quarta-feira, 13 de julho de 2011


José: Forte ou Fraco?

Felippe Amorim




INTRODUÇÃO



O perdão ilimitado de Deus é uma das grandes e maravilhosas mensagens da Bíblia. Há perdão para qualquer pecado, desde que confessado e abandonado. Essa é uma verdade confortadora para nós, seres humanos falhos.

Infelizmente, algumas pessoas deturpam as verdades bíblicas e fazem do perdão de Deus uma autorização para viverem no pecado. Alguns chegam ao cúmulo de “programarem” o pecado e também o pedido de perdão. Não é assim que deve ser a vida do cristão.

O pecado na vida do cristão deve ser um acidente e não uma constante. Assim João expôs este assunto: “Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo, para que não pequeis; mas, se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo” (1 Jo. 2:1). O ideal da vida cristã é não pecar, o perdão é a solução de Deus para quando não conseguirmos atingir este ideal.

Deus deixou em Sua palavra princípios que, se seguidos, podem nos fazer mais resistentes ao pecado. A vida de José é, sem dúvida, uma rica fonte dos princípios divinos para este assunto.

Um dos episódios mais significativos da vida deste patriarca foi relatado na Bíblia da seguinte forma: “José foi levado ao Egito; e Potifar, oficial de Faraó, capitão da guarda, egípcio, comprou-o da mão dos ismaelitas que o haviam levado para lá. Mas o Senhor era com José, e ele tornou-se próspero; e estava na casa do seu senhor, o egípcio. E viu o seu senhor que Deus era com ele, e que fazia prosperar em sua mão tudo quanto ele empreendia. Assim José achou graça aos olhos dele, e o servia; de modo que o fez mordomo da sua casa, e entregou na sua mão tudo o que tinha. Desde que o pôs como mordomo sobre a sua casa e sobre todos os seus bens, o Senhor abençoou a casa do egípcio por amor de José; e a bênção do Senhor estava sobre tudo o que tinha, tanto na casa como no campo. Potifar deixou tudo na mão de José, de maneira que nada sabia do que estava com ele, a não ser do pão que comia. Ora, José era formoso de porte e de semblante. E aconteceu depois destas coisas que a mulher do seu senhor pôs os olhos em José, e lhe disse: Deita-te comigo. Mas ele recusou, e disse à mulher do seu senhor: Eis que o meu senhor não sabe o que está comigo na sua casa, e entregou em minha mão tudo o que tem; ele não é maior do que eu nesta casa; e nenhuma coisa me vedou, senão a ti, porquanto és sua mulher. Como, pois, posso eu cometer este grande mal, e pecar contra Deus? Entretanto, ela instava com José dia após dia; ele, porém, não lhe dava ouvidos, para se deitar com ela, ou estar com ela. Mas sucedeu, certo dia, que entrou na casa para fazer o seu serviço; e nenhum dos homens da casa estava lá dentro. Então ela, pegando-o pela capa, lhe disse: Deita-te comigo! Mas ele, deixando a capa na mão dela, fugiu, escapando para fora” (Gn. 39: 1 – 12).

Uma rasteira da vida

José era o filho preferido de Jacó, nascido de sua esposa amada o pai dava uma atenção especial para ele. Por exemplo, certa vez Jacó fez uma capa especial e a deu a José, o que provocou muito ciúme em seus irmãos.

Mas na vida de José aconteceu algo que é comum entre os seres humanos. Ele estava em um lugar confortável, tinha toda a atenção que poderia ter, morava em segurança com seus pais, mas a vida deu uma rasteira nele, de filho preferido de Jacó ele passou a ser um escravo no Egito.

As vezes acontece isso em nossa vida. Temos um emprego estável, uma família feliz, uma boa saúde, mas de repente uma dessas coisas ou todas elas nos são tiradas pelas circunstâncias da vida. José passou por isso. Em um espaço de dias, ele saiu da casa do pai para a casa dos escravos, passou da condição de livre para cativo, saiu de sua terra para um lugar distante e desconhecido.

Hoje nós sabemos que Deus tinha um plano a executar através de toda esta tragédia que acontecia na vida de José, mas certamente enquanto ele vivia aqueles momentos muitas dúvidas pairavam em sua cabeça e ele se sentiu golpeado pela vida.

A ASCENSÃO


Apesar de toda a angustia pela qual passava a Bíblia diz que “O Senhor era com José”. Aí está o segredo desse jovem que naquele momento tinha aproximadamente 18 anos. Não importa o quão difícil é a situação pela qual passamos, o que importa é com quem passamos por este situação. Quem está com o Senhor tem paz na tempestade.

É interessante observarmos uma coisa. A Bíblia começa descrevendo José por sua condição interior. Estar com o Senhor é essencialmente uma condição interna.

A Igreja Adventista tem falado ultimamente muito sobre reavivamento e reforma. São duas necessidades urgentes dos cristãos modernos. Mas esta sequência precisa ser respeitada. Primeiro a comunhão com Deus deve acontecer para que depois as reformas possam ser realizadas. Reforma sem reavivamento vai gerar legalismo. Reavivamento sem reforma é apenas “fogo de palha”.

Na vida de José vemos claramente o processo correto acontecendo. Após a Bíblia descrever a situação interna dele, passa a descrever a parte exterior do jovem. O versículo seguinte começa dizendo: “Vendo Potifar que o Senhor era com José”.

Aqui percebemos claramente a situação interior sendo retratada no exterior. José não forçava uma aparência de cristianismo. A comunhão que ele tinha com Deus era facilmente percebida por quem o observava.

É útil que pensemos um pouco em quem viu que o Senhor era com José. Potifar era um pagão, certamente idólatra, pois era um egípcio. Não tinha o temor do verdadeiro Deus, mas até um pagão percebeu que aquele jovem era diferente. Dentre todos os escravos, José se destacava moralmente e quando Potifar precisou de alguém de confiança para administrar sua casa, foi o jovem diferente que ele buscou.

Por mais que o mundo critique o cristão, sempre que precisam de pessoas confiáveis os procuram. Portanto, não devemos ter vergonha ou medo de sermos diferentes. Os jovens devem mostrar a diferença de ter Cristo na vida ao estudarem, trabalharem, namorarem ou fazerem qualquer outra atividade. As pessoas devem “ver” Cristo em nós.

Precisamos lembrar que para aqueles que não conhecem a Cristo, nós somos “Cristo”. Que tipo de “Cristo” temos sido? O que as pessoas estão vendo em nós? Quando andamos na nossa vizinhança, na faculdade, no trabalho, o que as pessoas dizem ao nosso respeito?

José ascendeu no trabalho, virou mordomo de Potifar, porque nele se via a Cristo. Deus abençoou Potifar por causa de José. Deus abençoou um ímpio por causa de um jovem justo.


A Prova



A Bíblia diz que José era “Formoso de porte e de aparência”. Todo o período de escravidão não retirou de José o porte de um filho de Deus. Não devemos permitir que as pancadas que levamos da vida nos façam perder a noção de quem somos. Somos príncipes, filhos do Rei do universo.

Todos perceberam que José era um jovem especial, inclusive a esposa de Potifar. Ela começou a encher a cabeça do jovem fiel de propostas indecentes de adultério e fornicação. Satanás lançou sobre José uma tentação que tem levado muitos jovens cristãos a se afastarem de Deus: a sexualidade ilícita. O relato inspirado diz que todos os dias ela o importunava.

José era exatamente como qualquer outro jovem saudável. Possuía todos os hormônios e desejos que qualquer rapaz normal possui, fisicamente ele era igual a todos, mas espiritualmente tinha qualidades que o tornavam especial. A resposta de José nos dá uma pista de quem ele era: “Mas ele recusou, e disse à mulher do seu senhor: Eis que o meu senhor não sabe o que está comigo na sua casa, e entregou em minha mão tudo o que tem; ele não é maior do que eu nesta casa; e nenhuma coisa me vedou, senão a ti, porquanto és sua mulher. Como, pois, posso eu cometer este grande mal, e pecar contra Deus?” (Gn. 39: 8-9).

Aquela era uma decisão que definiria toda a vida futura dele. Se observarmos bem a resposta, perceberemos que a preocupação de José não estava em não desagradar homens, ele preocupava-se de verdade em não desagradar a Deus. Assim deve ser a vida de cada cristão. Em todas as nossas decisões devemos ter a preocupação de agradar primeiramente a Deus e, se possível, agradarmos também aos homens.

José possuía outra coisa que nos seria muito útil: a noção perene da presença de Deus. “Se acalentássemos uma impressão habitual de que Deus vê e ouve tudo que fazemos e dizemos, e conserva um registro fiel de nossas palavras e ações, e de que devemos deparar tudo isto, teríamos receio de pecar” ( Patriarcas e Profetas, pág. 217).

Quão bom seria se ao resistirmos à tentação pela primeira vez ela nos abandonasse, mas a tentação insiste, e a mulher insistia com José todos os dias. Um dia ela o agarrou arrancou sua roupa e ele fugiu, saiu correndo da presença da mulher.

José era fraco ou forte? Ele era fraco e tinha total noção de sua fraqueza. Sabia que se ficasse mais alguns momentos ali corria o sério risco de cair. Nós também precisamos ter a consciência de que somos muito fracos em relação ao pecado. Dessa forma faremos o possível para sempre andar longe dele e apegados ao único que tem força contra a tentação: Jesus cristo.

Preciosas Lições


Todos os dias somos tentados como José. Talvez não com a mesma modalidade de tentação, mas certamente com a mesma intensidade. O inimigo não desiste de nos vencer. Constantemente inventa novos métodos para nos derrubar. Fabrica tentações personalizadas com as quais tenta nos tirar dos braços de Jesus.

Sempre me perguntava por que a história da vida de José começava a ser contada no capítulo 37 de gênesis era interrompida pela história de Judá e Tamar no capítulo 38 e era retomada no capítulo 39. Se formos atentos, perceberemos que no capítulo 38 temos uma história de um homem que foi derrotado espiritualmente pelo pecado sexual e no capítulo 39 temos a vitória de um jovem sobre o mesmo tipo de pecado. Deus queria estabelecer uma comparação entre as duas histórias.

Judá não tinha algo que abundava na vida de José: comunhão com Deus. Na frase “O Senhor era com José” estão contidas as bases da força espiritual dele. Estudo da Bíblia e oração. É somente assim que o Senhor pode ser conosco. Não existe mágica para nos aproximarmos de Deus. É caminhando com Ele cada dia, tendo momentos de íntima comunhão que conseguiremos ter a força que estava em José. Deus quer nos dar as vitórias que deu aos heróis da fé, porém há uma parte que cabe a nós. Este é o momento de nos aproximarmos de Deus e sermos fortes em Seu nome.

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