Inexperiência
Superada
Pr. Felippe Amorim
Graduado em teologia pelo SALT-IAENE
Pós-graduado em docência universitária
Pastor do IAESC - ANC
Quando eu estava no
terceiro ano da faculdade de teologia, tive aulas com um grande professor. Ele
era um exemplo para todos os alunos, gostávamos de ouvi-lo. Um dia ele nos
contou um pouco do início do seu ministério.
Ele enfrentou algumas
dificuldades nos primeiros anos de ministério.
Por ter chegado muito jovem no distrito acabou ouvindo frases preconceituosas
como a de um ancião que falou: O que esse menino tem a nos ensinar?
O professor nos contou
que aquela frase ao invés de coloca-lo para baixo, o motivou a se preparar
melhor ainda para ganhar o respeito dos irmãos. No final do período em que
esteve naquele distrito, depois de muita dedicação aos estudos, visitas e
orações, ele foi homenageado e reconhecido como um dos melhores pastores que já
haviam passado por ali. A dificuldade com a idade foi superada pela aplicação
ao trabalho.
Muitos jovens pastores
(tanto na idade quanto no tempo de ministério) têm enfrentado problemas
parecidos. Por chegarem muito inexperientes nas igrejas são recebidos com muito
receio pelos líderes. Timóteo sofreu isso e Paulo o ensinou a superar essa
dificuldade.
Paulo
escreveu: Ninguém despreze a tua mocidade; mas sê o exemplo dos fiéis, na
palavra, no trato, no amor, no espírito, na fé, na pureza. Persiste em ler,
exortar e ensinar, até que eu vá. Não desprezes o dom que há em ti, o qual te
foi dado por profecia, com a imposição das mãos do presbitério. Medita estas
coisas; ocupa-te nelas, para que o teu aproveitamento seja manifesto a todos.
Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina. Persevera nestas coisas; porque, fazendo
isto, te salvarás, tanto a ti mesmo como aos que te ouvem (1
Timóteo 4:12-16).
Timóteo não era um
adolescente, ele já servia a Paulo como assistente fazia uns quinze anos. A
questão é que, na cultura da época, qualquer pessoa em idade de serviço militar
(até quarenta anos) era considerada jovem demais para o ministério. Os Cânones
apostólicos, inclusive, estabeleciam que ninguém poderia ser bispo antes dos
cinquenta anos. Timóteo, portanto, sentiu na pele o que muitos jovens ministros
sentem hoje, uma resistência por parte do mais velhos. Os conselhos de Paulo,
porém, o ajudaram a superar esta fase.
Desafio para os jovens ministros
É natural que a igreja
olhe com desconfiança para um pastor inexperiente. O pastor deve aconselhar,
deve ensinar e, quando necessário, repreender e os jovens de hoje, de maneira
geral, não cumprem esse papel com tanta facilidade.
Existe um agravante. Pessoas
mais velhas, às vezes, não aceitam ser ensinadas ou repreendidas por jovens.
Alguns não aceitam e permanecem em silêncio e outros partem para as críticas.
Paulo ensinou que Timóteo deveria silenciar as críticas com sua conduta. A
Bíblia NVI traduz assim o início do conselho: Ninguém
o despreze pelo fato de você ser jovem (1 Timóteo 4:12). O jovem pastor
pode ser respeitado, mas há uma parte dele nesse processo. Por isso, vale a
pena prestarmos atenção aos sete conselhos de Paulo a Timóteo.
1 - Seja um exemplo
A
primeira atitude do pastor que quer ser respeitado (seja ele experiente ou não)
é tornar-se padrão dos fieis. Paulo está falando de exemplo. Certa vez li uma
frase que dizia: Palavras convencem, exemplos arrastam. Um bom exemplo é um dos
mais fortes argumentos, por isso os pastores inexperientes devem ensinar pelo
que falam, mas, principalmente, pelo que fazem.
O jovem pastor não
consegue ser um exemplo de experiência, mas, tem toda possibilidade de ser um
exemplo em outras áreas e o texto bíblico as expõe. A primeira é na palavra. O
jovem precisa se preocupar com o seu modo de falar, com a linguagem que usa. Embora
seja novo, não precisa ter uma linguagem carregada de gírias e expressões que o
caracterize mais como um qualquer e menos como um pastor. É lógico que não
estou dizendo que uma linguagem rebuscada vai fazer que alguém seja respeitado,
mas é preciso que o jovem pastor seja coerente em sua linguagem no púlpito e
fora dele.
A segunda área em que
ele deve ser um exemplo é no procedimento, ou seja, no seu modo de viver. Sua
família deve dar exemplo e seus procedimentos na igreja também devem ser
exemplares. Para os jovens pastores a consulta constante do manual da igreja,
por exemplo, ajudará muito nos procedimentos administrativos e a oração ajudará
muito nos procedimentos cotidianos do trabalho.
A próxima área
apresentada por Paulo na qual o pastor deve ser um padrão é no amor. Tenho um
amigo pastor que gosta de dizer a seguinte frase: Nada resiste ao amor. Isso é
uma verdade. Paulo alertou sobre isso. Nesse texto ele fala do amor ágape, o
amor incondicional. Só quem tem esse tipo de amor por Deus e pelo ministério
consegue superar as críticas e dificuldades que aparecerão e foi assim que
Timóteo superou a crítica dos mais velhos. Os jovens pastores que seguirem este
caminho também poderão superar.
A terceira área em que
o jovem ministro deve ser padrão é na fé. Essa fé é a indestrutível fidelidade
a Deus, custe o que custar. Os jovens pastores precisam manter a fé mesmo
quando estão sendo criticados como Timóteo.
Paulo fala ainda que
devem ser padrão na pureza. Nesse texto devemos entender pureza como o cumprimento
cuidadoso das questões religiosas. Quando Plínio informava a Trajano a respeito
dos cristãos em Bitínia, escreveu-lhe: "Costumam não jurar, não cometer
furtos, nem roubos, nem adultério; não faltar a sua palavra; não negar uma
promessa que se têm feito quando são chamados a responder por ela". Esse
tipo de pureza faz com que pessoas de qualquer idade respeitem o ministro de
qualquer idade.
2 - Aplica-te à leitura
O segundo conselho diz
respeito à leitura. Originalmente esse conselho trata da Bíblia e de sua leitura
pública feita costumeiramente nas igrejas da época de Paulo. Ele está
enfatizando a importância de que a Palavra de Deus seja a fonte do assunto do
culto. As pessoas vão à igreja para ouvir a Bíblia não a opinião do pastor. Ser
especialista em Bíblia dará autoridade ao jovem pastor.
Podemos,
no entanto, aplicar este conselho a outras leituras. Quero amplia-lo dizendo
que os pastores precisam ser homens de leitura. Outros livros precisam ser
degustados pelos pregadores.
Os
pastores devem dedicar tempo à leitura, ao estudo, a meditar e orar. Devem
enriquecer o espírito com conhecimentos úteis, aprendendo de cor porções das
Escrituras, traçando o cumprimento das profecias, e aprendendo as lições que
Cristo deu a Seus discípulos. Levai um livro convosco para ler enquanto viajais
de ônibus, ou esperais na estação da estrada de ferro. Empregai todo momento
vago em fazer alguma coisa. Assim fechar-se-á, a milhares de tentações, uma
porta eficaz. (Obreiros Evangélicos, 279)
A leitura de bons
livros ajudará o jovem pastor (e os mais experientes também) a terem mais
conteúdo nos sermões, a escreverem melhor e, inclusive, a falarem melhor. É a
partir da leitura que terão argumentos sobre assuntos que os mais velhos já
conhecem por causa dos anos que viveram a mais.
3 - Exortação
Outra prática que
ajudará jovens pastores a serem respeitados por suas igrejas é a exortação.
Exortar nesse texto tem o sentido de confortar, incentivar, admoestar. Ou seja,
Paulo está falando do que conhecemos hoje como aconselhamento pastoral.
É preciso que o pastor
esteja próximo de suas ovelhas e a visitação é um excelente método para que
isso aconteça. A visitação vai ajudar os membros mais velhos a conhecerem o
pastor e, consequentemente, irão respeita-lo por isso. Mesmo que a visita seja
para repreender deve ser feita sem medo. A juventude não deve impedir que o
ministro repreenda quem está errado. É preciso, no entanto, ter coragem de
fazer isso no púlpito e nas casas. Nesse ponto muitos terão que brigar consigo
mesmo para evitar a busca pela popularidade e manter-se concentrado no seu
trabalho e na vontade de Deus.
4 – Ensino
O ensino é um dos dons
do Espírito listados em 1 Co. 12:28. Isso quer dizer que essa característica,
de forma especial, será colocada no pastor quando ele está em comunhão com
Deus. Mais do que conhecimento é preciso dedicar tempo para estar mais perto do
Senhor.
Depois de estar
preparado espiritualmente para exercer a função do ensino é preciso estar
intelectualmente preparado para isso. O jovem pastor que pregar sermões com um
conteúdo significativo ganhará o respeito de todos. Como diz o comentarista
bíblico: Em nenhuma Igreja pode existir uma fé duradoura sem um pregador que
ensine (Barcley). Além de ensinar na igreja, o pastor deve ensinar nas casas e
também ensinar com o exemplo.
5 - Não ser negligente com o dom
Ser pastor é mais que
uma escolha pessoal, é uma escolha de Deus. Por isso precisamos honrar o
chamado que recebemos. Fazer valer cada centavo que a igreja investe no
ministério. Os jovens ministros devem trabalhar aproveitando a força e a
disposição do início do ministério.
Infelizmente, alguns
pastores, perdem a noção de que o nosso patrão não é o presidente da associação
ou união, prestamos conta do nosso trabalho para Deus e ele está todo o tempo
do nosso lado para nos ajudar, mas também, presenciando os momentos em que
deveríamos trabalhar, mas acabamos nos ocupando com coisas supérfluas. Ser
responsável com o dom que recebeu de Deus ajudará os jovens pastores a ganharem
o respeito da igreja.
6 - Meditação e diligência
Esse dois conselhos
abrangem os aspectos internos e externos enfatizando o equilíbrio que deve haver na vida do ministro.
Meditação é algo interno, mas a diligência aparece no dia a dia.
Meditar é ponderar, gastar tempo planejando,
gastar tempo orando. Meditar é pensar. Isso parece simples e óbvio, mas, às
vezes, o pastor entra em um ritmo tão frenético (os pastores iniciantes podem
acabar entrando nesse ritmo por acharem que se não tiverem um número
impressionante de batismo serão mal vistos pela associação) que não separam
tempo para pensar.
O teólogo Barcley diz
que: `O grande perigo do líder cristão é a preguiça intelectual e a mente
fechada. O perigo de que se esqueça de estudar e permita que seu pensamento
corra por caminhos gastos. O perigo de que nunca saia da órbita de um número limitado
de ideias favoritas. O perigo de que as novas verdades, os novos métodos, o
intento de reafirmar a fé em termos contemporâneos simplesmente o irritem e
chateiem. O líder cristão deve ser um pensador cristão, ou fracassará em sua
tarefa; e ser um pensador cristão é ser um aventureiro do pensamento durante
toda a vida`.
Diligência diz respeito
a aplicação que se tem no trabalho. Não trabalhamos para homens, repito, e
devemos lembrar que o cristianismo é a verdade em ação, por isso, os pastores
devem estar em constante ação.
7 - Ter cuidado de si mesmo e da doutrina
A sequência que é
apresentada nesse conselho é importante. Primeiro o pastor deve cuidar de si
mesmo. Deve cuidar de sua vida espiritual, deve cuidar de sua família e deve
cuidar de sua saúde.
Uma das maiores
tentações do pastor é estudar a Bíblia apenas para fazer sermões. Os pastores
precisam estar alimentados para depois oferecer comida para as suas ovelhas.
Também não será produtivo cuidar da família dos outros e esquecer-se da sua
própria família. Uma família bem estruturada levará muitos a respeitarem mais o
jovem pastor.
Cuidar da saúde também é
muito importante. Tenho um colega que trabalhou tanto no primeiro ano de
ministério que adoeceu gravemente e chegou a correr risco de morte. O
diagnóstico do médico em relação à sua doença foi esgotamento físico. Sem saúde
o pastor jovem não conseguirá alcançar o respeito necessário de sua igreja. O Lazer
é uma parte importante do ministério.
Depois que o pastor
cuidou de si, então ele pode cuidar da doutrina. Deve ter zelo pelos princípios,
respeito às normas locais e, mais que isso, ser um promotor das doutrinas
bíblicas, pregando-as no púlpito.
Promessas
para jovens pastores
Se
os jovens pastores seguirem os conselhos do experiente apóstolo Paulo, não
enfrentarão, por muito tempo, críticas por causa da sua idade. Logo os mais
velhos da igreja começarão a respeita-lo sem mais darem importância à sua data
de nascimento.
O texto de Paulo tem
algumas promessas que poderíamos também chamar de consequências para aqueles
que aplicarem na vida os seus sete conselhos. Paulo garante, em nome de Jesus,
que o progresso do jovem pastor será manifestado a todos (v. 15) e também que o
ministro salvará a si mesmo e aos seus ouvintes (v. 16). Seguir os conselhos
Bíblicos é segurança para os jovens pastores, para sua família e para a igreja.
Assim como Timóteo, os pastores jovens que seguirem os conselhos de Paulo terão
muito sucesso no trabalho e o respeito de todos em sua igreja.
Um comentário:
Muito bom artigo Pr. Felipe! Parabéns por extrair perolas da Palavra de Deus e compartilhar! Abraços!
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