sábado, 26 de novembro de 2011

NÃO QUERO ESSE CRISTO

Pr. Vinícius Mendes


 
“Porque surgirão falsos cristos e falsos profetas operando grandes sinais e prodígios para enganar, se possível os escolhidos.” Mt. 24:24

O cristianismo é uma religião composta por seguidores de Cristo. Dessa forma, ser cristão implica imitar a Cristo. Mas existe o Cristo verdadeiro e os cristos falsos. Se existem falsos cristos, presume-se, então, que existem falsos cristãos.

Para sermos cristãos verdadeiros, precisamos conhecer o verdadeiro Cristo, segui-Lo a fim de não sermos confundidos com as falsificações que existem por aí. A pergunta que surge, portanto, é: como é o Jesus da Bíblia? Como a Palavra de Deus O descreve? Para isso, vamos recorrer ao que Ele disse a respeito de Si mesmo em Nazaré, onde, por conta de Sua autodescrição, foi terrivelmente rejeitado.

O ministério de Jesus tinha se iniciado a pouco tempo. Ele havia passado em Cafarnaum e feito muitos milagres, criando muita expectativa e euforia. “Então, Jesus, no poder do Espírito, regressou para a Galiléia, e Sua fama corria por toda a circunvizinhança. E ensinava nas sinagogas, sendo glorificado por todos.” (Lc. 4:14)

Quando chegou a Nazaré, portanto, a expectativa era muito grande e o povo esperava que Ele fizesse na terra em que fora criado, os milagres que eles ouviram falar. Através de uma apresentação miraculosa, os nazarenos esperavam que Jesus provasse ser o messias esperado. No entanto, Jesus descreve-Se como messias, usando apenas as Escrituras, sem usar curas e milagres.

Um Cristo bíblico


Na sinagoga de Nazaré, Jesus foi convidado para pregar. “Então lhe deram o livro do profeta Isaías e, abrindo o livro, achou o lugar onde estava escrito: O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para por em liberdade os oprimidos,e apregoar o ano aceitável do Senhor” (Lc. 4:18-19).

Jesus não Se utilizou de nenhum milagre para evidenciar Sua missão. Ele apenas recorreu a uma profecia messiânica que descrevia Sua obra. Assim é o verdadeiro Cristo: bíblico. Sua identidade é oriunda das Escrituras. O verdadeiro Cristo só pode ser conhecido por meio da Bíblia. Assim, cristianismo que não se baseia integralmente na Palavra de Deus não é um cristianismo verdadeiro. Se o cristo for falso, naturalmente, os cristãos também o serão. Gosto da frase que ouvi certa vez de um pastor: “Não acredito em cristão que não lê a Bíblia.” O mundo está cheio de cristãos falsos, que seguem uma deformada caricatura de Cristo. Existem cristos para todos os gostos. O que tem predominado em nossos dias é o cristo adequado ao capitalismo, ou seja, um cristo para consumistas. Falsos cristãos recorrem a esse falso cristo para terem suas necessidades materiais saciadas. Não estão em busca da salvação e da transformação que o evangelho produz. Desejam prosperar materialmente, desejam curas para suas moléstias e usar esse tal cristo para tudo aquilo que necessitam. Depois que usam, guardam seu objeto “tecnológico” mágico para necessidades futuras. E se percebem que não precisam mais dele, descartam-no, como fazem com seus aparelhos tecnológicos ultrapassados.

O Cristo verdadeiro é o Cristo da Bíblia. Sem a Palavra de Deus, surge uma patética imagem de um cristo complacente e sem compromisso com a verdade. Cristãos falsos não estudam a Bíblia. Estão na igreja, mas dedicam seu tempo para tudo, menos à Palavra de Deus. Podem falar com desenvoltura sobre filmes, novelas e esportes em geral, porém se forem solicitados para discorrerem sobre o evangelho, não se sentem preparados e terceirizam essa atividade para a “mão de obra especializada”: pastores e líderes.

Um Cristo cheio do Espírito



Utilizando Isaías 61, Cristo diz a respeito de Si mesmo: “O Espírito do Senhor está sobre mim.” Essa primeira característica aponta para um tema muito relevante para o cristianismo atual: a atuação do Espírito Santo. A operação de falsos cristos pressupõe a atuação de um falso espírito santo. O culto místico ao Espírito Santo, que temos visto em nossos dias super-enfatiza a competência sensorial e miraculosa do Espírito Santo. Evidencia-se, nesses cultos, a presença e atuação do suposto Espírito Santo por meio de manifestações extáticas, choro e sinais milagrosos. Essa é uma falsificação do Espírito Santo. O próprio Espírito Santo adverte através do apóstolo Paulo a respeito das falsificações que temos visto hoje em dia: “Ora o Espírito afirma expressamente que nos últimos tempos, alguns apostatarão da fé, por obedecerem a espíritos enganadores e a ensinos de demônios, pela hipocrisia dos que falam mentiras e que têm cauterizada a própria consciência” (I Tim. 4:1-2).

Jesus apresenta a verdadeira natureza do Espírito Santo, a qual é muito diversa da que temos presenciado em nossos dias. Jesus diz que o “Espírito do Senhor” estava sobre Ele. O verdadeiro Espírito Santo transforma a vida do verdadeiro cristão, fazendo que a Palavra impregne a vida do crente. Ele não é uma espécie de gênio da lâmpada para satisfazer desejos, produzindo sensações emocionais e sensuais, como temos visto em nossos dias.

Cristo disse que o Espírito que estava sobre Ele o compelia a evangelizar os pobres. O verdadeiro Cristo, movido pelo verdadeiro Espírito não esperava enriquecer às custas da ingenuidades das pessoas. Pelo contrário, Ele veio para dar e não para receber. A preocupação do verdadeiro Cristo é em abençoar as pessoas. Falsos cristãos são egoístas; só pensam em si mesmos. Seguem um cristo ávido por dinheiro, ou seja, um cristo financista e egoísta. O suposto serviço que esse tal cristo oferece, como um bem capitalista, precisa ser pago e muito bem pago, por sinal. Essa é uma religião que não se preocupa sinceramente com as pessoas. Só se elas tiverem como pagar por isso. Tal teologia, (se é que podemos chamar uma aberração assim de teologia) é totalmente contrária ao evangelho bíblico, que se resume em Deus oferecendo gratuitamente a salvação.

É por isso que o mundo está cheio de falsos cristãos, pois seguem essa caricatura capitalista de um cristo pecuniário. Esse não é o verdadeiro Cristo. Os que seguem o Cristo da Bíblia são sensíveis às necessidades reais das pessoas e não fecham os olhos ao sofrimento alheio. Renunciam a prazeres para que o faminto seja alimentado e o nu seja vestido. O verdadeiro cristão reflete a imagem de amor ativo que é vista no Cristo bíblico. O restante da descrição que Cristo faz de Si mesmo usando Isaías 61 vai na mesma direção, acrescentando que o evangelho que Ele tem para pregar é um evangelho de liberdade e que não escolhe pessoas por conta de sua classe social, gênero, cultura ou moralidade. É um evangelho universal que ama o pecador e deseja transformá-lo.

Um Cristo altruísta



“Então, passou Jesus a dizer-lhes: Hoje, se cumpriu a Escritura que acabais de ouvir” (Lc. 4:21). O verdadeiro Cristo apresenta-se através de um texto bíblico. Sua identidade estava profeticamente prevista nas Escrituras Sagradas e Ele, sem titubear, a assume. Verdadeiros cristãos leem a Bíblia e esta, invariavelmente, apresenta-lhes a mesma missão do verdadeiro Cristo. Disse Jesus: “Em verdade, em verdade vos digo que aquele que crê em mim fará também as obras que eu faço e outras maiores fará, porque vou para junto do Pai”(Jo. 14:12). Assim, os verdadeiros cristãos, não se eximem de sua missão. Chamam a responsabilidade para si. Não ficam esperando que outros façam aquilo que é sua legítima responsabilidade. Não jogam sobre a instituição a responsabilidade que lhes pesa nos ombros. Não dizem: “que bom que temos a ADRA para cuidar dos que necessitam! Eu não preciso ajudar”. Ou então: “minha parte eu já fiz, devolvendo meu dízimo e minhas ofertas.” Os verdadeiros cristãos perguntam, movidos por uma sensível compreensão da graça de Deus: “O que podemos fazer mais por Cristo e pelo próximo?”

Porém, esse tipo de cristianismo não é popular. Infelizmente não é esse o cristo que tem arrebatado multidões. Não é esse que está em camisas de atletas e cantado em irreverentes canções. Trata-se de um cristo relativo e indefinido. Um cristo multifacetado que serve aos gostos mais excêntricos possíveis. Um cristo descomprometido com o amor prático, um cristo preocupado com a prosperidade financeira de seus fiéis e sem nenhum compromisso com a verdade bíblica. Esse é um cristo que emociona multidões, mas não transforma suas vidas. Está na boca de artistas, que visam lucro com a popularidade desse nome. Esse cristo despudoradamente compartilha o coração de pessoas com outros deuses, como o dinheiro, a fama e sexo ilícito. Eu não quero esse cristo!

Um Cristo rejeitado



O verdadeiro Cristo, no entanto, tem sido rejeitado como foi em Nazaré. Na cidade em que foi criado, depois de Se descrever, Jesus ouviu: “Não é este o filho de José?” (Lc. 4:22). Naquela ocasião, os nazarenos só estavam dispostos a crer que Jesus era de fato o messias mediante a operação de milagres. Ao perguntarem sobre a paternidade humana de Jesus, estavam querendo, na verdade, defini-Lo como apenas humano, negando Sua divindade. Só creriam nEle, como messias, se Ele desse sinais comprobatórios. Só que eles desconheciam que os milagres que Cristo operava eram em resposta à fé daqueles que eram beneficiados e não o contrário como supunham. Falsos cristãos, seguem um cristo midiático, propagandeado como milagreiro. Para esse cristo, estão dispostos a dar vultosas quantias financeiras em troca de benefícios temporais. Para eles, o cristianismo verdadeiro não é atraente, não sentem poder nessa religião. A religião verdadeira, para esse grupo de pessoas, precisa atender suas necessidades temporais. Desconhecem que “A religião pura e sem mácula, para com o nosso Deus e Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e a si mesmo guardar-se incontaminado do mundo” (Tg 1:27). Infelizmente, para muitos essa não é a religião divina. Como os nazarenos, relacionam o verdadeiro cristianismo bíblico a algo estritamente humano. Esses são falsos cristãos porque seguem um cristo falso.

Para refutar a premissa dos nazarenos que tinham uma visão deturpada da obra do messias, Cristo citou dois exemplos do Antigo Testamento, aumentando a perplexidade de Sua audiência e irando Seus ouvintes. Ele mencionou a fé da viúva de Sarepta que creu na palavra do profeta Elias, servindo seu último prato de comida para o homem de Deus, sendo milagrosamente abençoada após seu ato de fé (Lc. 4:26). Jesus mencionou também o exemplo de Naamã, o siro, que creu na palavra do profeta Eliseu, que lhe indicou banhar-se no rio Jordão sete vezes para ser curado da lepra (Lc. 4:27). Nos dois casos que Jesus citou, os dois beneficiados primeiro exerceram fé para depois serem abençoados. Tanto no primeiro caso como no segundo, aparecem pessoas estrangeiras, alheias ao povo de Israel. Com isso, Jesus estava ensinando que a benção da salvação não é exclusiva a um grupo. Ela está disponível a “todo aquele que nEle crê” (Jo. 3:16).

Esses dois exemplos foram a gota d’água para aqueles nazarenos. Com essas citações, Cristo deixou claro para eles que Sua obra de salvação tinha como premissa básica a fé e não a nacionalidade israelita, como eles imaginavam. Cristo estava estendendo as fronteiras da salvação para todos os povos e, em seu ilegítimo exclusivismo nacional, eles não podiam aceitar isso. Rejeitando a Jesus, estavam dizendo: “Não queremos esse Cristo!”

“E, levantando-se, expulsaram-no da cidade e o levaram até ao cimo do monte sobre o qual estava edificada a cidade, para de lá o precipitarem abaixo”(Lc.4:29). O Cristo verdadeiro não é popular. Muitos O querem morto. Foi assim em Nazaré, foi assim em Jerusalém no ano 31, é assim no século 21. “Ele, porém, passando pelo meio deles, seguiu o seu caminho”(Lc. 4:30). Os anjos de Deus protegeram o verdadeiro Cristo, retirando-O daquelas mãos assassinas.Embora os verdadeiros cristãos não sejam populares, podem contar com a proteção dos anjos de Deus em benefício do cumprimento da missão evangélica.

O verdadeiro Cristo foi pendurado na cruz, mas a morte não pode retê-Lo. Verdadeiros cristãos não têm diante de si uma realidade diferente. No entanto, da mesma forma como o verdadeiro Cristo é eterno e reina pelos séculos dos séculos, os verdadeiros cristãos reinarão com Seu Senhor para sempre. Eu quero esse Cristo!

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