domingo, 27 de maio de 2012


Paz na Tempestade
Felippe Amorim


            Às vezes nos deparamos com histórias de pessoas que estão ameaçadas de morte por terem sido testemunhas de algum crime ou coisa parecida e por isso entram no programa da polícia de proteção às testemunhas.

Mesmo sob a proteção policial, pessoas ameaçadas de morte não vivem tranquilas. Certamente é muito incômoda a sensação de estar com a vida em risco. Se a ameaça vem de alguém próximo como um parente, a situação é pior ainda, pois além de tudo ainda envolve laços familiares quebrados e muita mágoa.

O grande rei Davi sofreu ameaças de morte e perseguição de algumas pessoas. Possivelmente as mais dolorosas foram as ameaças vindas do seu próprio filho.

Foi nesse contexto de perseguição da parte de Absalão que Davi escreveu o Salmo três. Este Salmo é uma súplica individual, inspirada num profundo sentimento de dependência de Deus. Há uma preciosa mensagem de fé contida neste trecho da Bíblia.


A Tempestade



                 O Salmo começa assim: “Senhor, como tem crescido o número dos meus adversários! São numerosos os que se levantam contra mim” (v. 1). A situação enfrentada por Davi era bastante complicada. Não era apenas Absalão que o perseguia, mas muitos dos seus antigos súditos.

                 Podemos perceber isso claramente do relato Bíblico: “Então, veio um mensageiro a Davi, dizendo: Todo o povo de Israel segue decididamente a Absalão” (2Sm 15:13). Aquelas eram pessoas a quem Davi havia protegido e cuidado, mas agora queriam mata-lo. Seu próprio filho, a quem ele deu o sustento e a proteção quando criança queria tirar sua vida. Sem dúvida foi uma situação muito ruim.

                 Com o coração pesaroso, o rei-salmista continua: “São muitos os que dizem de mim: Não há em Deus salvação para ele” (v. 2). Muitos dos que viam a situação de Davi diziam que ele não tinha como escapar. Nem em Deus haveria salvação para o ele.

Muitas vezes nos encontramos em situações semelhantes. Enfrentamos problemas difíceis, somos perseguidos por pessoas próximas a nós, temos a vida por um fio. São situações para as quais as pessoas dizem que não há solução.

Mas não é com esse tom pessimista que termina o salmo. Na verdade, esses são apenas os dois primeiros versos de uma série de oito. Davi gastou apenas dois versículos apresentando o problema e em seis versículos apresenta Deus como solução e proteção. Até nesta disposição do salmo certamente podemos aprender algo. Nosso foco não deve ser no problema, assim como não foi o de Davi, nosso foco deve ser em Deus que é capaz de resolver qualquer tipo de dificuldade.


A fonte da Paz



                 No verso três já podemos perceber uma significativa mudança de tom. “Porém tu, Senhor, és o meu escudo, és a minha glória e o que exaltas a minha cabeça”(v. 3). A primeira palavra já demonstra que a situação mudou. A palavra “PORÉM” indica que vai começar uma parte que se opõe ao que vinha sendo dito.

                 Sempre há um “porém” nos sofrimentos pelos quais os filhos de Deus passam. Na vida dos fiéis, o sofrimento não é uma situação definitiva. Para todos os que confiam nEle, Deus coloca um PORÉM no meio do problema.

                 Davi começa a fazer uma descrição do que Deus representa para ele naquele momento. Ele diz que Deus é “meu Escudo”, ou seja, há defesa contra as setas do inimigo. O Senhor também é a “minha glória”, portanto não há fracasso definitivo. Davi diz ainda que Deus exalta a sua cabeça. Quem confia em Cristo não anda de cabeça baixa.            Quando David fugiu, estava dobrado pela humilhação (2 Sam. 15: 30), mas Deus o permitiu que levantasse de novo a cabeça ( Sal. 27: 6).

Após exaltar as características de Deus, o rei expõe as atitudes daqueles que sofrem, mas sem sair de perto do Pai. “Com a minha voz clamo ao Senhor, e ele do seu santo monte me responde” (v. 4).

Clamar é mais que orar, clamar é se derramar diante de Deus. É abrir todos os compartimentos do ser para que Deus interfira da maneira que Ele quiser. Quem faz assim pode ter a certeza de que Deus responde, assim como o salmista tinha.


Os efeitos da Paz



“Deito-me e pego no sono; acordo, porque o Senhor me sustenta” (v.5). Isso é sensacional! Somente com a confiança totalmente colocada em Deus é que alguém pode ter um sono tranquilo enquanto é ameaçado de morte. Seu sono não era produzido por um mero cansaço, nem por indolência, nem por presunção; era um ato de fé. Era certeza de proteção. Quem confia em Deus, não perde sono mesmo que esteja correndo risco de morte.

Não tenho medo de milhares do povo que tomam posição contra mim de todos os lados” (v. 6). A ausência de medo é outra característica nítida naqueles que esperam no Senhor. Satanás nos ataca por todos os lados e usa todas as coisas e pessoas possíveis, mas não teremos medo se confiramos em Deus.

Levanta-te, Senhor! Salva-me, Deus meu, pois feres nos queixos a todos os meus inimigos e aos ímpios quebras os dentes” (v. 7). Se observarmos com atenção, perceberemos que Davi fala com certeza da bênção que ainda viria, ele fala como se Deus já tivesse ferido seus inimigos. Isso é fé!

“Do Senhor é a salvação, e sobre o teu povo, a tua bênção” (v. 8). Este é o final do salmo. Aqui, Davi está tão tranquilo que começa a pensar em abençoar o povo. Sua situação pessoal já não o preocupa mais, ele pode pensar em ajudar outros a alcançar a confiança que ele adquiriu. “Na hora de sua mais negra prova, o coração de Davi estava firme em Deus” (Patriarcas e Profetas, 741).
 

Desfrutando a Paz na tempestade



Muitas vezes sofremos como Davi. Somos ameaçados por Satanás, somos perseguidos por pessoas próximas a nós, sofremos muita oposição. Se pusermos, no entanto, nossa confiança inteiramente em Deus, poderemos dormir tranquilos, viver sem medo e até ajudar a outros a enfrentarem suas tempestades.

O que precisamos é manter nosso foco em Deus e em suas promessas. O Senhor que protegeu e amparou Davi quer fazer o mesmo conosco. Ele só precisa que nos entreguemos completamente a Ele.

Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não vêem (Hb 11:1). É dessa fé que nós precisamos! “A prosperidade espiritual continua apenas enquanto o homem confia inteiramente em Deus quanto a obter sabedoria e perfeição de caráter” (Cons. Sobre Mordomia,  147).  “Deus declara que ainda que uma mãe possa esquecer-se de seu filho, "Eu, todavia, Me não esquecerei de ti" ... Deus pensa em Seus filhos com a mais terna solicitude e mantém um memorial escrito diante dEle, para que jamais possa esquecer-Se dos filhos dos quais cuida” (Fé pela qual eu vivo. MM – 1959, 280).

Diante de tão preciosas promessas, o que nos resta é confiar completamente em Deus e desfrutar de paz em meio à tempestade. Se entregue a Ele agora!


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