Paulo e Marcos:
modelos para as escolhas
ministeriais
(Título na Revista Ministério (Mai-jun/2012): Escolhas Pastorais)
Felippe Amorim
Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no
mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo (João 16:33). Estas
palavras de Cristo são reais para todos os cristãos, mas para os ministros do
evangelho elas se tornam especialmente verdadeiras.
A vida ministerial é recheada de aflições por diversas
razões. O ministro é um ser humano e por isso sofre as aflições e desafios
espirituais como consequências naturais do pecado. Porém na vida de um pastor
há um agravante. O inimigo sabe que se fizer um pastor vacilar na fé levará
junto muitas de suas ovelhas, e por isso envia aflições e desafios adicionais
para a vida dos ministros.
Nesse caso, a preocupação do pastor não deve ser se as
dificuldades chegarão ou não. É certo que elas virão. O foco do pensamento deve
estar em como o pastor reagirá perante as dificuldades.
No livro de Atos encontramos um episódio que nos ajuda a
meditar mais profundamente neste assunto. Está escrito: E, partindo de Pafos,
Paulo e os que estavam com ele chegaram a Perge, da Panfília. Porém João,
apartando-se deles, voltou para Jerusalém. (Atos
13:13)
Uma leitura atenta desse verso nos ajuda a perceber que
está estabelecida uma oposição entre dois personagens: Paulo e João Marcos. A
palavra “porém” deixa isso bem claro. Percebemos Paulo indo e Marcos voltando.
Esse dois personagens tiveram atitudes contrárias diante do mesmo desafio que
era continuar a pregar o evangelho. Analisemos cada um deles.
Paulo
O apóstolo Paulo é um grande exemplo de diligência no
trabalho do Senhor. Esta é uma característica que Paulo já tinha mesmo antes de
sua conversão. Era um diligente perseguidor. Quando ele se tornou um mensageiro
de Deus essa característica se maximizou.
O caminho que aquele grupo de missionários estava tomando
rumo a Perge era um prenúncio de dificuldades. Perseguições, privações
financeiras, pouco conforto. Para Paulo, no entanto, estas dificuldades não
eram motivos de desmotivação para o trabalho.
Para as dificuldades financeiras o apóstolo dos gentios
apresentava a sua diligência no trabalho. Em Atos 18:1-3 lemos: “E depois disto
partiu Paulo de Atenas, e chegou a Corinto. E, achando um certo judeu por nome
Áqüila, natural do Ponto, que havia pouco tinha vindo da Itália, e Priscila,
sua mulher (pois Cláudio tinha mandado que todos os judeus saíssem de Roma),
ajuntou-se com eles, E, como era do mesmo ofício, ficou com eles, e trabalhava;
pois tinham por ofício fazer tendas”.
Paulo não
tinha dificuldades em trabalhar fazendo suas tendas para não onerar a igreja, embora
ele tivesse plena consciência de que Deus autorizava a igreja a sustentar seus
ministros: “Assim ordenou também o
Senhor aos que anunciam o evangelho, que vivam do evangelho (1 Coríntios 9:14).
O apóstolo não tinha medo de trabalho e também não visava lucro ao pregar o
evangelho. As dificuldades financeiras não o assustavam.
Além das dificuldades financeiras Paulo também sabia que
corria risco de vida. Por várias vezes ele correu riscos por causa do
ministério. Foi apedrejado, insultado, várias vezes tentaram assassiná-lo, mas
diante de tudo isso ele dizia: Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é
lucro (Filipenses 1:21).
O apóstolo dos gentios foi um exemplo
de entrega total e irrestrita ao trabalho de Deus: “Quando os ministros, hoje,
acham que estão sofrendo grandes agruras e privações da causa de Cristo.
Visitem em imaginação, a oficina do apóstolo Paulo, tendo em mente que,
enquanto esse escolhido homem de Deus está moldando as tendas, está ganhando o
pão para o seu sustento, por seus próprios labores. No cumprimento do dever,
enfrentava ele os mais violentos opositores, silenciando-lhes a orgulhosa
jactância, e então reassumia seu humilde emprego de fazedor de tendas. Seu zelo
e diligência deveriam ser uma reprovação à indolência e comodidade egoísta dos
ministros de Cristo. Qualquer trabalho que beneficie a humanidade ou promova o
avanço da causa de Deus deve ser considerado honroso” (Ellen White. Paulo: o apóstolo da fé e da
coragem, 106). Eis um paradigma para as escolhas ministeriais!
João Marcos
A outra figura com a qual nos deparamos em Atos 13:13 é
João Marcos. A atitude dele é apresentada em oposição à de Paulo. Não temos
muitas informações sobre ele. Lucas ao escrever o livro de Atos não mencionou o
porquê do retrocesso de Marcos, provavelmente por respeitá-lo, pois ao Lucas
escrever seus livros inspirados, Marcos já havia se convertido e se tornado um
escritor bíblico.
Ellen White nos ajuda a entender porque Marcos voltou
para Jerusalém: “Marcos não apostatou da fé, mas, semelhante
a muitos jovens ministros, esquivou-se das dificuldades, e preferiu o conforto
e a segurança do lar às viagens , labores e perigos do campo missionário .
(EGW. Paulo: o apóstolo da fé e da coragem, 50)
Ao
vislumbrar a possibilidade de enfrentar dificuldades, Marcos preferiu abandonar
a carreira. Ele não deixou de amar o evangelho, muito menos deixou de amar a
Jesus, mas não queria arriscar perder seu conforto por trabalhar na pregação do
evangelho. Em outras palavras, naquele momento, Marcos preferia pregar o
evangelho onde tivesse as melhores condições de vida e os menores riscos.
Qual modelo seguir diante das
dificuldades?
No
Brasil existem lugares onde o trabalho pastoral é premiado com muito conforto e
segurança, mas também existem lugares onde o trabalho se torna penoso, menos
confortável e até perigoso. Quando nos deparamos com esta possibilidade de
chamado de Deus qual modelo seguiremos: o de Paulo ou o de Marcos?
Todos
os ministros se defrontarão com dificuldades em algum momento do ministério.
Essas dificuldades podem ser no âmbito espiritual, se configurando em lutas
internas e externas, tentações etc. Podem ser dificuldades financeiras,
dinheiro escasso e vida com menos conforto do que se sonhava. Poderão aparecer
dificuldades familiares. Conduzir a família de forma que eles amem o ministério
tanto quando o ministro às vezes se torna um tremendo desafio. Poderíamos ainda
listar as lutas sociais como distância da família, separação dos amigos ou
mesmo dificuldades administrativas em lidar com pessoas difíceis, tomar
decisões complicadas etc.
Quem decidir seguir o modelo de Paulo dirá como ele: “Porque,
se anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, pois me é imposta essa
obrigação; e ai de mim, se não anunciar o evangelho!” (1 Coríntios 9:16) e
ainda completará “Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho”
(Filipenses 1:21). Podemos escolher como
Paulo e enfrentar as dificuldades que virão confiados em Jesus Cristo.
Alguns, porém, podem escolher o modelo de Marcos:
“Prefiro o conforto de casa às lutas do campo de batalha”. “Outros poderão
servir à igreja neste lugar, eu prefiro ficar aqui, pois tenho mais vantagens
financeiras”. “Prefiro ser pastor em determinada região porque morarei melhor”,
enfim, os que escolhem como Marcos, pensam mais em si mesmos na hora de encarar
os chamados de Deus do que na missão a qual se propuseram a cumprir.
Estas
são duas possibilidades de escolhas (Paulo ou Marcos) com as quais todos os
ministros se deparam em seu ministério.
Esperança para os desertores
Graças a Deus a história de João Marcos não termina em
Atos 13. Ele se arrependeu de sua postura e voltou a olhar mais para Cristo do
que para as vantagens terrenas. Em Colossenses 4: 10-16 Paulo escreve a respeito de Marcos: Aristarco,
que está preso comigo, vos saúda, e Marcos, o sobrinho de Barnabé, acerca do
qual já recebestes mandamentos; se ele for ter convosco, recebei-o; E Jesus,
chamado Justo; os quais são da circuncisão; são estes unicamente os meus
cooperadores no reino de Deus; e para mim têm sido consolação.” Ele não era
mais um desertor, agora era chamado de cooperador. Lemos ainda em II Timóteo.
4:11: “Só Lucas está comigo. Toma Marcos, e traze-o contigo, porque me é muito
útil para o ministério”.
O arrependimento de Marcos traz esperança para todos
aqueles que necessitam mudar o seu foco ministerial de si mesmos para a pessoa
de Jesus Cristo. O seu arrependimento foi tão profundo que Deus deu a ele a
oportunidade de se tornar o primeiro dos evangelistas.
Aqueles que, em algum momento da vida, ou mesmo agora,
estão tomando a decisão de Marcos antes da conversão, podem como ele se
arrepender e se tornarem muito úteis à obra de Deus.
Que
Deus ajude a todos os seus ministros a sempre fazerem escolhas baseados no que
Deus quer e não no que eles querem.
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