segunda-feira, 18 de julho de 2011

Vinícius Mendes de Oliveira
Formando em Teologia pelo SALT -IAENE
Professor de Língua portuguesa no IAENE
Mestrando em Ciência Sociais pela UFRB



A GRATIDÃO É A RESPOSTA


“Então, Jesus lhe perguntou: Não eram dez os que foram curados? Onde estão os nove? Não houve, porventura, quem voltasse para dar glória a Deus, senão este estrangeiro? E disse-lhe: Levanta-te e vai; a tua Fe te salvou.” Lucas 17:17-19

A gratidão é a resposta imediata de uma pessoa que reconhece que recebeu a graça de Deus. A graça vem de Deus. Essa é a parte dEle. A gratidão deve brotar como resposta no coração humano. Essa é a nossa parte. No relato da cura dos dez leprosos, Jesus, usando a recorrente fórmula de declaração de salvação, diz ao leproso agradecido: “a tua fé te salvou.” O interessante é que não foi apenas o samaritano que foi curado da lepra, os outros nove também foram, mas apenas ele foi declarado salvo por Jesus. Apenas ele compreendeu o propósito maior por detrás da cura física que havia recebido.

Isso ensina que a graça de Deus é universal, ou seja, Ele a despeja sobre todos, mas só os que demonstram completa gratidão poderão usufruir da salvação. Ensina também que a obediência que Deus deseja que tenhamos é produto da recepção da graça no coração. Se for motivada por qualquer outra coisa, não pode ser recebida por Deus.

O episódio da cura dos dez leprosos evidencia como pode ser produzida no coração uma fé genuinamente grata pelo dom da salvação oferecido a nós. Deus sempre nos atrai, muitas vezes usando nossas necessidades humanas e exercita nossa fé, provando se de fato confiamos em Sua Palavra. A partir disso, Sua expectativa é que compreendamos o presente da salvação sem o qual não poderíamos viver, e devotemos nossa vida de forma irrestrita ao Senhor, através de uma obediência motivada por amor.

A ISCA

Os dez leprosos, pelas leis de higiene, não podiam se aproximar de ninguém. Respeitando essas leis, eles se dirigem a Jesus, à distância, imaginando que Cristo fosse um ser humano como os outros, passível de contaminação. Eles gritam em busca de misericórdia, imaginando, quem sabe, que Cristo pudesse curá-los fisicamente ou amenizar seu sofrimento. A postura deles, no entanto, é bem diferente de um leproso que se aproximou de Jesus o suficiente para ser tocado pelo Senhor. Esse indivíduo reconhecia a Cristo como Messias e exerceu uma fé genuína. Mas os dez leprosos ficaram de longe com medo de contaminar Jesus com sua lepra.

O pecado é exatamente assim, afasta as pessoas de Deus. No lamaçal do pecado, muitos são levados a crer, por Satanás, que não são dignos de se aproximar de Jesus. Assim o inimigo tem vitória. Mas, quando uma alma vacilante, mesmo distante, considerando-se indigna, clama a Jesus, não fica sem resposta do Mestre.

Essa distância de Cristo também pode simbolizar os motivos errados que nos levam a buscar a Jesus. Alguém que se relacione com Cristo apenas por conta das contingências humanas, não conseguirá chegar próximo do salvador para vê-lO de perto, experimentá-lO e vivenciar todas as maravilhas da presença de Cristo. Ficam, à distância, gritando por uma migalha de Sua misericórdia, quando poderiam se aproximar, com fé, reconhecendo que a sua oferta é muito maior do que nós queremos inicialmente. Ficam esperneando pelos desejos de um coração não regenerado, quando o que Cristo pode oferecer é a real necessidade que possuem, mas não conseguem enxergar. Não é esse tipo de relacionamento que Deus deseja ter conosco. Ele quer que nós nos aprofundemos em Sua vida, que O contemplemos bem de perto e sejamos salvos, que prossigamos em conhecê-lO. Mas uma busca baseada apenas nas superficialidades da vida, por mais que sejam coisas importantes e reais (como a lepra daqueles dez, ou as suas dívidas e desilusões amorosas, por exemplo) jamais dará ao ser humano aquilo que Deus deseja muito oferecer: a salvação.


O EXERCÍCIO DA FÉ


Essa busca egoísta, no entanto, não é desconsiderada por Deus. O verso 14 diz que quando Cristo ouviu aqueles gritos, à distância, respondeu, dizendo a eles que podiam se mostrar aos sacerdotes, que atuavam também como uma espécie de ficais da vigilância sanitária, verificando se alguém que se dizia curado, realmente, estava.

O fato é que quando Jesus pediu para aquele grupo ir aos sacerdotes eles ainda eram leprosos. A estratégia de Cristo, com isso, era estimular a fé daqueles homens. O Senhor desejava ensinar que, quando pedimos algo a Deus que está prometido em Sua palavra devemos ter a certeza de Sua resposta. O Senhor não aprecia pessoas duvidosas que vivem em busca de sinais para que possam crer. A Palavra de Cristo deve ser suficiente para nós. A fé vê o invisível, ouve o inaudível e apalpa o intangível. A fé é obedecer a Deus, mesmo que isso pareça estranho. É por isso que aqueles que andam pela fé estão na contramão do mundo. Seria uma situação ridícula para aqueles indivíduos mostrarem-se para os sacerdotes estando ainda leprosos. Mas o texto diz que eles foram e, na ida, foram curados.

Essa situação torna clara nossa necessidade de confiarmos irrestritamente na Palavra de Deus. Todos estamos doentes com a lepra do pecado e, de uma forma ou de outra, muitas vezes clamamos para que Deus nos limpe desses pecados, mas a impressão que temos, às vezes, é a de que não somos ouvidos. Os pecados são recorrentes é parece que nunca vamos vencê-los. As promessas da nova Aliança dão conta de que nós seremos vencedores e que a Lei de Deus estará em nossos corações, produzindo uma obediência completa a Deus. Esse é o tempo em que devemos reclamar insistentemente essas promessas e nos apropriarmos delas. Devemos, a exemplo dos dez leprosos, agir com base nessas promessas. Não podemos duvidar de Deus, pois Ele já proveu todos os meios para nossa redenção: Seu precioso sangue na Cruz e Seu Espírito regenerador.


O VERDADEIRO PRESENTE


Com a cura da lepra, Jesus queria levar os dez leprosos a entender a necessidade que tinham de salvação. Mas apenas um deles, o samaritano, compreendeu isso. Todos os dez haviam sido objeto da graça de Cristo, mas apenas ele se apropriou dela. O detalhe é que a graça de Deus não era o milagre da cura. Isso era apenas a isca para que aquelas mentes concretas pudessem ser encaminhadas para o Reino espiritual de Deus. No entanto, infelizmente, como os nove leprosos, a maioria das pessoas se contenta com as benesses materiais providas pelo evangelho, sem considerar que estas são iscas para atraí-los a um relacionamento íntimo com o Salvador.

Mas um rompeu a barreira do natural e manifestou fé, uma fé que alcançou a graça de Deus. O presente estava nas mãos de Cristo sendo oferecido para todos, mas apenas esse leproso samaritano teve o braço da fé para agarrá-lo. O verso 15 diz que ele voltou. Nem se menciona que ele tenha ido aos sacerdotes, ao que tudo indica quando ele percebeu que a mancha da lepra tinha saído de sua vida, deu meia volta, correu para onde Jesus estava e passou a glorificar a Deus em alta voz.

Esse é o resultado natural de uma vida que se apropria da graça de Cristo: um espetáculo de louvor a Deus. Ninguém cala uma pessoa salva por Jesus. O mundo percebe a diferença. Ele emite altos louvores ao seu Senhor. Ele se prostra, reconhecendo o senhorio de Cristo na vida e agradece.

Esse é a conceito-chave desse texto: gratidão. A gratidão é a resposta natural que alguém emite em relação ao recebimento da graça de Deus. Ser grato é reconhecer que o que foi recebido é imerecido. Com relação ao presente da salvação é entender que, se não fosse por Cristo, estaríamos perdidos, e que Jesus salvou a nossa vida. Então, a gratidão diz: “Deus, eu estou aqui, com tudo o que sou. Não mereço estar aqui, mas o Senhor me salvou, por isso me entrego completamente, sem reservas”. Isso é gratidão. Gratidão não é a hipocrisia das palavras. Gratidão é uma completa obediência a Cristo já que Ele pagou o preço pelo qual nós fomos salvos e, por isso, é o nosso Senhor. Uma pessoa realmente grata pelo presente da salvação que recebeu devotará sua vida a Deus em completa obediência e esta não lhe parecerá pesada. Não ficará questionando as ordens divinas, tentando relativizá-las, mas se subordinará inteiramente a Deus e perguntará ainda o que poderá fazer em resposta a esse amor tão grande e imerecido. Perguntará e responderá como o salmista: “Que darei ao Senhor por todos os Seus benefícios? Tomarei o cálice da salvação e invocarei o nome do Senhor. Cumprirei os meus votos ao Senhor, na presença de todo o Seu povo.”

O detalhe é que esse leproso que expressou gratidão era samaritano. Talvez isso ajude a explicar sua atitude. Os outros nove talvez por serem judeus imaginassem que eram dignos da cura e que a única dificuldade que tinham na vida era lepra, resolvido isso estavam muito bem. Mas o samaritano entendeu que sua necessidade era muito maior do que a cura. Ele precisava de salvação. A atitude dos nove fechou-lhes o céu. A atitude do samaritano fez dele um salvo.

A oferta graciosa de Cristo é para todos, mas apenas aqueles que com fé se aproximam de Deus serão salvos. Muitos se contentam com um relacionamento superficial com Jesus, desejando apenas bênçãos materiais. Entretanto a salvação só pode ser acessada por pessoas que com fé se dirigem a Deus e entregam plenamente sua vida em gratidão irrestrita.

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