Muitas vezes nos
encontramos em situações semelhantes. Enfrentamos problemas difíceis, somos
perseguidos por pessoas próximas a nós, temos a vida por um fio. São situações
para as quais as pessoas dizem que não há solução.
Mas não é com esse tom
pessimista que termina o salmo. Na verdade, esses são apenas os dois primeiros
versos de uma série de oito. Davi gastou apenas dois versículos apresentando o
problema e em seis versículos apresenta Deus como solução e proteção. Até nesta
disposição do salmo certamente podemos aprender algo. Nosso foco não deve ser
no problema, assim como não foi o de Davi, nosso foco deve ser em Deus que é
capaz de resolver qualquer tipo de dificuldade.
A fonte da Paz
No verso três
já podemos perceber uma significativa mudança de tom. “Porém tu, Senhor, és o meu
escudo, és a minha glória e o que exaltas a minha cabeça”(v. 3). A primeira
palavra já demonstra que a situação mudou. A palavra “PORÉM”
indica que vai começar uma parte que se opõe ao que vinha sendo dito.
Sempre há um “porém” nos sofrimentos pelos quais os
filhos de Deus passam. Na vida dos fiéis, o sofrimento não é uma situação
definitiva. Para todos os que confiam nEle, Deus coloca um PORÉM no meio do
problema.
Davi começa a fazer uma descrição do que Deus
representa para ele naquele momento. Ele diz que Deus é “meu Escudo”, ou seja,
há defesa contra as setas do inimigo. O Senhor também é a “minha glória”,
portanto não há fracasso definitivo. Davi diz ainda que Deus exalta a sua
cabeça. Quem confia em Cristo não anda de cabeça baixa. Quando David fugiu, estava dobrado pela humilhação (2 Sam.
15: 30), mas Deus o permitiu que levantasse de novo a cabeça ( Sal. 27: 6).
Após exaltar as
características de Deus, o rei expõe as atitudes daqueles que sofrem, mas sem
sair de perto do Pai. “Com a minha voz clamo ao Senhor, e ele do seu santo monte me responde” (v. 4).
Clamar
é mais que orar, clamar é se derramar diante de Deus. É abrir todos os
compartimentos do ser para que Deus interfira da maneira que Ele quiser. Quem
faz assim pode ter a certeza de que Deus responde, assim como o salmista tinha.
Os efeitos da Paz
“Deito-me e
pego no sono; acordo, porque o Senhor
me sustenta” (v.5). Isso é sensacional! Somente com a confiança totalmente
colocada em Deus é que alguém pode ter um sono tranquilo enquanto
é ameaçado de morte. Seu sono não era produzido por um mero cansaço, nem por
indolência, nem por presunção; era um ato de fé. Era certeza de proteção. Quem
confia em Deus, não perde sono mesmo que esteja correndo risco de morte.
“Não tenho medo de milhares do povo que tomam posição contra mim de
todos os lados” (v. 6). A ausência de medo é outra
característica nítida naqueles que esperam no Senhor. Satanás nos ataca por
todos os lados e usa todas as coisas e pessoas possíveis, mas não teremos medo
se confiramos em Deus.
“Levanta-te, Senhor! Salva-me,
Deus meu, pois feres nos queixos a todos os meus inimigos e aos ímpios
quebras os dentes” (v. 7). Se observarmos com atenção, perceberemos que Davi
fala com certeza da bênção que ainda viria, ele fala como se
Deus já tivesse ferido seus inimigos. Isso é fé!
“Do Senhor é a salvação, e sobre o teu
povo, a tua bênção” (v. 8). Este é o final do salmo. Aqui, Davi
está tão tranquilo que começa a pensar em abençoar o povo. Sua situação pessoal
já não o preocupa mais, ele pode pensar em ajudar outros a alcançar a confiança
que ele adquiriu. “Na hora de sua mais negra prova, o coração de Davi estava
firme em Deus” (Patriarcas e Profetas, 741).
Desfrutando a Paz na tempestade
Muitas vezes sofremos
como Davi. Somos ameaçados por Satanás, somos perseguidos por pessoas próximas
a nós, sofremos muita oposição. Se pusermos, no entanto, nossa confiança
inteiramente em Deus, poderemos dormir tranquilos, viver sem medo e até ajudar
a outros a enfrentarem suas tempestades.
O que precisamos é
manter nosso foco em Deus e em suas promessas. O Senhor que protegeu e amparou
Davi quer fazer o mesmo conosco. Ele só precisa que nos entreguemos
completamente a Ele.
“Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que
se não vêem (Hb 11:1). É dessa fé que nós precisamos! “A
prosperidade espiritual continua apenas enquanto o homem confia inteiramente em
Deus quanto a obter sabedoria e perfeição de caráter” (Cons. Sobre
Mordomia, 147). “Deus declara que ainda que uma mãe possa
esquecer-se de seu filho, "Eu, todavia, Me não esquecerei de ti" ...
Deus pensa em Seus filhos com a mais terna solicitude e mantém um memorial
escrito diante dEle, para que jamais possa esquecer-Se dos filhos dos quais
cuida” (Fé pela qual eu vivo. MM – 1959, 280).
Diante de tão preciosas
promessas, o que nos resta é confiar completamente em Deus e desfrutar de paz
em meio à tempestade. Se entregue a Ele agora!
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